Cinema e Televisão, Editorias

Batman vs. Super-Homem: O Despertar da Confusão

Captura de ecrã 2016-04-10, às 19.54.56

Zack Snyder junta dois dos maiores super-heróis da banda desenhada em Batman vs. Super-Homem, um filme que tinha o potencial para ser épico mas que fica longe desse estatuto. O enredo tem uma estrutura pobre, as personagens estão mal construídas e o resultado final é confuso. O sucesso que se tem verificado a nível de bilheteiras não se reflete nas críticas: essas têm sido na sua maioria negativas.

A maior falha deste filme reside no guião. A sua grande preocupação é construir uma ponte entre este filme e os futuros capítulos do universo cinematográfico da DC Comics, acabando por negligenciar a construção de narrativas coesas para as suas personagens e para o filme num todo.

Snyder conta-nos a história de um Batman que, pelos seus motivos egoístas, sente raiva de Super-Homem e de um Super-Homem que parece ter perdido a fé na humanidade. É um ponto de partida interessante que infelizmente se perde ao longo do caminho. Isso é evidente no desfecho: o lógico seria Batman ver para além da sua raiva e sacrificar-se, já Super-Homem devia reencontrar a sua fé devido ao sacrifício do morcego de Gotham. No entanto, o que acontece é exatamente o oposto, o que acaba por ser frustrante.

O evento que dá mote ao filme, o conflito entre os heróis, está brilhantemente executado – as coreografias e os efeitos especiais são soberbos. Apesar de só acontecer no último quarto do filme, vale a pena a espera, pois é aquilo que todos queremos de uma sequência de ação. Contudo, o culminar desta batalha é ridículo. Acontece que Wayne e Kent declaram tréguas e forjam laços de amizade porque as mães têm o mesmo nome: Martha.

O que nos leva a Lex Luthor, ou como gosto de chamá-lo, o maestro. Luthor orquestra todo o conflito: provoca Wayne até a raiva deste ser incontrolável e rapta Martha Kent para levar Super-Homem a lutar contra o morcego. Faz isto tudo sem que ninguém desconfie dele. E o que o leva a fazer tal coisa? Problemas por resolver com o seu pai, ódio cuja origem é desconhecida, um desequilíbrio mental… É mais um dos (muitos) elementos que geram confusão.

Mas nem tudo é mau neste filme. A sequência inicial em que revisitamos a história do jovem Bruce é um dos melhores momentos de todo o filme. A outra sequência a destacar é aquela em que Bruce, já mais velho, percorre as ruas de Metrópolis no dia em que o mundo conheceu o Super-Homem, o General Zod e a destruição que estes podiam causar. Para além disso fiquem atentos à cena do Capitólio: é explosiva e deslumbrante.

Jeremy Irons interpreta Alfred e é o alívio cómico do filme: as interações dele com Affleck, acreditem ou não, são os momentos mais levianos do filme. Holly Hunter como Senadora Finch é fantástica e consegue roubar qualquer cena ou, pelo menos, exigir a atenção do espectador.

Lois Lane é incansável, fascinante e inspiradora. Ela desmascara Lex Luthor, corre para todos os perigos sem medo e dessa forma garante a sua presença em todos os momentos cruciais do filme – chega, inclusive, a salvar o Super-Homem. Por vezes os guionistas caiem no erro de a retratar como uma donzela em apuros, mas quando isso acontece já a reconhecemos como a heroína que ela é. E, caso ainda não saibam, Amy Adams é genial.

E depois temos Diana Prince, também conhecida por Mulher-Maravilha. É misteriosa, cativante, super forte e a única pessoa capaz de sorrir durante uma batalha. A sua participação no filme é pequena mas Gal Gadot convenceu-me de que é perfeita para fazer o papel desta personagem mítica. As boas notícias? A Mulher-Maravilha volta em 2017 num filme a solo.

Não posso deixar de elogiar Ben Affleck: a sua experiência torna-o a pessoa ideal para desempenhar este papel, e se isso não transpareceu deve-se ao guião e não ao ator. O seu Batman é diferente e pode ter futuro se construírem narrativas mais racionais.

Sobre Henry Cavill não tenho muito a dizer. Acho-o tão convincente que o que vejo é Super-Homem. A escolha de Jesse Eisenberg para o papel de Lex Luthor é daquelas decisões de casting a que torcemos o nariz: ele tem um ar muito inocente para fazer de vilão. Percebemos rapidamente – especialmente quando o ouvimos falar – que a decisão foi bastante acertada, diferente mas acertada. Jesse é capaz de calçar os sapatos do maestro e espero voltar a vê-lo no futuro.

A DC Comics continuará a desenvolver o seu universo no mundo da 7ª arte, tendo já garantido a produção de filmes como Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash e até mesmo Liga da Justiça. Mas Batman vs. Superman parece ter levantado suspeitas a respeito do rumo que esse universo pode vir a seguir. Suicide Squad – com estreia marcada para o mês de Agosto – é a oportunidade ideal para reconquistar as audiências, os críticos e salvar a honra da pátria.

Resta-nos esperar que tenham aprendido a lição e que o futuro da DC seja mais risonho (e menos confuso) que a batalha de gladiadores mais fraca do século.

AUTORIA

+ artigos