Erasmus no mestrado: o outro lado da experiência
Joana Pedro, com 23 anos, encontra-se neste momento a realizar o mestrado na Escola Superior de Comunicação Social. É licenciada em jornalismo tendo concluído essa etapa académica na faculdade de Coimbra. Contudo decidiu realizar o mestrado numa área mais abrangente, acabando por escolher Relações Públicas na ESCS.
“Nunca pensei em fazer Erasmus. Durante o primeiro ano no mestrado, uma professora disse-nos que, nós, de mestrado, também poderíamos ir para Erasmus e foi nesse momento que decidi tentar; informei-me e embarquei nesta aventura”, conta a jovem.
A Joana acabou por decidir fazer Erasmus para sair da sua zona de conforto. Pensou: “Bora lá desafiar-me; se não fizer isto agora, nunca mais vou fazer.” A aluna sentiu-se completamente desafiada em Roma, por estar sozinha e num sítio que não conhecia. Os primeiros dias foram os mais difíceis, porque não pode recorrer a nada nem a ninguém e, infelizmente, naquela zona poucos são aqueles que falam inglês, por isso tentar pedir ajuda a desconhecidos foi quase impossível. “Fazer Erasmus no mestrado é um bocadinho diferente de realizá-lo na licenciatura. As pessoas tem a ideia de que é uma vida mais para sair à noite, mas eu honestamente não tive tanto isso. Quis muito viver Roma, sentir que vivia em Roma e conhecer Roma, por isso acho que foi uma experiência muito gratificante. Tenho zero arrependimentos de ter ido. É incrível porque conheci pessoas de todo o lado“, explica Joana.
Um dos momentos mais difíceis sentidos pela estudante está relacionado com o sentimento de desistência: “o que é que eu estou aqui a fazer? Tenho saudades dos amigos e da família.” Ainda assim, não desistiu e isso fê-la crescer e ganhar força através de pessoas que conheceu em apenas duas ou três semanas.
Relativamente ao processo de candidatura, é importante ter em mente os prazos. Por isso mesmo devem começar a tratar de todo o processo um ano antes. A discente começou por ter uma reunião em outubro com a professora Ana Raposo, onde lhe foi explicado todo o processo. No site da ESCS, na zona da mobilidade, é onde se começa a candidatura. É nesse ponto que se escolhe três ou quatro opções. A Joana escolheu Madrid, Barcelona e Roma. Optou por colocar como opção Itália porque eram necessárias várias hipóteses, contudo o seu objetivo passava por ir para Espanha.
Inicialmente pensou que entraria facilmente, pois acreditava que todos conseguiam ter um lugar, mas o que a Joana não sabia é que existia uma grande seleção. Com o passar do tempo percebeu que ao não ter recebido um e-mail e após consultar o portal, o seu Erasmus encontrava-se “negado”. Decidiu ligar para o gabinete: “se não esta no e-mail é porque não entrou.” Foi um choque visto que já se tinha mentalizado de que ia ter essa experiência.
Entretanto já estava convencida de que não iria, quando surge um e-mail: “Caríssima Joana, tivemos uma desistência de um aluno que ia para Roma. Como é a primeira da lista, foi selecionada. Ainda está interessada ?” Foi um “mix” de sentimentos pois inicialmente não queria ir para Itália, nem para Roma, mas acabou por responder de imediato ao e-mail e aceitou.
Seguiu-se a concretização do processo, tratado pela ESCS. Os alunos não têm de fazer praticamente nada: “Mesmo para a bolsa de Erasmus não tive de fazer absolutamente nada, a ESCS tratou de tudo. Eu fui aquela chata que perguntou sempre ao gabinete se estava tudo bem de tão simples que foi o processo.” A única coisa que tem de se fazer, é um contrato de mobilidade, com a ajuda da professora Ana Raposo, para escolher cadeiras equivalentes visto que algumas podem não ser compatíveis. A partir do momento em que se tem o contrato assinado pela ESCS, pelo estudante e pela faculdade de destino está tudo tratado. Depois é só comprar a viagem e fazer a mala.
