Mais do que uma canção, um movimento pela cultura
Portugal tem uma indústria musical diversa e interessante, na qual vários géneros se cruzam e criam música apreciada não só pela Europa, mas também por esse mundo fora. Desde o fado (tanto o tradicional como as misturas do tradicional com o contemporâneo) às canções românticas, o cenário do nosso país é admirado por amantes da música nos quatro cantos do globo. No entanto, as rádios portuguesas parecem não espelhar esta realidade. Quantas vezes fizemos uma viagem mais longa de carro e parámos para pensar “porque é que não toca mais música portuguesa nas nossas viagens?” A verdade é que as rádios tinham uma quota mínima de 30% para músicas nacionais; e o que já era pouco recentemente diminuiu para 25%. Diversos artistas e associações culturais mostraram-se contra a medida e uma campanha tomou conta das redes sociais em protesto contra esta decisão.
As razões para a redução e quem a apoiou
As rádios em Portugal passaram a ter uma quota de música portuguesa em 2009 e a medida entrou em vigor no valor de 25%. Em 2021, a então ministra da Cultura, Graça Fonseca, anunciou um aumento de cinco pontos percentuais ao valor estabelecido, como medida para ajudar os artistas nacionais face aos impactos da pandemia de COVID-19. No entanto, este ano, o Ministério da Cultura retirou esses mesmos cinco pontos percentuais à quota, reduzindo-a novamente para 25%. O ministério de Pedro Adão e Silva justificou esta decisão afirmando que, atualmente, os artistas portugueses já podem dar concertos após a estabilização da situação pandémica e, por isso, a “substancial perda de receitas” que sofreram desde 2020 já não se fazia sentir.
Esta medida foi amplamente apoiada pelo presidente da Associação Portuguesa de Radiodifusão, Luís Mendonça, que afirmou que a antiga quota de 30% restringia a “liberdade e posicionamento das rádios devido ao facto de não existir produção suficiente de música portuguesa que justificasse o valor dessa quota”.
As reações pelo país
Esta medida não foi bem recebida pela maioria dos portugueses, quer sejam artistas, agentes ou até mesmo meros ouvintes das diversas rádios nacionais. Afinal, num país em que se produz música tão variada, a opinião daqueles que a produzem e dos que a consomem não podia ser outra.
Foram inúmeros os artistas que se pronunciaram contra esta decisão e, em consequência, a favor de um aumento da quota, entre eles nomes incontornáveis da música nacional como Fernando Tordo e Rui Veloso. Muitos mais entraram nesta luta, partilhando um vídeo animado de perguntas e respostas que procurava elucidar a problemática para os seguidores e amantes de música portuguesa. A frase “Só pedimos o tempo de uma canção para nos ouvires” acompanhava as publicações feitas por cantores como Dino D’Santiago, Diogo Piçarra, Salvador Sobral e Gisela João.
Mas este movimento não se ficou apenas pelos artistas, uma vez que o público aderiu em força a esta chamada de atenção à situação atual da cultura em Portugal. Uma petição direcionada ao ministro da Cultura foi lançada no início do mês de março e, desde então, conta já com mais de sete mil assinaturas.
Desde então, já se pensou em diversas iniciativas e propostas para reverter esta situação. A FNAC, por exemplo, decidiu passar apenas música portuguesa durante o mês de março de forma a promover os artistas e a divulgar a importância deste movimento. Além disso, alguns partidos políticos apresentaram a sua posição favorável no que diz respeito a aumentar esta quota novamente para os 30%, medida esta aprovada no parlamento no dia 5 de maio. Apesar disso, a luta por uma valorização da cultura parece estar apenas no início.
Fonte da capa: Notícias ao Minuto
Artigo revisto por Adriana Vicente
AUTORIA
A escrita e a música sempre estiveram presentes na vida de Bruno. Assim sendo, sempre foi hábito associar as duas paixões e conjugá-las numa só, e a ESCS Magazine foi o propósito perfeito para o fazer. Entrou como redator de Música em 2022, e após um ano, aceitou o desafio de ser o editor no mesmo ramo.