Grande Entrevista e Reportagem, Sem Categoria

O jovem que trocou os livros pela bola

É verdade que, apesar das vitórias conquistadas ao longo dos anos no que toca ao direito à educação, nem todos têm acesso ao ensino superior. No entanto, quem possui esse privilégio não tem imperativamente de assumir o típico rumo da vida profissional como seu: terminar os estudos obrigatórios, tirar uma licenciatura e um mestrado, estagiar, trabalhar. Consoante a sua personalidade e os seus objetivos, o indivíduo pode concluir que o ensino superior não é o caminho certo. Algumas das pessoas mais influentes e bem-sucedidas abandonaram a faculdade. Steve Jobs, Mark Zuckerberg, Bill Gates ou Oprah Winfrey são apenas alguns dos casos mais notórios. A verdade é que a faculdade não é para todos, e não há mal nisso.

Pedro Mendes Gomes é exemplo de alguém que abandonou a universidade para seguir outro caminho. Com 19 anos, é jogador profissional no Club Sport Marítimo. Percebeu que ser guarda-redes é a sua vocação e verdadeira paixão, desistindo então dos estudos para se concentrar e empenhar plenamente no futebol. Numa entrevista à ESCS Magazine, o jovem partilhou a sua experiência e ponto de vista. 

Como é que o futebol surgiu na tua vida?

Com 5 anos de idade, comecei a jogar futebol no Juventude Atlântico Clube. Tal como qualquer outra criança, fazia-o apenas pela diversão e pelo convívio. Aliás, nessa fase inicial eu praticava quatro desportos simultaneamente. Só em 2017, quando fui transferido para o Marítimo, é que comecei a levar o futebol mais a sério. O clube ofereceu-me uma melhor formação, e lá descobri as minhas capacidades de guarda-redes. 

Sempre quiseste ser jogador de futebol profissional? 

Sim. Assim que entrei para o Marítimo, percebi que o futebol era, e continua a ser, a minha paixão. Ao fim de três épocas no clube, ofereceram-me o contrato de formação, o que me motivou e fez sentir bastante valorizado. Foi a partir desse momento que soube que o futebol seria o meu futuro.

Fotografia cedida pelo entrevistado

Apesar de teres a tua carreira ideal definida, escolheste integrar-te na universidade. Porquê?

Sempre ouvi dizer que não se chega a lado nenhum sem um diploma. Deixei-me guiar pela opinião da sociedade, enquanto me devia ter orientado pelo meu próprio instinto. Acho que o sistema de educação é um falhanço. É um sistema que não se ajusta ao tempo em que vivemos e não considera a individualidade do aluno. Acho que, especialmente hoje em dia, não é necessário ter uma licenciatura para mostrar valor ou impor as suas ideias. 

Por que licenciatura optaste?

Escolhi estudar Turismo, porque o meu pai tem uma empresa marítimo-turística dedicada à observação de cetáceos. O meu plano B, caso o futebol não resulte ou a carreira termine cedo demais, é trabalhar na Rota dos Cetáceos e talvez um dia gerir a empresa, dando continuação ao legado.

Mas acabaste por descobrir que a universidade não é para todos…

Não, não é. Algumas das pessoas mais ricas do mundo não foram para a universidade, ou desistiram da mesma. Isso não é prova suficiente? São pessoas que tiveram uma ideia e souberam geri-la corretamente. Pessoalmente não gosto nada de estudar (na verdade, nunca gostei), mas isso não me impedirá de ser bem sucedido na vida. Tenho outras competências que me levarão longe!

Abandonar os estudos foi a escolha certa?

No meu caso? Definitivamente. Eu estudei no Instituto Superior de Administração e Línguas, uma universidade em que os cursos são em regime pós-laboral. O horário dos meus treinos muitas vezes coincidia com o horário escolar, ou seja, eu não estava realmente focado em nenhum dos dois. Uns dias chegava atrasado às aulas e outros não comparecia devido às viagens com a equipa. Percebi que, se quero fazer algo, tenho de fazê-lo como deve ser. 

Sentes que depois de te teres afastado da universidade o teu desempenho no futebol melhorou?

Tomei essa decisão durante a fase final da época, mas posso dizer que sim. Eu estava sempre preocupado e alerta, porque tinha sempre trabalhos por entregar e frequências para as quais tinha de estudar. A preparação para os jogos requer concentração, mas, acima de tudo, um bem estar físico e mental que eu não tinha. Depois de me ter retirado da universidade, a minha cabeça ficou mais leve. Pude direcionar toda a minha atenção ao futebol e os jogos passaram a correr muito melhor. 

Como é que reagiu a tua família perante a tua decisão?

Não pude contar com o apoio dos meus avós, porque têm uma mentalidade um pouco fechada. Disseram-me: “Hoje em dia não se é ninguém sem um diploma”. Não estava à espera de outra reação, pois o pensamento da maioria das pessoas é precisamente este. Os futebolistas não licenciados são mal vistos – assume-se que são burros, que não sabem formar três frases, mas não é esse o caso. Por outro lado, a minha mãe e o meu pai aprovaram a decisão. Desde que eu seja feliz e tenha juízo, eles estarão do meu lado e oferecer-me-ão o apoio de que necessito.

Que conquistas marcaram a tua carreira futebolística?

Ao fim da minha primeira época no Marítimo, recebi o prémio de melhor guarda-redes, uma vitória que me animou e incentivou imenso. No entanto, a minha maior conquista foi ter sido o guarda-redes mais jovem da história do meu clube a jogar pelos sub-23, quando tinha ainda 17 anos. Fiz uma excelente exibição. Defendi um penálti e fiz boas intervenções, o que me ofereceu muita visibilidade. Depois disso, assinei contrato com o meu empresário e surgiram imensas propostas de equipas no estrangeiro.

Neste momento quais são os teus objetivos e ambições?

O meu primeiro objetivo é, no próximo ano, jogar na Seleção Nacional. Além disso, pretendo jogar o máximo de jogos possíveis, tanto pelos sub-23, como pela equipa B, de modo a ganhar experiência e também visibilidade. Daqui a 1 ou 2 anos quero estar integrado no plantel da equipa A.

Fotografia cedida pelo entrevistado

Então, qual é a tua opinião em relação aos jovens que deixam o Ensino Superior e seguem um rumo diferente?

Eu apoio a 100%. A escola não ensina a liderar ou a criar novas ideias; a escola ensina a ser um trabalhador. Ou como eu digo: a escola não ensina a ser um pastor, mas sim uma ovelha. Por isso, não considero a universidade uma via obrigatória. O mais importante é ter ambições e objetivos em mente.

Frequentar a universidade e obter um diploma é, de facto, um recurso poderoso, mas não garante o sucesso e muito menos promete felicidade a todos. 

Fonte da capa: cedida pelo entrevistado

Artigo revisto por João Nuno Sousa

AUTORIA

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Daniela nasceu nos Estados Unidos, mas cedo se mudou para a ilha da Madeira, onde foi criada. Embarcar para a cidade de Lisboa é um primeiro passo para conquistar o seu sonho de criança: ser uma renomada Jornalista. Ambiciona criar conteúdos para grandes revistas turísticas, porque, para além da escrita, a sua paixão é viajar. São os pequenos prazeres da vida que a movem, e deseja partilhar esse olhar único sobre a vida.