Música

Dex Duda: O futuro do Hip Hop português mora no Cais do Sodré.

Já foi visto como uma enorme promessa do Hip Hop português quando ainda era praticamente um pré adolescente. Da ascensão à velocidade da luz ao período da escuridão. Dex Duda retorna com “fome de sucesso”.

Dex Duda e o seu cão Drake

Com mãe portuguesa e pai norte-americano, Edward André Sousa Goltz cresceu no seio de uma família ligada aos blues e ao jazz. O pai é músico e produtor e a mãe violinista na orquestra sinfónica do Teatro Nacional S. Carlos. “Nem eu sei como é que vim aqui parar” (risos), afirma Dex Duda referindo-se ao Hip Hop. A sua irmã, Tânia Marvão, revela que as noites ao serão cessavam muitíssimas vezes ao som da guitarra acústica: “Diria que fomos uns privilegiados, crescemos com músicos na nossa casa. Por causa disso tornámo-nos ecléticos e viciados em música. Não era raro acabarmos os serões com guitarra acústica e a nossa mãe a cantar”, finaliza.

Para Tânia, o irmão mais novo tem imensas características que o distinguem. Questionada sobre uma palavra que defina Edward, esta responde com “único”, por ser literalmente o seu único irmão e por sempre ter tido certezas absolutas daquilo que queria ser – “Desde muito novo que se destaca em tudo o que se envolve e que o rodeia”.

A música está-lhe manifestamente no sangue e as terras de Uncle Sam também. É inequívoca a presença de múltiplas sonoridades nas suas músicas – desde beats com mixórdias de Led Zeppelin a Jonnhy Cash. O jovem de 22 anos articula a língua portuguesa e inglesa com naturalidade em plena simetria e proporção. As duas principais influências no Hip Hop foram Sam the Kid, 50 Cent e Eminem: “Em Portugal foi o Sam the Kid. Em miúdo já dançava as músicas dele, visto que gostava de dança. Não tinha era muito jeito. A nível internacional o 50 Cent, porque foi o primeiro álbum que comprei. O principal foi Eminem, a maior influência”.

Edward acredita que quando se é criança nem sabemos bem aquilo que estamos a ouvir, surge tudo de forma orgânica: “Começas por ouvir o rap mainstream. Eu só comecei a ouvir street rap mais tarde” – quando descobriu Tupac, Notorious B.I.G e o rap crioulo. Tinha apenas 14 anos quando começou a gravar, em 2011: “Na época, o meu primeiro material era todo escrito em inglês”. Já foi Decks Dudaa, Dudaa e agora é Dex Duda. Parece que é desta que o nome artístico veio para ficar. A escolha surgiu mais pela “estrutura do nome” visto que “hoje em dia tudo é importante”. Para Edward “não basta saber cantar”, um artista tem de ter o “pacote inteiro”, acrescenta.

O nome Dex Duda ganhou impulso no grupo 3s4, que, segundo Edward Goltz, “não foi construído para ser uma comunidade de rap”. O jovem lisboeta confessa que foi mesmo o “único que sobrou desse grupo”.A notoriedade do músico esteve presente de forma gritante numa fase embrionária da sua vida musical. Aos 15 anos já tinha publicado a mixtape “Terra-a-Terra” e já tinha uma música (Passado) com mais de oitocentos milhões de visualizações no YouTube – entre muitas outras: “Tinha uma música com quase um milhão de visualizações em 2015, outras com trezentos mil, quatrocentos mil. Sem videoclip, punha uma foto à toa e pronto”, afirma num tom de escárnio.

Dex Duda no seu estúdio

Questionado sobre a fama tão precoce, Dex Duda não sabe explicar: “Não sei mesmo a que se deveu. Sentia esse impacto, isso é verdade”. Houve um episódio caricato que o marcou muito, quando estava na Serra da Estrela em família: “Estava a descer uma rua, vejo um grupo de rapazes a olhar fixamente na minha direção. Cruzámos olhares durante vários segundos porque eu pensava que me estavam a provocar. Nisto, vou contra uns caixotes e fiquei mesmo passado. Aproximo-me dele para pedir satisfações e o rapaz pede-me para tirar uma foto comigo”. Edward nunca mais se esqueceu do confrangimento: “Até fiquei branco”.

