Editorias, Opinião

Uma praxe “à portuguesa”


Provavelmente, todos terão lido ou visto a notícia em que vários estudantes caloiros da Universidade do Algarve foram levados para a Ria Formosa para nadarem, sendo posteriormente levados para o areal, onde foram obrigados a cavar buracos muito profundos. Contudo, é aqui que começa a lamentável notícia com contornos criminais, visto que enterraram todos os caloiros até à cabeça e deram-lhes a beber bebidas alcoólicas (vodka, whisky, gins, entre outros) até não aguentarem mais. Isto é a típica praxe portuguesa, apesar de haver bons exemplos de praxes de integração dos caloiros noutras universidades.

Penso que já se esqueceram do sucedido na praia do Meco e nestas situações não pode haver tolerância por parte de todos os órgãos que zelam pela segurança, não só pelos(as) alunos(as) enquanto cidadãos mas também enquanto caloiros. Não consigo entender onde é que aqui existe integração, motivação ou socialização… Peço desculpa se serei um pouco frontal, mas, na minha opinião, aqui apenas existiu humilhação dos estudantes caloiros e estupidez e dominância por parte dos veteranos da Universidade.

Será que os veteranos daquela Universidade não sabem o que quer dizer integração? É preciso humilhar as pessoas? Se o principal papel dos veteranos é ajudar e receber os caloiros, porque existe este carácter de dominância? São perguntas para as quais não consigo obter uma resposta racional porque simplesmente não existem respostas que possam encerrar este assunto. Ano após ano, vemos caloiros a serem sexualmente assediados, a ficarem em coma alcoólico por implicação/obrigação dos mais velhos, a serem insultados e arrastados por cima de excrementos de animais, e o que vejo é a nossa sociedade de olhos fechados, sem impor o respeito e a integração que deveria haver e sem instaurarem processos de investigação complexa com penas criminais para os responsáveis.
Pelos vistos, em Portugal o significado de “praxe” está a ser dominado pela minoria das situações exageradas e quase sempre sem grandes implicações jurídicas.

Um dia em que a nossa sociedade seja equilibrada e justa em todas as suas dimensões sociais, culturais, educacionais, etc., aí sim, haverá justiça. Contudo, até lá temos de lutar e defender os nossos verdadeiros valores, porque, se não formos nós a fazê-lo, ninguém o fará por nós. Por exemplo, o apoio da queixa-crime feita pelo pai de uma das jovens que ficaram em coma alcoólico, de modo a poder ser feita uma averiguação do que aconteceu mesmo e encontrar os responsáveis. Há uma diferença que poderá vir a ser determinante entre o que aconteceu ontem e o que aconteceu no Meco, que é o facto de todas as “vítimas” estarem vivas e conscientes do que realmente aconteceu.

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P.S.: Eu sou caloiro escsiano e peço que encontrem as diferenças que existem entre a praxe feita na Universidade do Algarve e a praxe feita na nossa Escola Superior de Comunicação Social, em que juntaram todos os cursos existentes para uma maior integração. Tudo isto para dizer que tenho orgulho na Escola Superior de Comunicação Social (falando por experiência própria e não devo ser o único com esta opinião). Não tive de passar por nenhuma praxe exagerada. Houve apenas integração em vários grupos/equipas em que socializávamos entre nós, e os próprios veteranos ensinavam-nos o verdadeiro significado de “integração”, “socialização”, “motivação”, e, mais importante que tudo, “união”, sem nunca sermos insultados, humilhados ou enxovalhados.

Escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico

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