De Lisboa a Aarhus: Erasmus na Terra do Hygge
Há pouco menos de um ano, ao decidir inscrever-me no programa Erasmus, estava determinada a encontrar o sítio certo. Intrigada por tudo o que tinha lido sobre o estilo de vida e os métodos de ensino inovadores dos países escandinavos, foi a Dinamarca o país que mais me chamou a atenção. Em retrospetiva, sinto-me grata por ter seguido esse instinto e por ter sido aceite na minha primeira instituição de escolha. Foi uma decisão que não mudaria, apesar do frio por vezes ser um desafio, especialmente para uma portuguesa habituada ao sol e ao calor.
O dia-a-dia na cidade dinamarquesa onde calhei – Aarhus – é certamente diferente. A vida aqui flui de forma harmoniosa. Este ritmo tranquilo é uma característica distintiva da cidade, palpável em cada canto. Para começar, o trânsito é praticamente inexistente; há mais na ciclovia do que propriamente na estrada principal. Aarhus é uma cidade pequena e acolhedora, o que, entre muitos outros aspetos positivos, tem a vantagem da rapidez com que se chega aos sítios. Eu vivo no norte da cidade e demoro menos de 10 minutos de bicicleta a chegar à zona central. Aqui, a bicicleta não é apenas um meio de transporte, mas uma extensão da própria identidade dos habitantes. Pedalar pelas ruas de Aarhus tornou-se uma das minhas rotinas favoritas (embora nos últimos tempos, com os graus negativos a substituírem os positivos, tenha preferido optar pelo autocarro).
Para além disso, enquanto que em Lisboa, as pessoas percorrem as ruas da cidade pensando no sítio ao qual precisam de chegar a horas – missão que não conseguem cumprir a não ser que andem como se estivessem a participar numa maratona invisível e atropelem pessoas pelo caminho -, em Aarhus os cidadãos andam como se não tivessem onde estar. Nas ruas, observa-se uma calma deliberada, um fluxo constante, mas nunca apressado, de pessoas que parecem saber o valor de cada momento. Existe uma apreciação genuína pelos pequenos prazeres da vida, algo que estou a aprender a valorizar. Esta tranquilidade transparece nos cafés e outros espaços públicos, onde os dinamarqueses se reúnem, não só para partilhar um café ou uma refeição, mas para verdadeiramente se conectarem uns com os outros.
Neste cenário, é impossível ignorar a presença do famoso hygge, uma palavra dinamarquesa que encapsula um sentido de aconchego, conforto e satisfação. Em Aarhus, o hygge é mais do que uma mera palavra – é uma experiência vivida em cada esquina da cidade, especialmente nos meses mais frios. Nos cafés aconchegantes, as velas acesas em cada mesa criam uma atmosfera acolhedora, um convite para esquecer o frio cortante. Estes pequenos toques, como a luz suave das velas ou a presença de mantas para colocar sobre os ombros, são manifestações do hygge que tornam os espaços públicos mais do que simples locais de passagem, mas sim refúgios de calor e felicidade.
O hygge estende-se também às casas dos dinamarqueses. Ao visitar a casa de uma pessoa da terra, é fácil ser envolvido pela sensação de conforto e simplicidade. Os móveis funcionais, mas aconchegantes, com cores suaves e iluminação indireta contribuem para criar um ambiente tranquilo, ideal para desfrutar das longas noites de inverno.
O estilo de vestuário dos dinamarqueses prova que o hygge transborda para além das paredes das casas e dos cafés, equilibrando a funcionalidade com a elegância. Em Aarhus, nota-se que as pessoas optam por roupas que combinam conforto e estilo, adaptadas ao clima gelado, mas sem sacrificar a aparência. No inverno, os dinamarqueses mostram uma habilidade notável de vestir camadas – uma arte em si. Começam com bases térmicas, seguidas por camadas de roupas mais quentes, como malhas grossas, terminando com casacos funcionais, mas estilosos – não se trata apenas de uma necessidade contra o frio, mas de uma expressão de individualidade e bom gosto. Os acessórios também desempenham um papel importante no vestuário dinamarquês. Gorros, cachecóis e luvas são muito mais do que adições práticas – são peças-chave que complementam o conjunto. Há uma preferência por cores neutras ou suaves, criando um visual coeso e agradável aos olhos. As escolhas de moda aqui são guiadas pela praticidade, mas sempre com um olhar atento para a estética – não há como não admirar.
Viver em Aarhus e experimentar o hygge tem sido uma lição valiosa sobre como encontrar alegria e contentamento mesmo nos momentos mais simples. A cidade não é apenas um lugar onde estudo, mas um espaço de crescimento pessoal e cultural. Se há coisa que aprendi, foi a apreciar a vida de uma maneira mais consciente e a importância de criar espaços sossegados na rotina agitada. Este estilo de vida, tão diferente do que estava habituada, tornou-se uma parte integrante da minha experiência de Erasmus e algo que pretendo levar comigo para Portugal. Ao retornar à minha terra, levo comigo não só memórias inesquecíveis, mas lições valiosas sobre como viver uma vida mais gratificante.
Fonte da capa: Momondo
Artigo revisto por Matilde Ricardo
AUTORIA
Daniela nasceu nos Estados Unidos, mas cedo se mudou para a ilha da Madeira, onde foi criada. Embarcar para a cidade de Lisboa é um primeiro passo para conquistar o seu sonho de criança: ser uma renomada Jornalista. Ambiciona criar conteúdos para grandes revistas turísticas, porque, para além da escrita, a sua paixão é viajar. São os pequenos prazeres da vida que a movem, e deseja partilhar esse olhar único sobre a vida.