Poderá um legado durar A Eternidade?
A 10 de novembro de 2023, Miguel Marôco lançou o seu segundo álbum A Eternidade, álbum este que é carregado de texturas sonoras que remetem à era dourada dos anos 70’s e 80’s.
Quem é Miguel Marôco?
Para muitos, Miguel Marôco é um nome desconhecido; para outros, foi um dos concorrentes do Festival da Canção 2021; para outros tantos, é um dos nomes que mais promete surpreender no panorama musical indie e jazz português.
Nascido em 1999, Marôco iniciou aos cinco anos os seus estudos musicais na escola de música da sociedade filarmónica da sua terra, Pêro Pinheiro. Aos oito ingressou na banda filarmónica da mesma, enquanto trompetista, e no Conservatório de Música de Sintra, em piano. Passou depois para a Escola de Música do Conservatório Nacional, na qual concluiu o oitavo grau de piano, estudou percussão e integrou o coro entre 2014 e 2018.
Em 2018, criou, com mais três colegas da Escola de Música do Conservatório Nacional, o quarteto barbershop Contratempo, que chegou a ser premiado pela SABS (Spanish Association of Barbershop Singers).
Conciliando sempre os estudos com a música, e tendo-se, primeiramente, licenciado em Matemática Aplicada na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e depois obtido o grau de mestre em Matemática Aplicada pelo Instituto Superior Técnico, Miguel lança o seu primeiro EP – Noite – em 2020.
Em 2021, presenteia-nos com a sua participação no Festival da Canção, sendo um dos dois autores apurados pelo concurso de livre submissão. Essa submissão tinha sido feita pelo pai de Marôco de forma a dar um “empurrão” ao filho para arriscar neste mundo da música, um mundo cheio de desafios e incertezas – E que bela forma de o fazer arriscar! – Com a canção Girassol, acabou por ficar pela primeira semifinal, mas conquistou alguma visibilidade.
Presenteia-nos, também, nesse mesmo ano com o seu primeiro longa-duração – Marôco – com dez faixas, sendo cinco delas em português e as restantes em inglês. Este foi um disco no qual tocou todos os instrumentos e em que incluiu todos os estilos que o influenciam.
O artista integra, também, vários projetos do panorama indie nacional, tais como Francisco Fontes, Atalaia Airlines e Rapaz Ego.
Em 2023, tornou-se um dos artistas da editora de discos e coletivo artístico Cuca Monga, que tem no seu catálogo nomes como Capitão Fausto e Ganso.
A Eternidade
Neste segundo longa-duração, Miguel Marôco explora as temáticas do tempo, da finitude e da insatisfação.
Horizonte, a primeira faixa, mostra-nos o mote do disco. Miguel questiona o legado que se pode deixar num mundo tão vasto e onde tudo pode ser tão distante.
Relacionando com o quotidiano, Marôco apresenta-nos o Sábio da Montanha e o Homem Bomba, que aparentam ter respostas para todas as inquietações do cantautor, mas que acabam no mesmo lugar que o mesmo, onde ninguém tem A Sorte de durar para sempre.
O Sábio da Montanha, que intitula a terceira canção do disco, é uma personagem hiperbolizada sobre os homens sensatos, de ciência, filósofos ou até mesmo profetas que acabam, de qualquer maneira, por não ter uma solução para o facto de não haver “ninguém que dure a eternidade”.
Oposta a esta personagem é o Homem Bomba, presente na faixa sete, uma personagem controversa e sempre com o mesmo propósito – alcançar uma fama, quer tenha mérito ou não – que sempre existiu, mas atualmente parece ser mais frequente.
A Eternidade, que dá nome ao disco, é um instrumental que outrora teve letra. Porém, o artista acabou por deixar que não houvesse voz nesta canção. Esta é, para si, a favorita deste projeto.
Por fim, A Sorte é uma canção carregada de vulnerabilidade – a única com este sentimento e a última do disco – que expressa a frustração de perceber a impossibilidade de um legado durar A Eternidade. No fim, tudo se resume a um mero acaso.
Aqui está apenas uma pequena parte do que poderão experienciar ao ouvir este disco. As restantes faixas – O Infinito, Deixar Para Trás, Formiga e Férias no Japão – completam a “história”, e, como todos sabemos, ninguém gosta de deixar uma história a meio, havendo, por isso, ainda muito por explorar.
É certo que, atualmente, temos uma grande facilidade para descobrir e desfrutar de uma ampla variedade de conteúdos musicais (e não só) oriundos dos mais diversos sítios do mundo. No entanto, também é verdade que diante de uma oferta tão extensa, muitos artistas nacionais acabam por ser ofuscados e por não ter o devido destaque.
Para quem não conhece Miguel Marôco, e acabou de conhecer um pouco sobre o mesmo nos parágrafos anteriores, este é o momento de irem buscar os vossos fones e abrirem este álbum na vossa app favorita. Fica aqui o convite à audição e à descoberta deste artista.
Fonte da capa: RDP Internacional – RTP
Artigo revisto por Beatriz Santos
AUTORIA
Beatriz não vive sem música e tem uma playlist para todas as ocasiões. Entrou na Magazine para escrever sobre quem mais gosta de ouvir e, após um ano como redatora de Música, aceitou o desafio de ser editora no mesmo ramo. Está no 2.° ano de Publicidade e Marketing e no futuro espera vir a unir o gosto pela escrita e pela música a estas duas grandes áreas.