Editorias, Literatura

Desenhador de Palavras: Dinis Machado


Fumava muito. Fumava tanto que morreu de cancro do pulmão. Estávamos no ano de 2008. Dinis Machado nasceu a 21 de março de 1930. Cresceu e viveu no Bairro Alto até casar, em 1963. Frequentou o Curso Geral do Comércio, mas nunca o terminou. Depois trabalhou na Federação das Caixas de Previdência, onde conheceu Eugénio de Andrade, que se tornaria seu amigo e que seria uma grande influência nos seus hábitos de leitura.

Antes de ser escritor, era jornalista. Trabalhou durante 20 anos como jornalista desportivo em várias publicações: no Record, no Norte Desportivo, no Diário Ilustrado e no Diário de Lisboa. Entre 1968 e 1979 foi, ainda, chefe de redação da revista Tintin, na edição portuguesa da banda desenhada. Pelo meio, em 1971, foi ainda editor e chefe de redação da primeira série da versão portuguesa do “Spirou”.

Além do jornalismo, trabalhou ainda na área da tradução e do guionismo para cinema e séries de televisão. Os primeiros livros que publicou, no entanto, vinham com o nome de Dennis McShade, pseudónimo que criou para publicar uma trilogia na coleção “Rififi”. A trilogia de policiais, cuja personagem principal, Peter Maynard, foi inspirada em Pierre Ménard, personagem de um conto de Jorge Luís Borges. Foi assim que nasceram Mão direita do Diabo, Requiem para D. Quixote, que Nicolau Breyner adaptou para cinema em “Contrato” (2009), e Mulher e arma com guitarra espanhola, entre 1967 e 1968. Em 2009, no entanto, o inédito Blackpot, também assinado por Dennis McShade, foi publicado a título póstumo.

Já em nome próprio, em 1977, publicou aquele que será, talvez, um dos melhores livros da literatura portuguesa do século XX. O que diz Molero foi traduzido para alemão, búlgaro, castelhano, romeno, francês e checo, além de ter sido, em 1994, adaptado para o teatro, por Nuno Artur Silva, José Pedro Gomes e António Feio.

Em 1984, publicou Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Marquez; em 1989, Reduto quase final; e, em 1999, o seu último livro enquanto vivo: Gráfico de vendas com orquídea: e outras formas de arrumação de conhecimentos — 20 textos (de 1977 a 1993).

Quando faleceu, a 3 de outubro de 2008, tinha 78 anos.

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