Editorias, Opinião

Vítima do Sistema

Antes de começar, há que pedir desculpa aos excelsos três leitores que me leem pela prolongada ausência. Fui, pois, como seria de prever, detido pelas forças secretas da polícia portuguesa no dia imediatamente após ter defendido com veemência exemplar a existência do Estado Islâmico na sua área de influência.

Desde então, estive sob coação da CIA, em Cuba, na prisão que o presidente Obama prometeu encerrar, mas que, por na verdade ele não ser nem de perto o homem mais poderoso do mundo, ainda tem T0 para arrendar a todos aqueles que ponham em causa a ordem mundial proliferada pelos sempre isentos media ocidentais.

Como o desemprego faz parte do currículo da licenciatura em jornalismo, não me preocupei muito com o facto de ter perdido praticamente todo o semestre de Análise Económica à custa de uma detenção (com alguns episódios de tortura e tentativas de sodomização por parte do Jack, um guarda prisional que vê nos prisioneiros – na sua maioria “terroristas” muçulmanos – o seu harém para gozo pessoal quando o Benfica não joga na Luz), nas Caraíbas.

Todavia, ainda tive alguma sorte. Porque eu sou um homem de quem as estrelas e os astros e lá mais quem tenha essa tarefa de […] tomam conta. Mais sorte tive ainda porque o regime dinamarquês ainda não iniciou a expansão e anexação para os territórios do sul, motivo pelo qual os meus brincos (que mais não são que dois belos diamantes rubros, que envergo em cada uma das orelhas, à madeirense, cortesia de um amigo que tenho numa terra onde é proibido ler livros – e que por acaso é provavelmente um dos maiores recetores de Toyotas Hiace dos anos 1980/90, furtadas aos reformados portugueses, para servir de candongueiros), não foram apreendidos, numa espécie de revanche mal feita – talvez seja melhor chamar-lhe revivalismo; ou, mais adequado aos tempos, nazismo vintage (colheita de 2015) – de umas ideias que um austríaco pintor teve nos loucos anos 20.

Podia, portanto, ter sido pior. Afinal, chego a Portugal e está tudo na mesma. Ainda bem, presumo. Santuário da mesmice, Portugal, melhor, Reino Unido de Portugal e dos Algarves (mais uns rochedos no meio das sardinhas), está exata e tal e qual o deixei quando, por ordens da autoridade superior, fui enviado em degredo para as praias de um enclave comunista do coração do capitalismo (mesmo em cheio no ventrículo direito do Tio Sam – já não lhe basta o colesterol, o raio do moço ainda tem de levar com isto tudo e mais uns Trumps). No governo de Portugal está uma pseudo-esquerda, uma caranguejola política, que agita umas bandeirolas da esquerdalha radical mas que, na verdade, acredita em tudo o que o anterior governo (aquele que diziam ser de extrema direita como os polacos) perfilha. Estamos, já disse, iguais.

Na presidência, quarenta e dois anos depois, o Marcelo volta ao poiso. Teria mais piada se fosse mesmo para o lugar de primeiro-ministro, mas assim também serve. Confesso que entre o comentador ou o concorrente da Quinta das Celebridades, ainda era capaz de escolher a Júlia Pinheiro, ou mesmo a Teresa Guilherme (aquilo de que Portugal precisa é uma mulher à frente do seu destino. Já tive várias à frente do meu e correu sempre bem… Pensando melhor, talvez não, «mas isso agora não interessa para nada», diria a apresentadora, enquanto entrava o separador do intervalo).

Um dia hei-de aprender a escrever crónicas. Depois, lá quando ele chegar, prometo, passarei a fazer sentido.

O Pedro Miranda escreve ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico.