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Um Grito pela Saúde das Mulheres

Em cada mulher há uma essência de beleza e de força que harmoniza com a própria natureza. Como as ondas que dançam com a lua ou as flores que se abrem com o sol, cada mulher é um ser único e profundamente conectado ao ciclo da vida. A mulher é o ponto onde a natureza e a humanidade se encontram. E, assim como devemos cuidar da nossa Terra, também devemos cuidar de todas as mulheres, começando por lhes garantir os direitos fundamentais à saúde sexual e reprodutiva.

Fonte: Feature Shot

Infelizmente, em muitos países em desenvolvimento, esse direito é negado. Segundo o Fundo de Emergência Internacional para Crianças das Nações Unidas (UNICEF), cerca de 800 mulheres morrem todos os dias por complicações relacionadas com a gravidez e com o parto, sendo que a maioria se concentra nos países em desenvolvimento. A verdade é que este problema poderia ser resolvido em grande parte se as mulheres tivessem acesso a cuidados de saúde adequados, assim como a assistência durante o parto por parte de profissionais de saúde qualificados, como médicos, enfermeiros ou parteiros.

Tomemos como exemplo o Afeganistão, onde a taxa de mortalidade materna é uma das mais altas no mundo. As mulheres afegãs enfrentam muitos obstáculos no que toca ao acesso a cuidados de saúde: desde a falta de instalações médicas até às barreiras culturais e sociais. Por um lado, são muitas as mulheres que não têm permissão para ver um médico do sexo masculino e, por outro, a escassez de médicas também é uma realidade persistente. Além disso, a educação sexual é praticamente inexistente, deixando muitas mulheres “às escuras” quanto ao conhecimento dos seus corpos e aos cuidados de saúde necessários.

Na África Subsariana, a situação é igualmente problemática. Grande parte das mulheres não tem acesso a métodos contracetivos e, como consequência, enfrentam uma alta taxa de gravidez na adolescência. Além disso, a mutilação genital feminina ainda é praticada em alguns países – uma tradição que fere não apenas o corpo da mulher, mas também a sua alma. Apesar dos esforços internacionais para extingui-la, esta prática cruel continua a ser uma realidade para muitas mulheres africanas, que ficam com uma cicatriz eterna.

Fonte: EEAS

Não posso deixar de mencionar a situação na Índia, onde a realidade, sobretudo nas áreas rurais, é extremamente preocupante: as pouquíssimas infraestruturas hospitalares são de difícil acesso para grande parte das mulheres e os sistemas de saúde são inadequados, caracterizando-se pela presença de profissionais não qualificados e pela realização de partos em condições arriscadas. Uma mulher indiana, mencionada no blog People’s Archive of Rural India, contou: “Eu não tinha certeza de se eu e meu bebé iríamos sobreviver. Quando as minhas águas rebentaram não havia hospital à vista, nem profissionais de saúde por perto. Estava em trabalho de parto dentro de um jipe em movimento a caminho de um hospital em Shimla. Não havia maneira de eu esperar. Dei à luz ali mesmo – dentro do jipe“. Este relato é um reflexo da realidade assustadora de muitas mulheres na Índia, especialmente nas regiões com recursos limitados. Mesmo assim, este problema é apenas a ponta do icebergue numa longa lista de violações aos direitos da mulher na Índia.

Fonte: Ayush Sharma

Há mais cenários como estes em várias partes do mundo, e muitos dos quais permanecem subestimados ou que nem chegam a ser divulgados. Esta falta de visibilidade torna mais improvável a implementação de políticas eficientes e a criação de soluções para combater estes desafios.

Mas, afinal, qual é a solução? A resposta é algo complexa e envolve um longo debate sobre diversos problemas que exigem a nossa atenção. Antes de mais, sublinho a necessidade contínua de combater as barreiras culturais e sociais que impedem as mulheres de procurar cuidados. É necessário desconstruir os preconceitos de género enraizados e desafiar os estereótipos que dificultam o acesso das mulheres à saúde.

