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A entrevista a Harry e Meghan Markle: tudo menos um conto de fadas

A entrevista ao casal Harry e Meghan estreou nos Estados Unidos, no domingo (dia 7), durante a madrugada de Portugal Continental, que equivale ao horário nobre televisivo dos EUA. Numa entrevista guiada por Oprah Winfrey, falou-se do passado, presente e futuro do casal.

Harry e Meghan Markle deram uma entrevista polémica e reveladora a Oprah Winfrey. Houve tempo para falar um bocadinho sobre tudo, mas as revelações mais polémicas vieram de Meghan, chegando mesmo a deixar Oprah chocada. Na entrevista emitida pela CBS, que ainda não está disponível em Portugal, a duquesa de Sussex voltou a ter voz e usou-a para falar sobre a saúde mental, solidão e racismo.

Racismo 

Archie, o filho primogénito do casal, foi, mesmo antes de nascer, um tema sensível no seio da família real. Meghan revelou que, enquanto ainda estava grávida, se apercebeu de que as regras iam ser diferentes para Archie. A criança iria nascer sem o título, o que implicaria menos proteção.

O título mais importante que alguma vez terei é ‘mãe’. Mas a ideia de o nosso filho não estar seguro e também a ideia de o primeiro membro de cor desta família não ser titulado da mesma forma que os outros netos…”, desabafou Meghan. 

A cor de pele de Archie foi um dos tópicos mais sensíveis e revoltantes de que se falou durante a entrevista, isto porque a mãe, Meghan, garantiu que surgiram conversas sobre o quão escuro seria um bebé seu. A duquesa não apontou nomes e Harry também não fez questão de desenvolver o tema. “Na altura, foi embaraçoso, fiquei um pouco chocado”, recordou, enquanto relembrou que esta conversa aconteceu logo no início da relação com Meghan. Dada a sensibilidade do tema, Oprah Winfrey veio esclarecer os telespetadores e a imprensa, afirmando que o príncipe Harry garantiu que estes comentários não partiram da Rainha, nem do Duque de Edimburgo.

Harry e Meghan com o primeiro filho, Archie
Fonte: Getty Images

Saúde Mental e Solidão

Meghan Markle, ex-atriz de sucesso que defendeu desde o início o direito de as mulheres terem uma voz, foi silenciada desde o início. “Desde que o mundo soube que eu e o Harry estávamos juntos, todas as pessoas que me eram próximas receberam uma diretiva muito clara de não fazerem qualquer tipo de comentário”, recorda. Isto, a solidão e a perseguição constante da imprensa britânica mexeu com o seu psicológico e pesou muito no que toca à sua saúde mental. “Simplesmente já não queria viver mais. Esses pensamentos eram constantes e muito claros, reais, constantes e assustadores”, revelou. 

Meghan sempre aceitou o facto de o príncipe Harry ter de se ausentar várias vezes, mas aceitar não a ajudava a sentir-se menos sozinha. “Não me sentia sozinha com ele”, reforça, mas o facto de não lhe ser permitido fazer quase nada, como almoçar com os amigos, gerou a solidão, onde a duquesa se viu presa durante muito tempo. Um dos membros da família real chegou mesmo a pedir à duquesa que se escondesse durante uns tempos.

Fonte: Getty Images

Mas nem sempre foi assim; aliás, Meghan acreditava que no início, quando lhe pediam que não contasse a ninguém que namorava com Harry, a estavam a proteger. Mas acabou por se aperceber do que realmente se estava a passar:

Não só não estava a ser protegida, como também estavam dispostos a mentir para proteger outros membros da família, enquanto não estavam dispostos a dizer a verdade para me protegerem a mim e ao meu marido”. 

Depois de a duquesa partilhar com o marido, Harry, os pensamentos que tinha e a solidão que sentia, este procurou ajuda dentro do seio da família real, mas viu todas as portas a fecharem-se. “A minha maior preocupação era que a história se repetisse. E estava a ver a história a repetir-se”, realçou Harry, comparando a situação de Meghan à situação da sua mãe, a princesa Diana. 

