Opinião

Editoras e a banalização do mundo da música

As editoras de música têm destruído bandas e músicos um pouco por todo o mundo. Desde levar os artistas a uma banalização mediática a espremê-los ou mesmo a reduzir um álbum a um single. Há quem já tenha estatuto para fugir a esta crise de monopólio e do mainstreaming, mas também há quem tenha a ambição de entrar no mundo da música, numa indústria sobrelotada e rendida ao poder das maiores editoras. Para esses, entrar e vingar com um estilo de música próprio, não se afigura fácil.

Beyónce tem sido um dos rostos nesta batalha. O seu último álbum foi lançado na plataforma de venda de música digital, iTunes, de forma surpreendente e inesperada. Ainda no seguimento do novo álbum, a cantora norte-americana opôs-se à habitual realização de um videoclip para uma ou duas músicas do álbum. Ao invés, fez um videoclip para cada uma das músicas, com o destaque a não poder ir para outra que não “7/11”, com um videoclip “caseiro”, onde Beyoncé dança com amigas em pijama, despenteada, sem maquilhagem  e até aparece a filha. “Yours and mine” é ainda uma colectânea de vídeos lançados pela cantora para mostrar este estilo próprio e de elevação da música à sua pessoa e não à vontade da editora ou de terceiros.

CRÓNICA - Editoras e a banalização do mundo da música - Tomás Gomes (para a web)

Beyoncé é um grande exemplo. Mas podemos ir por outros exemplos de músicos que não se renderam a uma venda do seu estilo, como Lady Gaga, sempre irreverente à sua maneira e com uma voz que faz estremecer palcos. O problema é que falamos de cantoras de carreira consumada e de “grande gabarito”, cada uma no seu estilo. O difícil é entrar e fazer o que elas fizeram, vencer e ter coragem de se demarcarem da posição das editoras que apenas vêem cifras à frente. Os ambiciosos terão de lutar contra uma corrente de banalização estilística de acordo com as pretensões das multidões.

Tal não se trata de eu gostar ou não de Beyoncé ou de Lady Gaga, que são cantoras longe do meu registo favorito. Trata-se de saber, independentemente dos nossos gostos, reconhecer exemplos e gratificar quem se consegue elevar e demarcar de uma corrente de marketing e venda que se parece unificar na indústria da música para apenas alcançar lucros enormes. O meu pai fala-me sempre da grande música feita na segunda metade do século XX e compara-a ao “ruído” feito nos dias de hoje. Obviamente que, naqueles anos, muito “ruído” surgiu e morreu, mas era um tempo em que o rock surgiu, um tempo em que as editoras apoiavam as bandas nos seus devaneios, que as deixavam seguir os seus rumos. Eram tempos que eu gostava de ter vivido.

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