Opinião

Somos todos Tânia

            O advogado de José Sócrates, João Araújo, conseguiu pôr o Charlie com os cabelos em pé. A fama não era famosa e as bocas e comentários não eram os mais educados, mas até faziam rir muita gente, eu incluído. No entanto, conseguiu ser absolutamente nojento quando, na passada segunda-feira, disse à jornalista da CMTV, Tânia Laranjo, que ela devia tomar mais banhos porque cheirava mal.

Já todos sabemos que a CMTV não é a mais amada das televisões. Já Cristiano Ronaldo tinha dito que não respondia a essa televisão porque tinham inventado coisas sobre ele. O próprio João Araújo também já tinha recusado falar na presença da CMTV. Mas desta vez foi mais longe não só nos insultos mas também no seu público-alvo. João Araújo não se ficou pelos odores nem se restringiu à jornalista da CMTV. Conseguiu mesmo insultar todos os jornalistas que encontrou (por arrasto, infelizmente, vão todos os outros), dizendo coisas como “esta gajada mete-me nojo” e “vamos com este cortejo atrás? Com esta canzoada?”.

A liberdade de expressão não é infinita. Charlie não é Deus, Buda ou Alá. Não responder a uma entidade, neste caso o Correio da Manhã, por discordar do estilo ou da abordagem é uma coisa à qual todos temos direito. Mas insultar alguém que está a fazer o seu trabalho só porque pertence a essa entidade já passa dos limites. Eu também não gosto do estilo do Correio da Manhã, seja televisão ou jornal, mas a liberdade de expressão tem de ter regras, senão andamos aqui quase à lei da bala.

O pior é que João Araújo conseguiu insultar todos aqueles que espero que sejam os meus futuros colegas de profissão. Não escapou um. Ora, a imprensa, seja de que estilo for, está lá, em princípio, para serviço nacional. Não é para, como disse Tânia Laranjo e muito bem, servir apenas os interesses dos intervenientes. Nem para ser convocada como cães. Para dar um biscoito e enxotar.

Como estudante de jornalismo acho que ele tem todo o direito a estar farto de jornalistas. Eu também já estou farto dele. Mas o insulto pessoal e o rebaixar da profissão é que não se pode tolerar. Gente desta merecia respostas à letra, mas não podemos descer ao mesmo nível. Como será que trata o pedreiro que fez a casa onde mora, o carpinteiro que fez a cama onde se deita ou o canalizador que arranja os canos cheios da água dos seus magníficos banhos?

Qual o lado positivo disto tudo? Pois bem, João Araújo conseguiu pôr muita gente a defender o Correio da Manhã. Penso que é a primeira vez que eu próprio o faço. Mais! Deixou-me com orgulho em cheirar mal!

CRÓNICA - Somos todos Tânia - Pedro Mateus (slideshow)

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