Do ganso do Canadá ao refrigerante Dr. Pepper – um ensaio de John Green sobre o Antropoceno
John Green é um nome que não fica indiferente quando mencionado. O nome deste autor, de 43 anos, remete, muitas vezes, para a ideia de livros de romance para jovens adultos, mais especificamente para a sua famosa história: “A Culpa é das Estrelas”, que moldou bastante a sua carreira e a forma como as pessoas imaginavam o lançamento de um novo livro seu: um romance adolescente com um pouco de drama real.
Não será uma ideia completamente errada, tendo em conta outras obras do autor como “Cidades de Papel” e “À Procura de Alaska”, que até já contam com uma adaptação audiovisual. No entanto, Green, em escritas mais recentes, tenta dar ainda mais ênfase a assuntos importantes com um toque pessoal. No livro já referido – “A Culpa é das Estrelas” – o autor já aborda um tema bastante sério, com o qual teve um contacto próximo. Mas em peças ainda mais recentes, como o seu último romance “Mil Vezes Adeus”, o autor transcreve um pouco da sua vida pessoal para a personagem principal, dando o ponto vista de alguém que realmente sofre com perturbações mentais, entre as quais TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e ansiedade.
Assim, “The Anthropocene Reviewed” (“O Antropoceno Revisto”, ainda sem tradução oficial em português), o mais recente livro de Green, é uma rutura de tudo aquilo que o autor já escreveu, tendo um toque pessoal e opiniões do autor sobre o período mais recente na história do planeta Terra.
O Antropoceno é a era geológica atual, na qual o homem remodelou profundamente o planeta e sua biodiversidade. É o período moderno pelo que estamos a passar no planeta Terra, onde discutimos tudo, desde espécies em vias de extinção ao novo jogo do franchising do Super Mario. São os caminhos que conhecemos e que tornam a normalidade “normal” e que para isso se cruzam.
Neste sentido, John Green, numa sinfonia de ensaios, adaptada e expandida do seu podcast inovador com o mesmo nome da obra, analisa diferentes facetas do planeta centrado no ser humano, numa escala de cinco estrelas. Neste seu podcast já avaliou desde o teclado QWERTY e a Diet Doctor Pepper aos gansos do Canadá e pinguins de Madagáscar, de uma forma divertida, complexa e rica em detalhes. Os seus comentários mostram as contradições da Humanidade contemporânea.
“Como espécie, somos poderosos demais e nem de longe poderosos o suficiente, um paradoxo que entrou em foco quando enfrentamos uma pandemia global que nos separou e nos uniu.”
John Green, sobre as suas reflexões sobre o seu novo livro.
Tradução Livre.
O autor mencionou ainda, num dos vídeos que fez para o canal que tem em conjunto com o seu irmão – vlogbrothers – , que “The Anthropocene Reviewed” não é apenas uma versão escrita do seu podcast, mas que tinha um toque ainda mais pessoal, pois, quando grava, lê um roteiro pré escrito e revisto. Ao escrever a obra, visto que é “uma zona de conforto”, conseguiu transparecer mais a sua forma de ver o mundo como um ser banal que é, mas ao mesmo tempo com todas as experiências peculiares e traumas fantásticos que mais de 40 anos de vida lhe trouxeram.
O que inspirou a escrita desta obra foi o conceito que Green, num dos seus vídeos, chamou “descodificar romances codificados”. Isto refere-se ao desejo de um novelista querer escrever sobre ele mesmo, mas só o saber fazer em código, utilizando personagens que toda a gente pode interpretar como se o autor se estivesse a espelhar nelas, enquanto, por vezes, não está. Assim, John Green decide escrever sobre os seus pensamentos mais puros, sem códigos que deixem as pessoas a pensar. Tão pragmáticos que até têm uma avaliação de 0 a 5 estrelas. Mas não escreve sobre ele. Escreve sobre os seus pensamentos sobre a nossa atual sociedade, da forma mais contemporânea possível, enquanto, como em todas as suas obras, nos toca com o seu lado pessoal e ponto de vista que, ainda que “seja um bocado hipócrita”, está em código.
“The Anthropocene Reviewed” ainda não se encontra disponível em Portugal, nem traduzido para português, mas, para quem está ansioso com este livro e não consegue esperar, pode ser adquirido, por exemplo, na loja online Penguin Random House por 28$. Também para quem este artigo não convenceu a dar uma vista de olhos no novo trabalho de John Green, aconselho a ouvirem o podcast e a verem o novo vídeo do canal dos vlogbrothers, pois fala sobre o processo por detrás da criação desta nova obra e os pensamentos do autor enquanto a escrevia.
Despeço-me, assim, deste artigo com uma frase do autor sobre a capa de “The Anthropocene Reviewed”:
“The Anthropocene Reviewed lembrou-me de como a perspetiva molda a chamada realidade e como forças grandes e pequenas moldam os caminhos que todos acabamos por compartilhar. E foi isso que Grace (a designer da capa) acabou criar perfeitamente para a capa deste livro.”
John Green, sobre o entusiasmo da criação da capa perfeita para o seu novo livro.
Tradução Livre.
Espero ter motivado novos leitores a irem ver o trabalho magnífico de John Green.
Boas Leituras!
Foto de capa: John Green com o seu primeiro livro assinado. Fonte: YouTube – vlogbrothers
Artigo revisto por Adriana Alves
AUTORIA
Por ter muitas paixões, Mariana é conhecida por estar envolvida em “mil coisas ao mesmo tempo”. Atualmente no curso de Publicidade e Marketing, mas com um (outro) grande amor pela escrita, escreve artigos onde consigam transmitir a emoção que sente sobre certos temas, não esquecendo de abordar também conteúdos importantes. Tem ainda o sonho de visitar o Japão e de um dia poder saber o que esteve por detrás do processo criativo da música Sunflower Vol.6.