Dois jornalistas distinguidos por Oslo na luta contra o autoritarismo
O Comité Nobel norueguês galardoou a filipina Maria Ressa e o russo Dmitry Muratov com o Prémio Nobel da Paz 2021 por lutarem pela liberdade de expressão e contra o autoritarismo, nas Filipinas e na Rússia. Desde 1935 que este prémio não era atribuído a jornalistas.
Num universo de 329 candidatos ao prémio (234 pessoas e 95 organizações), Ressa e Muratov foram os escolhidos, na passada sexta-feira, por afrontarem o poder de dois líderes autoritários, Rodrigo Duterte e Vladimir Putin, com aquilo que é a profissão de ambos, o jornalismo.
Segundo o Diário de Notícias, organizações como os Repórteres Sem Fronteiras, o Comité de Proteção de Jornalistas ou o Internacional Fact-Checking estavam nomeados, e entre os favoritos constavam ativistas na área das alterações climáticas e cientistas cujo trabalho ajudou a combater a pandemia da covid-19.
Apanhados de surpresa, o júri não hesitou em entregar o prémio a estes dois jornalistas considerados “corajosos” e “notáveis” “pelos seus esforços na salvaguarda de expressão, que é uma condição imprescindível para a democracia e para a paz duradoura“.
“Os jornalistas premiados são representantes de todos os jornalistas que defendem esse ideal em um mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”, acrescentou e justificou a entidade responsável pela entrega do Nobel da Paz.
Maria Ressa, de 58 anos, é natural das Filipinas. Cresceu nos Estados Unidos, onde se formou. É jornalista há 35 anos, mas foi a partir de 2012 que a sua carreira tomou um novo rumo, tendo co-fundado a plataforma digital de jornalismo de investigação: Rappler. Chegou a ser presa pelo governo do ditador filipino em 2019, mas nunca desistiu de denunciar a violência associada à campanha anti-droga lançada pelo regime.
A vencedora Filipina dedicou, este sábado, o Nobel da Paz “a todos os jornalistas do mundo”. “É verdadeiramente para todos os jornalistas de todo o mundo.Nós realmente precisamos de ajuda em muitas frentes. É muito mais difícil e perigoso ser jornalista hoje”, disse Maria Ressa numa entrevista à Agência France Presse (AFP).
Muratov tem 59 anos e é editor-chefe do jornal Novaia Gazeta, considerado “o jornal mais independente na Rússia nos dias de hoje”, pela Academia Nobel. É também um dos veículos mais perseguidos pelo governo de Vladimir Putin, uma vez que seis jornalistas que trabalhavam no Gazeta foram assassinados em crimes ainda não esclarecidos.
A Academia Nobel afirma que Muratov é um jornalista que “há décadas defende a liberdade de expressão na Rússia, em condições cada vez mais difíceis”.
O sindicato dos jornalistas e o secretário-geral da ONU, António Guterres, não deixaram este momento passar em vão e saudaram os vencedores. Guterres apelou para a defesa da liberdade de imprensa no mundo, afirmando que “nenhuma sociedade pode ser livre e justa sem jornalistas capazes de investigar infrações, informar os cidadãos, pedir contas aos dirigentes”. Já o sindicato considera ser “urgente” defender o jornalismo e combater a “desinformação”, e a “única forma de o fazer é com o jornalismo”.
Artigo revisto por Ana Sofia Cunha
AUTORIA
Com 19 anos de vida, Ana alia a sua paixão por animais, fotografia e música ao mundo da comunicação. Sempre gostou de contar histórias, de escrever, de ler e ainda arranjava espaço para falar pelos cotovelos. Criativa, determinada e sempre disposta a ajudar o outro, a Ana vê no jornalismo o privilégio de poder conectar o mundo e as pessoas.