Editorias, Literatura

Liberdade – a de ontem e a de amanhã

Celebrar o 25 de abril é festejar a conquista de um dos maiores direitos alcançados: a liberdade. Na literatura, foram muitos os escritores que, desde a poesia à prosa, foram invocando a mulher do mundo. Mais do que celebrar a liberdade, é importante recordar momentos que a mataram. Hoje, recordo o livro “O rapaz do pijama às riscas”, de John Boyne.

“É a errar que se aprende”, dizia sabiamente Bruno, um menino de nove anos, que mal imaginava que o Reich iria acabar com a sua inocente infância. Melhor: vai ser o seu pai, involuntariamente, a mostrar-lhe a monstruosidade a que o ser humano pode chegar.

O pequeno e perfeito mundo de Bruno altera-se quando ele é obrigado a mudar-se, com a sua família e os empregados, para uma casa escura, sem magia e sem alegria. Do palácio, Bruno conheceu as masmorras. “Num dia estava feliz, a brincar em casa, tinha três grandes amigos para toda a vida, escorregava pelos corrimãos abaixo, punha-se em bicos de pés para ver Berlim de uma ponta à outra, e agora estava aqui, prisioneiro”.

Inocentemente, Bruno não sabia que existia um mundo muito pior do que aquela casa escura. Um mundo onde nem uma casa escura existia para meninos iguais a ele. Mentira. Para Adolfo Hitler, Bruno podia viver, mesmo que fosse numa casa escura, mas outros meninos – de raças “impuras” – não podiam e deviam ser jogados num gueto, juntamente com as suas famílias, e de lá só saírem… mortos.

Hitler aplicou a ditadura e a morte indiscriminadamente durante a Segunda Guerra Mundial, esquecendo-se do direito à vida e à liberdade de viver. Não há raças nem cores que tenham o direito de nos roubar a liberdade. E muitas vezes existem homens que têm esse direito. Mas Hitler nunca soube o significado das palavras direito e liberdade.

Bruno não sabia que o silêncio que existia na sua nova rua se devia ao facto de todos os seus vizinhos serem considerados, pelo Fuhrer, pessoas “indignas” de viver. Bruno só percebe realmente este silêncio quando conhece um menino, o Shmuel, que vive verdadeiramente aprisionado.

A maior dúvida para Bruno era o facto de Shmuel e todos os que viviam do outro lado da vedação usarem a mesma roupa: um pijama às riscas. “O rapaz do pijama às riscas” parte da amizade de dois pequenos meninos para mostrar, da forma mais crua possível, como Hitler destruiu pessoas e histórias porque a liberdade não importava.

Hoje, vivemos num mundo que corre atrás da liberdade, entre guerras e armas, mas que não percebeu ainda que a liberdade não se alcança de arma apontada ou de punho fechado. Mas também não se alcança pela conversa, se nela um se achar no direito de falar mais alto por achar que o que diz – ou pensa – vale mais.

A liberdade é um direito de todos e deve ser entendida assim – um direito de todos. E como qualquer direito este também tem deveres e o mais importante é respeitar os outros, nos seus crenças, ideias e valores. Viva-se a liberdade, festeje-se, e nunca nos esqueçamos do quão difícil foi, cá – com o Estado Novo – e lá fora com outros regimes, conquistá-la.

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