Desde o início que Meghan, graças ao seu espírito livre e à sua aparente dificuldade em adaptar-se a tudo aquilo que envolvia a família real, é comparada com a mãe de Harry, a princesa Diana, que morreu depois de um trágico acidente de carro. As duas trouxeram temas importantes para a praça pública: a falta de apoio da família real, a saúde mental, a perseguição dos media, a solidão e o silêncio obrigatório. A diferença é que Diana deu esta entrevista sozinha, em 1995, ao jornalista Martin Bashir, da BBC, enquanto Meghan fez estas declarações agora, no dia 7 de março, a Oprah Winfrey e sempre com o apoio do marido, Harry. 

Diana e Meghan
Fonte: Getty Images

Tal como aconteceu com Diana, também Meghan começou a ser posta de parte pela família depois de uma viagem até à Austrália, onde todos perceberam quem era verdadeiramente Meghan Markle.

Foi a primeira vez que a família viu como ela era incrível no trabalho. Isso trouxe de volta as memórias”, relembrou Harry, mencionando a mãe, que passou a ser muito acarinhada pelo povo depois da viagem que fez com o príncipe Charles em 1983, à Austrália. 

A Firma

Durante a entrevista, Meghan fez questão de esclarecer que a rainha “sempre foi maravilhosa”. “Adorei estar na sua companhia” e “foi sempre calorosa e convidativa e muito acolhedora”, disse Meghan, esclarecendo que a rainha não estava envolvida nas declarações polémicas que acabara por fazer. Posto isto, garantiu que há uma diferença entre a família real e aquilo a que chama “firma”, isto é, as pessoas e os negócios que envolvem a família real. 

A Rainha Isabel II ao lado de Meghan e Harry
Fonte: Getty Images

Ainda houve tempo para esclarecer uma polémica que envolvia a cunhada, Kate Middleton. A imprensa britânica revelou que Meghan tinha alegadamente feito Kate chorar, algo que aconteceu exatamente ao contrário, revelou Meghan. “Alguns dias antes do casamento, [a Kate] ficou perturbada com os vestidos das meninas das alianças e isso fez-me chorar”, contou Meghan. Oprah aproveitou o esclarecimento e questionou-se sobre a razão pela qual Kate não veio a público esclarecer a situação, ao que Meghan respondeu: “Boa pergunta!”.

Kate Middleton e Meghan Markle
Fonte: Getty Images

O falso conto de fadas

As revelações que o casal fez são suficientes para perceber que fazer parte da família real britânica não é um conto de fadas ou pelo menos não o é a 100%. 

O casamento que quebrou várias tradições foi apenas um espetáculo criado para os ingleses, onde Meghan e Harry foram os atores. O casal revelou que se casou três dias antes:

Casámo-nos três dias antes. Ninguém sabia disto, mas chamámos o arcebispo [de Cantuária] e dissemos apenas: ‘Esta coisa, este espetáculo é para o mundo, nós queremos a nossa união entre nós”. 

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Renúncia aos deveres reais

Em janeiro de 2020, o príncipe Harry e Meghan Markle perderam os títulos reais e deixaram de receber a soma de dinheiro público para cumprir os seus deveres como membros da família real britânica, depois de terem anunciado oficialmente que se iam afastar dos deveres reais. Isto aconteceu maioritariamente devido às conversas sobre o tom de pele do filho do casal e também graças ao facto de não terem apoiado Meghan depois do seu pedido de ajuda relativamente à sua saúde mental.

Agora, Harry esclarece a situação: “Nunca enganei a minha avó, tenho demasiado respeito por ela”. O príncipe sentia-se encurralado e decidiu afastar-se numa tentativa de conseguir respirar, “mas nunca saímos [da família]”, garantiu. Harry e ainda mostrou compaixão com o irmão, o príncipe William, e o pai, o príncipe Charles, que “estão encurralados dentro do sistema” e “não podem sair”, como referiu. 

