Cinema e Televisão

Death to 2020: Uma comédia sobre o pesadelo que ainda não acabou

Death to 2020 é um filme original da Netflix que sumaria todos os eventos principais deste ano inesquecível para todos nós, especialmente pelo sentido negativo. Um olhar mais cómico sob “a perspetiva dos comentadores mais mal-informados de sempre”, este filme tem a duração de 1 hora e 10 minutos e é dos criadores de Black Mirror, com uma produção de Charlie Brooker. Lançado no dia 27 de dezembro de 2020, conta com um elenco memorável e carismático, como Samuel L. Jackson e Leslie Jones, e faz a sua audiência rir dos momentos mais tristes do ano.

O filme começa por apresentar Dash Bracket (Samuel L. Jackson), um repórter do jornal New Yorkly News e, como não sabe o propósito da entrevista, pergunta. Espantado fica ele por saber que vai fazer uma retrospetiva do ano que ninguém quer recordar, começando pelos fogos que aconteciam no “traseiro do planeta”, na Austrália. Estes fogos e as alterações climáticas levaram a uma conferência na Suíça, onde o repórter acaba por comparar Greta Thunberg a Billie Eilish. Porquê? Porque ambas são “adolescentes que se tornaram famosas apesar do facto de só dizerem coisas deprimentes”. E é este sentido de humor que será prolongado até ao final do filme.

Entretanto, enquanto o mundo ardia, um Professor de História com o nome Tennyson Foss (Hugh Grant) esclarece o porquê de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estar a enfrentar a “407ª mais histórica crise da sua presidência”: um julgamento de impugnação. Contudo, o Presidente precisava de uma distração de si mesmo e fez com que Soleimani, um general iraquiano, fosse morto. Isto quase que começou uma Terceira Guerra Mundial e a Humanidade ia apenas a meio de janeiro.

As personagens principais do filme. Fonte: Observador

Depois de ser apresentado o Brexit e de o Primeiro Ministro, Boris Johnson, ser chamado espantalho, vem a querida por todos Rainha Isabel I (Tracey Ullman). Ela conta onde estava quando soube que o duque e a duquesa de Sussex tinham renunciado aos seus títulos de família real e, mais tarde, faz de conta que não os conhece. Foi mais ou menos por esta altura que chegou então o mais temível vírus do nosso século, o novo Coronavírus.

É introduzido à história um cientista, Pyrex Flask (Samson Kayo), que tenta desvendar como é que o vírus se instalou no primeiro hóspede. Para ele, uma senhora teve relações sexuais com um morcego e, ao ficar com o líquido dentro dela, originou, então, a infeção. Teoria realista, não é?

Mas, enquanto o vírus se propagava ainda em pequenas dimensões, aconteceu, então, a tão esperada premiação de atores e filmes: os Oscars. O repórter já mencionado anteriormente enumera todos os filmes que estão na premiação e chega-se à conclusão de que são filmes com um elenco apenas de uma cor: branco. Até faz a questão de dizer que no filme 1917, apesar de ser nesse mesmo ano que o filme se passa, é também o número de pessoas brancas que lá estão inseridas. Outch.

Chegam, então, duas mulheres à história: Jeanetta Grace Susan (Lisa Kudrow), uma porta-voz não oficial que aparece quando surge a polarização da América, com apoiantes de Joe Biden ou de Donald Trump; e Kathy Flowers (Cristin Milioti), que diz ser uma mãe comum, mas que claramente se nota ser apoiante de Trump, dando ênfase também ao site Ivory Fist. É introduzida ainda a psicóloga Maggie Gravel (Leslie Jones), que diz que os extremistas estão piores que nunca.

Tracey Ullman no papel de Rainha Isabel I. Fonte: Vox

E é então em março de 2020 que o novo Coronavírus se espalha pelo mundo inteiro. É dado um grande protagonismo a este vírus durante todo o filme, pois foi o acontecimento histórico que toda a Humanidade viva neste século presenciou. Pessoas famosas começaram a ser infetadas, como, por exemplo, Tom Hanks, e Nova Iorque foi uma das primeiras cidades a sentir o grande impacto deste vírus. O cientista afirmou que, como o vírus passava de pessoas para ícones, a probabilidade de Deus também ficar infetado era grande, já que ele se situava na categoria de alto risco. Grandes mentes, por vezes, não são tão grandes, ouvi dizer…

Depois de inúmeros acontecimentos relatados, chega, então, em maio de 2020, o protesto BLACK LIVES MATTER. George Floyd morreu por baixo de um joelho de um polícia branco, enquanto dizia “I can´t breathe” (“eu não consigo respirar”). Isso uniu o mundo inteiro em protestos contra as forças autoritárias e contra as pessoas racistas no geral, porque, enquanto os quatros polícias no local do crime não viram George Floyd como um ser humano, o mundo viu. O repórter Dash Bracket diz ainda que, por um lado, prefere o Coronavírus à polícia, pois este não finge que veio ao nosso encontro para nos ajudar.

Muro pintado com o protesto “BLACK LIVES MATTER”. Fonte: Pew Research Center

Por esta altura, a tecnologia chega em força. Zoom, Netflix, TikTok, YouTube… todas estas companhias cresceram e lucraram ainda mais com os lockdowns que existiam no mundo inteiro. Até Joe Biden fez uma campanha online! E, por falar em Joe Biden, este tomou uma decisão que espantou todo o mundo: se fosse eleito Presidente dos Estados Unidos da América, Kamala Harris seria a sua Vice-Presidente. Mulher, negra e filha de pai americano e mãe asiática, Biden e Harris começavam a conquistar o coração dos americanos e a levantar barreiras, pouco tempo antes das eleições. Com isto, Donald Trump testa positivo para o Coronavírus. O karma é “tramado”.

As campanhas continuaram e a psicóloga Maggie Gravel descreve um debate entre os dois candidatos como sendo uma “batalha de rap num lar de idosos. Só que pior.”. Contudo, em novembro de 2020, o velhinho Joe Biden consegue ganhar as eleições presidenciais na América, o que deixa o velhinho Donald Trump em chamas. Este vai a tribunal apresentar o caso e pedir para contarem os votos de novo, mas, se ele conseguisse ver o futuro, sabia que devia ter estado calado…

2020 acaba como começou: com uma pandemia que até aos dias de hoje ainda está por travar; mas foi também em 2020 que a esperança retornou a casa: a vacina já estava próxima.

Há que interiorizar que este ano que passou foi um pesadelo para todos nós, mas que, acima de tudo, nos ajudou a crescer e a aprender cada vez mais. Se não foi este o teu caso, espero que, pelo menos, tenhas aprendido o mesmo que o repórter Dash Bracket aprendeu: quantos passos há entre o teu sofá e o frigorífico.

Artigo redigido por Inês Policarpo

Artigo revisto por Inês Paraíba

Fonte da imagem de capa: Filmow

AUTORIA

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Quando era pequena a Inês queria ser decoradora de interiores. Hoje, está a tirar uma licenciatura em Jornalismo. A vida tende a surpreendê-la, mas ela não se deixa surpreender. Curiosa, otimista e sempre disposta a ajudar, a comunicação veio dar uma nova perspetiva à vida de Inês: venha ela de que forma for, será sempre a melhor maneira de estar conectada com o mundo.