A questão que se impõe é o porquê de um jovem visto como um dos mais promissores do rap português ter esmorecido a olhos vistos. O músico revela que os últimos três anos foram muito difíceis e que se perdeu no seu rumo: “O problema foi mesmo o facto de ter parado. Não posso culpar ninguém a não ser a mim próprio. Não me esforcei, mudei a minha sonoridade também e muita gente não conseguiu aceitar”. Decidiu voltar agora, lançando o single “Drugged out”, que está disponível no YouTube, Spotify, Apple Music e Instagram Music.

Questionado sobre o porquê do regresso, Dex Duda explica: “Perdi a fome de mais. Em vez de me focar na música fui dando valor a outras coisas menos positivas. Voltei a recuperá-la outra vez. Parece que comecei a cantar, como da primeira vez”.

Retratar a realidade é uma das máximas mais respeitadas e preservadas pela comunidade do rap. Muitos artistas são autênticos livros abertos, levando muito a sério a transparência através das suas letras. Já outros dizem abertamente que, por vezes, criam personagens ou que acham legítimo que isso se faça, numa perspetiva de criação artística. Já Dex Duda não engraça com a ideia de baile de máscaras: “Eu defendo o falar daquilo que se vive. Nunca fui dessa linha de criar personagens ou alter egos. Não gosto dessas coisas”. No entanto, levanta-se a questão da responsabilidade social e serviço público – incumbência da parte de figuras públicas com voz muito ativa na nossa sociedade. Por vezes, a referência a violência e ao consumo de drogas é parte integrante do mundo do rap: muito ao estilo do que sucedeu com a onda Rock N Roll nascida nos anos 60. Para o jovem músico a sensatez é uma parte importante, visto que qualquer ação de um músico com maior notoriedade pode ecoar com cadência e as mensagens erradas podem difundir-se. No entanto, encontra um muro de contradições no que concerne aos limites da responsabilidade moral: “Nós não somos professores, nem pais. Não estamos aqui para educar ninguém. Mas tem de haver um equilíbrio. Sê tu próprio, mas não precisas de mostrar tudo o que fazes na íntegra. Eu sei que falo de muitos assuntos desse género nas minhas músicas, mas se eu não dissesse grande parte daquilo que digo não me sentiria autêntico”

O single “Drugged Out” já está disponível em várias plataformas

 Perguntas de resposta rápida

Sendo tu um artista de tenra idade, o que é que é preciso um jovem ter para singrar num país eivado de muita oferta no Hip Hop?

“O simples. Tens de ter uma boa voz. Não é o autotune que te vai fazer bom se não tiveres o talento. Em segundo, o marketing e a imagem. Tens de ser ativo nas redes sociais. Eu subvalorizava um bocado isso e hoje em dia estou sempre dentro de tudo”.

Onde é que te vês daqui a 5 anos?

“Gosto de pensar que amanhã vou estar melhor do que hoje. Então daqui a 5 anos vou estar muito melhor do que hoje. Quero ajudar a minha mãe, comprar-lhe uma casa. Quero estar com bastante sucesso financeiro, proveniente da música preferencialmente”.

É apenas um petiz por entre as carreiras experimentadas e afirmadas no mundo do Hip Hop português, todavia já é visto como inovador e “diferente”. Para o artista e produtor Satchii Keith, Dex Duda está a trazer para o universo Hip Hop português “uma sonoridade totalmente diferente”. Por seu turno, Gibson Gomes – músico e amigo íntimo de Edward – refere-se de forma elogiosa para com o amigo: “Eu acho que o Dex é um artista muito versátil. É muito criativo, faz muitas músicas diferentes porque tem bastantes ideias. Faz música verdadeira, com sentido”. Para Gibson, mais conhecido por Cebo Linha, Dex Duda é um músico genuíno: “O que ele fala é verdade, é aquilo que ele sente. É um verdadeiro artista e, como amigo, um irmão.”

Dex Duda, um artista revestido de variadíssimas influências, vai traçando o seu caminho. Passo a passo, visa orgulhar a sua mãe, Maria Filomena. O jovem vai embarcando no trilho cujo destino é o pináculo do seu potencial artístico.

Artigo revisto por Lurdes Pereira

AUTORIA

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O meu sonho, para além de conseguir aprender a jogar xadrez, é tornar-me num homem dos sete ofícios da área da comunicação. Para além do jornalismo, tenho um fascínio enorme pelo entretenimento, representação, guionismo, realização e literatura. O cinema é a forma de expressão artística que mais me agita, juntar-lhe a escrita é aliar ao entusiasmo tresloucado um cubo de gelo refrescante e ponderado: o meu ying yang.