O duro do Ballet – entrevista a Tatiana Grenkowa
O que não falta ao nosso redor é dança: desde Hip-Hop e Breakdance até Contemporâneo e Jazz. A dança é a paixão de muitos. Tatiana Grenkowa, bailarina da Companhia Nacional de Bailado, revela, em entrevista à ESCS Magazine, o caminho que percorreu até chegar à sua profissão atual e as maiores dificuldades de um bailarino.
A entrevistada vive, atualmente, em Lisboa e trabalha na Companhia Nacional de Bailado desde 2013. Pratica vários estilos de dança, como Ballet Clássico, Neoclássico e Contemporâneo.
Começou a estudar dança com 8 anos de idade e tornou-se bailarina profissional aos 18. Até aos 16 anos estudou na Rússia num Colégio chamado Центр Искусств для Одаренных Детей Севера (Centro de Artes para as Pessoas Talentosas do Norte).
O que pode contar sobre o seu percurso na dança?
«Aos 15 anos fui ao meu primeiro concurso de dança, em Berlim, chamado de “Tanzolymp”, e ganhei a medalha de prata. Neste concurso, um professor e o ex-diretor da Escola de Dança do Conservatório Nacional convidaram-me para estudar em Portugal nessa mesma escola. Aí fui a um concurso em Faro, no qual ganhei a medalha de ouro e uma bolsa para fazer uma “summer school” em Amesterdão. Também fui a um outro concurso que se chama “Prix de Lausanne”. Infelizmente não ganhei nada, mas convidaram-me para estudar no Canadá. No último ano da escola tive de tomar uma decisão muito difícil, ou fazia audição para trabalhar numa escola na Rússia ou na Companhia Nacional, em Portugal. A minha escolha não podia ter sido melhor, onde estou agora e espero continuar por mais tempo.»
Quais são as suas maiores influências e referências artísticas?
«Eu adoro ver os vídeos da Ulyana Lopatkina. Ela é uma fantástica bailarina russa, que infelizmente já parou de dançar. Os coreógrafos que mais me tocam são o George Balanchine, Hans van Manen, William Forsythe, Anne Teresa De Keersmaeker e a Olga Roriz».
Qual foi o momento mais marcante na sua carreira?
«Tenho muitos momentos marcantes na minha carreira. Um dos maiores é na própria companhia onde trabalho: quando interpretei pela primeira vez um papel principal, na peça “Giselle”. Na última entrada em palco, escorreguei e entrei em pânico apenas no interior, mas continuei a dança como se nada tivesse acontecido, porque estas coisas acontecem e há que ser profissional. Esta situação mostra que os bailarinos não são robôs e isso pode acontecer. O que há a fazer é receber isso com um sorriso. E, claro, para a próxima vez tentar evitar que aconteça o mesmo».
«A minha maior conquista no mundo do ballet foi ser promovida a solista e poder fazer papéis principais».
Tatiana Grenkowa
Como é a sua experiência na Companhia Nacional de Bailado?
«Trabalhar na Companhia Nacional de Bailado não é fácil. É um emprego com um horário normal de trabalho, mas muito puxado. Trabalho cinco dias por semana das 10h00 às 17h00, à exceção de quando tenho espetáculos, isto porque os horários são mais rigorosos. No início de uma carreira, nesta ou noutra Companhia, há sempre muita pressão, porque se está a trabalhar em algo profissional, tem de se ser melhor em tudo. Com o tempo, a insegurança de não sermos capazes de estar à altura do desafio desaparece, porque começas a confiar em ti e no trabalho que fazes».
Há muita pressão em fazer parte da Companhia Nacional de Bailado?
«No início da minha carreira senti muito. Isto porque estás a trabalhar na Companhia, em que temos de ser perfeitos. Com o tempo isso começa a passar porque começas a confiar em ti e no trabalho que fazes. Uma pessoa ganha experiência com tempo. Agora eu sinto que já estou num outro nível, eu desfruto do meu trabalho! Isso é muito importante».
Muitas pessoas acham que ballet é apenas algo bonito, mas por trás está um trabalho de muitas horas, trabalho árduo e esforço. O que pode dizer sobre isto?
«É verdade. Muitos acham que o ballet é algo leve e bonito, porque é isso que nós, os bailarinos, tentamos mostrar e passar ao público, faz tudo parte do trabalho. Viver do Ballet é algo complicado, é necessário trabalhar horas e horas, sofrer muito. Estamos a lutar contra o próprio corpo todos os dias. Temos muitas dores em todo lado do nosso corpo, sempre. Temos de ser fortes. Basicamente, somos atletas de alta competição. Essa é a realidade. Cada artista tem as suas dificuldades, por isso, têm de trabalhar muito. Mas claro, a uns custa mais que a outros. No meu caso, a maior dificuldade é nos movimentos onde tenho de saltar apenas numa perna e em cima da ponta, sapato duro da bailarina.»
Que conselhos daria para as pessoas que estão a iniciar no ballet ou que querem entrar na Companhia Nacional de Bailado?
«Tens de encontrar uma pessoa com experiência no mundo do ballet e confiar no trabalho dela. Mas sobretudo, confiar em ti próprio! Sentir o corpo, ser inteligente e estar aberto a aprender coisas novas. O que quero dizer com isso é que tens de imaginar como o teu corpo funciona, ele é uma máquina e cada detalhe é importante.»
Instagram: @tatuagrenkova
Fonte da capa: @tatuagrenkova
Artigo revisto por Beatriz Merêncio
AUTORIA
A Mariana está no terceiro ano da licenciatura em jornalismo e consecutivamente no terceiro na magazine. A Mariana é uma pessoa com uma imaginação para além da média, muitos dizem que anda sempre com a cabeça na lua. Para além de dançar ser o seu plano favorito e o que deseja para o futuro, gosta muito de ficar em casa a ver séries e filmes. A Mariana adora escrever, desde pequena que a escrita a apaixona. A magazine, em especial as editorias de Cinema e Televisão e Artes Visuais e Performativas, são a forma de ela poder escrever sobre o que lhe apaixona e mostrar o seu ponto de vista sobre os respetivos temas. A magazine tornou-se uma família para mim!