Relativamente à pandemia, Joana sentiu uma melhoria significativa apesar do receio. Algumas pessoas tiveram de confinar, o que não foi o seu caso. Quando se candidatou estava a decorrer mais um confinamento, ainda assim foi sem medo. A situação estava calma e controlada, especialmente com a chegada das vacinas.
Em relação à sua experiência a nível pessoal, considera-se uma sortuda visto que viveu com uma rapariga portuguesa: “Na altura não queria viver com portugueses. Vim sozinha, sem ninguém da ESCS, e queria mesmo viver com outras pessoas para ter uma experiência de outros países, mais cultural. Entretanto entrei em alguns grupos de Erasmus do Facebook, o que aconselho bastante para encontrar casa, por exemplo, e conheci a minha colega de casa.”
No que toca ao seu dia a dia, teve uma vida “super” normal. Ia ao supermercado e fazia comida, tendo assim uma rotina mais caseira como se estivesse em Portugal. “Para quem gosta muito de cultura, de museus e de arte, é fácil viver em Roma. A comida também é ótima”, conta.
Joana não tinha expectativas. Queria viajar, passear e conhecer pessoas, por isso a sua adaptação correu muito bem. Teve alguns choques culturais, pois sentiu que Itália é um país muito desorganizado. Na sua opinião, o ensino e as aulas são más, acreditando não haver um único aluno de Erasmus que esteja a gostar. Para quem é de licenciatura e quer uma boa média, segundo Joana, Itália não é uma boa opção.
Um grande choque cultural esteve relacionado com a limpeza da cidade. Segundo a discente, é uma cidade muito suja, com imenso lixo. As pessoas também são muito diferentes dos portugueses, especialmente devido à barreira linguística – por exemplo, as aulas são dadas em italiano, o que dificultou o processo. Para Joana, falham diversas coisas, inclusive os transportes.
Em Roma existem associações de Erasmus onde fazem festas. Além disso, a estudante aproveitou para fazer viagens “ao estilo poupança”, com uma mala às costas, para hostels, a comer mal e a passar frio. Contudo, conheceu várias pessoas de todo o mundo: “se Erasmus é sair da zona de conforto, estas viagens são para além disso.”
Segundo a Joana, fazer Erasmus é um teste à nossa determinação, onde temos de superar obstáculos e barreiras. Apesar de sentirem muitas saudades dos seus amigos e familiares, esta experiência dá aos jovens outra maneira de ver a vida: “no fundo percebi que todos podemos viver esta experiência, e não só os de licenciatura como também de mestrado.”
“Se eu tinha dúvidas de que poderia conseguir trabalhar fora de Portugal, agora sei que consigo tudo, tudo mesmo”, afirma. Joana sente que abriu os seus horizontes, sente-se mais independente e valoriza muito mais o seu país. No final das contas, aconselha a todos fazer Erasmus, mesmo com os aspetos a ponderar, como por exemplo o estilo de vida do país e as dificuldades monetárias. “Se queres ir, vai, faz e desfruta! O meu melhor conselho é: não se prendam a Portugal, nem a pessoas, nem a nada. Viajem e sintam a cultura. Acreditem que crescemos bastante”, aconselha a jovem.
Fotografias: Joana Pedro
Artigo revisto por Ana Sofia Cunha
AUTORIA
O meu nome é Carolina Figueiras, tenho 21 anos e sou natural de Quarteira, no Algarve. Estudei Ciências da Comunicação na Ualg e estou neste momento no primeiro ano do mestrado de Jornalismo na ESCS. Tenho um blog intitulado Simples Palavras desde 2014 onde escrevo sobre os mais variados temas. Adoro escrever, ler e fazer as pessoas felizes por isso dedico muito do meu tempo ao voluntariado.