O universo de Salvador Sobral ao vivo no Olga Cadaval
Estávamos em Outubro, as aulas tinham acabado de começar, ainda quase nada havia para fazer. A noite dá-nos energia para agir de forma menos ponderada, o que me levou, sem hesitar, a comprar dois bilhetes para ir ver o Salvador Sobral.
A verdade é que nunca tinha parado para ouvir a genialidade deste homem, da sua voz e da sua interpretação. A minha relação com a música deste artista nunca tinha ido para além do tema tão conhecido por todos nós, Amar pelos dois.
Tive a sorte de ter alguém que me apresentasse formalmente o trabalho deste contador de histórias cantadas. E, assim, depois de duas ou três semanas, numa relação séria e apegada entre mim e toda a arte do Salvador, acabei por cair no Olga Cadaval, em Sintra, numa bonita noite de outono.
Ao entrar no auditório, percebi logo que este não iria ser um concerto qualquer, iria ser uma partilha, uma tertúlia, um momento entre amigos. Não estaríamos ali só para testemunhar um momento bonito, mas para fazer parte dele.
Porquê? Assim que chegámos, deparei-me com uma cortina aberta com todos os músicos em palco a conversar e a ter aquele momento de backstage que todos imaginamos antes da cortina abrir ou da banda chegar. Foi como se tivéssemos sido convidados para um ensaio aberto. Parece um gesto simples e natural, mas fez-me prever que iria sentir uma complexidade de coisas. E não é que a minha intuição raramente me falha…?
Um concerto de duas horas nunca me pareceu tão curto, nunca estive tão presente e a viajar tanto ao mesmo tempo. De coração e olhos vidrados, absorvi o que o Salvador e os seus músicos de excelência tinham para nos contar, entre progressões harmónicas, melodias e poemas, risos e histórias de como haviam chegado ali.
Eu e todas as pessoas que partilharam aquele momento em Sintra ouvimos o álbum BPM ao vivo, assim como algumas músicas exclusivas de Salvador e de outros artistas. De todo o concerto, os momentos que destaco na minha memória, sem dúvida, são: a canção sangue do meu sangue; o momento em que todos cantámos a música bom vento; a história de como o Salvador e o seu pianista se conheceram num bar no estrangeiro e agora estão ali; a forma como demonstrou e falou das suas inquietações, e como me foi fácil relacionar com bastantes delas; entre tantos outros que guardo comigo, aqueles difíceis de expressar.
Cada um possui os seus gostos e vibra de formas e com momentos diferentes, mas acredito que ninguém possa ter ficado indiferente a esta sua forma de arte. Acredito que todos tenhamos ido para casa comentar o que ali se passou.
Nos últimos tempos, a minha vida tem-se assemelhado a um bom filme de domingo à tarde, daqueles em que tudo parece encaixar como deve ser, com momentos bons de recordar, e este foi mais um. Um concerto que me tocou de uma forma diferente e que me fez sentir menos sozinha no amor, sendo este retratado de forma dolorosa pela música. Resta-me agradecer à pessoa especial que impulsionou a minha relação com a música do Salvador, e ao Salvador por criá-la.
Fonte de capa: ESC Portugal
Artigo revisto por João Nuno Sousa
AUTORIA
Canta desde que se conhece como gente. Não depende de nada, a não ser de música e da escrita. Em consequência dessa dependência decidiu entrar na aventura de ser redatora na secção de Música na ESCS Magazine. Aqui, pode falar à vontade sobre os mil pormenores que vê em atuações, nas canções e nos seus artistas favoritos. Está a licenciar-se em Relações Públicas na ESCS para poder ser a própria RP da sua carreira artística ou então para encontrar potenciais RP para a mesma! 🙂