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Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los

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Em 2011, Harry Potter, o herói que acompanhou uma geração, despediu-se dos grandes ecrãs. Tive o privilegio de fazer parte dessa geração, cresci com o jovem feiticeiro e acompanhei todas as aventuras do mesmo ao longo dos anos. Quando Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los foi anunciado o sentimento foi agridoce: por um lado era o regresso de um universo que nos apaixonou, por outro lado, conseguiria viver longe da sombra do seu predecessor?

Não, Harry e companhia não aparecem – o filme passa-se nos anos vinte. Contudo, o universo é o mesmo que nos cativou há quinze anos. Dito isto: não esperem ver Hogwarts, ou Diagon Alley, ou Gringotts, ou Hogsmeade – Monstros Fantásticos passa-se em Nova Iorque; no fundo, os horizontes “desenhados” por Harry são agora alargados por Newt Scamander.

É como voltar a casa depois de algum tempo longe: tudo é igual, mas há uma diferença impercetível. Continua a ser mágico e encantador. Mas não é tão familiar como Harry Potter era, o que é perfeitamente normal. Isto não quer dizer que não haja espaço nos nossos corações e mentes para Newt, significa que precisamos de tempo para nos adaptarmos – tal como quando chegamos a casa depois de algum tempo longe.

Saí da sala de cinema com os olhos brilhantes de quem está pronto para voltar a mergulhar no mundo de magia que conheceu há quinze anos. Isto deve-se em parte ao argumento de J.K. Rowling, que é engraçado, emotivo e energético e que, acima de tudo, não desilude. É uma estreia fantástica no mundo dos guiões e mal posso esperar para ver o que faz com as sequelas.

Para além disso, responsabilizo o realizador David Yates. Depois de ter realizado Harry Potter e a Ordem da Fénix, Harry Potter e o Príncipe Misterioso e Harry Potter e os Talismãs da Morte (partes um e dois), Yates volta a segurar as rédeas de um filme da franquia. É uma mais valia ter um realizador que está familiarizado com o universo, especialmente quando queremos convencer a audiência de que, embora não tenha Harry, Monstros Fantásticos merece o investimento. E, como em equipa vencedora não se mexe, Yates será o realizador dos próximos cinco filmes da franquia.

No entanto, diria que as personagens e os atores que as interpretam são os maiores responsáveis pelo sucesso deste filme. Newt Scamander é o “herói” não muito likeable, algo peculiar, interessante e espertalhão, que carrega consigo uma mala cheia de monstros deslumbrantes e, embora possa não ser consensual, ele é fascinante. Eddie Redmayne faz um trabalho espetacular e é credível cada vez que aparece no ecrã.

Jacob Kowalski (Dan Fogler) é o Muggle/No-Maj, o comic relief, e podia não passar disso; contudo, transforma-se no que pode vir a ser uma das personagens mais queridas da franquia daqui para a frente. O mesmo pode ser dito sobre Queenie Goldstein (Alison Sudol), que é tão adorável como é charmosa.

Mas grande parte do destaque vai para Colin Farrell e o seu Graves e para Katherine Waterston e a sua Porpentina Goldstein. Farrell habitou-nos a performances incrivelmente boas e desta vez não é exceção. Já Waterston foi uma descoberta fantástica (pelo menos para mim). O range de emoções e facetas que dá a Tina tornam a personagem ainda mais deslumbrante. À parte de Newt, Tina é quem me deixa mais curiosa. Saber que terei de esperar até 2018 para saber mais sobre o passado destas duas personagens é simultaneamente entusiasmante e angustiante.

A menção honrosa vai para Ezra Miller: estranho, sinistro, desajeitado, carente e tudo aquilo que a sua personagem exigia que fosse. Num momento inspira compaixão e no outro causa arrepios e flutua entre ambas de forma natural e fluída.

Fui cuidadosa com os spoilers e se não quiserem um spoiler saltem o este parágrafo. Quão estranho é aquele senhor loiro que aparece perto do fim? Não como personagem, mas como ator. Temo que seja um mau casting, no entanto, só saberemos em 2018. Oremos.

Resta-me elogiar os monstros. Gostava de visitar o interior da mala de Newt e olhar para cada um deles durante mais tempo. Desafio-vos a não se apaixonarem por cada um! São monstros incrivelmente fantásticos e dão ainda mais alma ao filme.

O próximo filme, o segundo numa lista de cinco, chega em 2018. Mal posso esperar para voltar a entrar neste universo e, francamente, preciso que Monstros Fantásticos se consolide e assuma como o herdeiro legítimo de Harry Potter, a franquia que terá sempre lugar no meu coração. Pode ser prematuro dizê-lo, mas eu vou arriscar: a magia voltou.

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