Música

Passa-Montanhas, o novo álbum dos Linda Martini

Lançado a 24 de janeiro, Passa-Montanhas é o sétimo longa-duração de Linda Martini, onde a banda reflete sobre o seu passado e o impacto de histórias, pessoas e de influências no seu percurso.

A banda, originária da Linha de Sintra é composta por: André Henriques (voz, guitarra e letra), Cláudia Guerreiro (baixo), Hélio Morais (bateria) e, mais recentemente, Rui Carvalho (guitarra) – também conhecido por Filho da Mãe (projeto a solo do artista) – e regressa aos discos após quase três anos do lançamento de ERRÔR (2022).

Depois da saída de Pedro Geraldes, foi com Rui Carvalho que fizeram a digressão de ERRÔR e os concertos de celebração dos 20 anos da banda. As inúmeras horas passadas na estrada só aumentaram a vontade de explorar novos sons em conjunto e o resultado já pode ser ouvido por todos neste novo disco.

Linda Martini, da esquerda para a direita: André Henriques, Rui Carvalho, Hélio Morais e Cláudia Guerreiro
Fonte: Instagram @lindamartini

Passa-Montanhas

O processo de composição deste novo disco começou, à semelhança de álbuns anteriores, com uma residência artística. O quarteto “isolou-se”, durante uma semana, em Leiria, no espaço cultural “Serra” (as gravações deste período foram também lançadas numa cassete intitulada Serra).

Passa-Montanhas foi gravado no meio das montanhas da Catalunha e contou com a produção de Santi Garcia, com quem já tinham trabalhado.

O disco é uma reflexão sobre o que é ser “Uma Banda há mais de duas décadas e da forma como estas duas décadas os moldaram e continuam a moldar. 

A capa e o título do álbum remetem para a adolescência da banda na Linha de Sintra, nos anos 90, na altura em que um líder de um gang juvenil se mascarou com um Passa-Montanhas (gorro de malha com abertura para os olhos, uma balaclava) para assustar membros de outros grupos.

Fonte: Genius

Nunca fomos tão pesados, assim como nunca fomos tão silenciosos, como em alguns momentos deste disco

afirma a banda.

Faixa a Faixa

Uma Banda foi o primeiro tema partilhado e é descrita pelo grupo como “uma prova de vida. Um dedo mindinho dentro de um envelope com um pedido de resgate. Uma polaroid esmurrada onde seguramos o jornal diário e apontamos para o dia de hoje

Assombro e Eu Às Vezes Perco-me exploram sonoridades menos densas, Corações Rápidos é a canção mais rápida do álbum e aborda a arrogância da juventude e o cinismo da meia-idade e Meu deus é um tema em tom de escárnio onde se fala acerca da “glorificação” do capital e da forma como este é mal usado por pessoas com poder.

Videoclipe Corações Rápidos

Encontramos também temas que dão ênfase ao tom interventivo usado pela banda em todo o disco, temas contra a ascensão da extrema-direita e do populismo como: Cão tinhoso – fazendo referência a um verso de Zeca Afonso dirigido a Salazar “o avô cavernoso instituiu a chuva”, alterando-o para “o cão tinhoso reinstituiu a chuva”, dirigido, então, a todos aqueles que continuam a apoiar o mesmo regime referido por Zeca – e Faz-se de luz, onde se nota a proximidade fonética entre “faz-se” e “facho”, gritando no refrão final “diz tudo e o seu contrário” até que estas palavras se tornem em “nada.

Videoclipe Faz-se de Luz

Pé de Guerra traz-nos o mote do disco: “Conversar melhor” e A cantiga é mostra que a cantiga só será uma arma que “faz dói-dói” num contexto em que esta seja proibida, fazendo referência à composição de Zé Mário Branco: A cantiga é uma arma.

Para fechar o disco temos A Mão Como a Maré, a canção mais longa deste, que contém nela quase tudo o que uma canção dos Linda Martini pode ter: começa de forma calma e vai crescendo ao longo do tempo, chegando ao seu clímax e voltando a diminuir.


Pouco mais de vinte anos depois, os Linda Martini podem já não ser os mesmos, mas mantêm-se honestos como sempre, não deixando nada por dizer.

Passa-Montanhas, assim como toda a discografia da banda, está disponível em todas as plataformas digitais.

Fonte: Expresso

Fonte da Capa: MIP Música

Artigo revisto por Carolina Ferreira

AUTORIA

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Beatriz não vive sem música e tem uma playlist para todas as ocasiões. Entrou na Magazine para escrever sobre quem mais gosta de ouvir e, após um ano como redatora de Música, aceitou o desafio de ser editora no mesmo ramo. Está no 2.° ano de Publicidade e Marketing e no futuro espera vir a unir o gosto pela escrita e pela música a estas duas grandes áreas.