Do mesmo modo, garantir que todas as mulheres possam usufruir de cuidados de saúde de qualidade é uma obrigação incontornável. Isto requer investimentos substanciais em infraestruturas e na formação de profissionais médicos qualificados, dando também atenção à formação de médicas.

Fonte: CEPR
Fonte: Wikipedia

Adicionalmente, todas as raparigas e mulheres deveriam ter acesso a uma educação adequada sobre saúde sexual, de forma a adquirirem um maior conhecimento sobre o seu corpo, sobre o “eu”. Isto inclui ensinar sobre a contraceção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, sobre os perigos da mutilação genital feminina e sobre outros temas que podem ser relevantes.

Por fim, a presença de mais mulheres em cargos de liderança é essencial, pois são elas que podem efetivamente tomar decisões que impactem diretamente a saúde e o bem-estar feminino. As mulheres têm uma compreensão íntima das necessidades das suas semelhantes, daí ser tão importante a inclusão das suas vozes na mesa de decisões.

Cada mulher é um canto da natureza, um hino à vida e ao amor. Cuidar da saúde sexual e reprodutiva das mulheres não é apenas uma questão de direitos humanos: é uma necessidade para o equilíbrio e para a harmonia da nossa sociedade. A tarefa pode parecer difícil e a sua realização longínqua, mas recordo que qualquer mudança acontece passo a passo. Cada ação e cada conversa podem ter um grande impacto. A história já nos mostrou inúmeras vezes que a mudança é, de facto, possível. Mulheres de todo o mundo lutaram e, por fim, conseguiram conquistar liberdades antes negadas. Não devemos deixar que a magnitude do desafio nos desmotive, mas, antes, que nos inspire.

Fonte: The Guardian
1ª marcha de libertação das mulheres a 6 de março de 1971

O Nepal, por exemplo, tem vindo a reduzir significativamente os valores de mortalidade nas últimas décadas. Este progresso deve-se, inquestionavelmente, ao investimento em serviços de saúde materna, à formação intensiva de parteiras e à implementação de clínicas móveis. Estas conquistas são motivo de celebração e devem ser aplaudidas, pois representam passos na direção certa. É um exemplo de que mudanças positivas são possíveis, quando há um compromisso com a saúde e com o bem-estar das mulheres.

O Dia Internacional da Luta pelo Acesso à Saúde da Mulher não é apenas uma data no calendário, mas um apelo para que todos nós, independentemente do nosso sexo, raça ou localização geográfica, nos unamos nesta causa tão fundamental. Seja apoiando uma organização que trabalha pelos direitos à saúde das mulheres ou educando-se a si próprio e aos outros sobre a importância da saúde sexual e reprodutiva. A verdade é que cada um de nós tem a capacidade de contribuir.

Estamos diante de uma batalha contra a injustiça, em busca da justiça; contra a desigualdade, em busca da igualdade. Nesta missão, lembremo-nos de contemplar a mulher, não apenas como um indivíduo, mas como um ser da natureza que é também uma fonte da vida. Carregamos a responsabilidade de cuidar, pois, ao zelarmos pela mulher, estamos a zelar pela vida na sua forma mais pura e essencial. E não há tarefa mais nobre ou mais urgente do que esta.

Fonte da capa: Tempo de política

Artigo revisto por Inês Gomes

AUTORIA

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Daniela nasceu nos Estados Unidos, mas cedo se mudou para a ilha da Madeira, onde foi criada. Embarcar para a cidade de Lisboa é um primeiro passo para conquistar o seu sonho de criança: ser uma renomada Jornalista. Ambiciona criar conteúdos para grandes revistas turísticas, porque, para além da escrita, a sua paixão é viajar. São os pequenos prazeres da vida que a movem, e deseja partilhar esse olhar único sobre a vida.