Subir a pique sem perder a estabilidade: a lição do Atlético
Depois de um período negro que culminou em insolvência em 2017, o Atlético Clube de Portugal reorganizou-se e começou do zero. Seis anos e três subidas de divisão depois, a equipa de Alcântara está em segundo lugar na série B da Liga 3 e sonha com a subida aos campeonatos profissionais, já esta temporada. Contudo, a estabilidade financeira é a principal preocupação de quem não quer regressar ao abismo.
Cinco épocas consecutivas na Segunda Liga no início da década passada não foram suficientes para o Atlético se solidificar nos campeonatos profissionais, acabando por descer de divisão em 2016, já em graves condições económicas. O passivo de cerca de um milhão de euros antecipava o início do fim, que dois anos depois se materializou na declaração de insolvência da SAD e na desistência do clube da 1.º divisão distrital de Lisboa
Depois da tempestade, o céu sobre o Estádio da Tapadinha começou a ficar mais limpo em 2019, ano da primeira subida do “novo” Atlético Clube de Portugal. Seguiram-se três épocas na principal competição da Associação de Futebol de Lisboa, até uma campanha com apenas duas derrotas em 2021/2022, a abrir a porta das competições nacionais.
O objetivo inicial para a época seguinte assentava em construir bases para que a equipa não caísse no círculo vicioso de descer e subir de divisão constantemente. O entrosamento de um plantel que era praticamente o mesmo foi a chave para que os alcantarenses se intrometessem na luta pela subida, alcançada após uma segunda fase sem qualquer derrota. A vitória por 3-0 contra o Vianense no Estádio do Jamor garantiu a conquista do campeonato de Portugal e abriu a porta da Segunda Liga à grande figura da equipa, Lénio Neves. Apesar de ser médio centro de formação, foi na ala esquerda que o médio de 23 anos explodiu, com 13 golos em 33 jogos que lhe valeram uma mudança para o Lank Vilaverdense.
O aumento da exposição mediática associada à subida da Liga 3 tornou o Atlético numa boa montra para jovens talentos, com destaque para Francisco Lemos, guarda-redes emprestado pelo Estoril Praia e que foi chamado por Rui Jorge à seleção nacional de sub-21, na última convocatória.
Os jogadores chegam, potenciam-se e saem para patamares mais elevados, enquanto uma figura vai ficando a cimentar o seu legado no banco de suplentes do Estádio da Tapadinha: Tiago Zorro. Ao treinador de 42 anos é dado muito crédito pelo ressurgimento do Atlético, desde que chegou ao clube, em 2021. A flexibilidade é uma das características que o diferencia pela forma como adaptou o seu modelo de jogo aos intervenientes ao seu dispor e à competição em que se encontra. O futebol ofensivo, que privilegiava trocas constantes de posição em 21/22 e 22/23, deu lugar a um sistema mais sólido defensivamente com um 5x3x2, nesta temporada.
A experiência (média de idades de 28 anos) é outro fator que ajuda a explicar o bom início de campeonato para uma das equipas com menor orçamento da competição. Ainda assim, a subida à Segunda Liga continua apenas na gaveta dos sonhos, já que o principal objetivo da direção é estabilizar nesta competição antes de ambicionar outros voos.
A situação financeira do clube acompanhou a evolução desportiva com a entrada de um investidor norte-americano no seu capital, sempre com a garantia de autonomia por parte da direção. Os erros de um passado desportivo e económico negro servem de aprendizagem para a definição de objetivos realistas e que procuram estabilizá-lo nos campeonatos nacionais.
Uma das principais fontes de receita prende-se com a bilheteira que tem registado números bastante animadores, nos últimos 3 anos. A mobilização de grupos mais jovens fora de Alcântara para apoiar e participar no dia-a-dia do Atlético é um sinal de que, numa cidade dominada pelo verde e o vermelho, o histórico azul e amarelo também tem lugar no coração de alguns lisboetas.
Depois do União de Leiria e do Belenenses, o Atlético Clube Portugal pode ser o próximo histórico a voltar aos palcos de onde nunca devia ter saído.
Fonte da capa: GeiceFM
Artigo revisto por Margarida Pedro
AUTORIA
Desde miúdo que tinha duas paixões, a escrita e o desporto. Ao crescer percebi que combinar as duas áreas e tornar-me jornalista desportivo era o meu objetivo de vida. Gosto de dizer que fui criado por Pablo Aimar, Lionel Messi e Matías Fernández, dada a quantidade de horas que passei a vê–los distribuir classe e sonho pelos relvados. Tenho uma lista com duas páginas de estádios míticos que quero visitar e sim, a Bombonera está em primeiro lugar.