A relação com o pai também foi tema de conversa durante a entrevista. Harry garantiu que continuou a ligar à família e a tentar manter o contacto com todos, algo que parece ter resultado com os avós. O príncipe ligou ao pai até ele deixar de atender as suas chamadas, confessando estar “realmente dececionado, porque ele já passou por algo semelhante, sabe como é a dor…e o Archir é seu neto”. 

As reações

A entrevista foi de tal forma histórica e reveladora que a família real não se podia esconder dentro do Palácio de Buckingham sem comentar. 48 horas depois da entrevista, o Palácio emitiu um comunicado, citado pela Sky News, onde apelidam as acusações racistas sobre a cor de pele de Archie “preocupantes” e garantiram que vão ser investigadas.

Toda a família está triste ao saber como os últimos anos foram desafiantes para Harry e Meghan”, disse um porta-voz do palácio.

Ainda dentro do seio da família real, o príncipe Harry também fez questão de defender a família das alegadas conversas racistas que Meghan revelou. “Não somos uma família racista”, reforçou o príncipe. William e Kate estiveram presentes num evento, onde foram questionados pela Sky News sobre a entrevista do irmão e cunhada, ao que o príncipe William respondeu que ainda não conversou com Harry, mas que tencionava fazê-lo.

O príncipe William e o príncipe Harry
Fonte: Getty Images

Muitos foram aqueles que em solo britânico teceram comentários negativos sobre a entrevista. O jornalista Piers Morgan publicou vários tweets a criticar o casal:

Esta entrevista é um desrespeito absoluto pela Rainha e pela Família Real. Eu espero todo este nonsense vil, destrutivo e egoísta da parte da Meghan Markle – mas o Harry deixá-la derrubar assim a sua família e a Monarquia é vergonhoso”, acrescentando que o casal “passou duas horas a deitar para o lixo tudo aquilo que a rainha defende e para o qual trabalha, fingindo que a apoiam”.

Apesar das críticas, algumas figuras públicas fizeram-se ouvir em defesa do casal, mas mais especificamente de Meghan. Serena Williams, tenista e amiga próxima de Meghan, utilizou o Twitter para a defender: “Meghan Markle, a minha amiga altruísta, vive a sua vida – e lidera pelo exemplo – com empatia e compaixão. Ela ensina-me todos os dias o que significa ser verdadeiramente nobre”. A tenista norte-americana Billie Jean King também defendeu Meghan, aplaudindo o facto de esta ter tido coragem para falar sobre a sua saúde mental. 

Meghan Markle e Serena Williams
Fonte: Getty Images

A Casa Branca também não ficou em silêncio. Jen Psaki, a secretária de imprensa do Governo americano, garantiu que Joe Biden, o presidente americano, admirava a coragem do casal.

Para qualquer um se apresentar e falar sobre as suas próprias lutas com a saúde mental e contar a sua própria história pessoal, isso requer coragem, isso certamente é algo em que o presidente acredita e ele falou sobre a importância de investir em muitas dessas áreas que eles estão comprometidos com o futuro também”, contou Psaki.

O Futuro

Harry foi quem deu a boa nova: o casal está à espera do segundo filho, que, agora, sabemos que é uma menina. Depois de um aborto espontâneo sofrido em Julho de 2020, o casal está agora à espera de completar a sua família que, por enquanto, é de 5: “nós os quatro e os nossos dois cães”, contou Harry.

O casal instalou-se na Califórnia, onde está há quase um ano a tentar construir aquilo que ainda pode ser um verdadeiro conto de fadas, mas, desta vez, longe da opinião pública e da pressão de fazer parte da família real britânica.

Créditos: Misan Harriman

Artigo revisto por Ana Rita Sebastião

Fonte da foto de capa: CBS

AUTORIA

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Estudante de Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social, onde se encontra feliz e com uma agenda cheia. Não nega um bom livro e muito menos negará uma boa série. É provável que a encontrem a chorar baba e ranho depois de um bom filme de romance. Natural da Invicta, mas veio parar à Ericeira.