Vitorino Silva: “Portugal não está a ver o filme”
Com as eleições presidenciais cada vez mais próximas, a ESCS Magazine, a ESCS FM e o E2 voltam a conversar com os candidatos ao cargo mais alto da República Portuguesa. Entre eles está Vitorino Silva, mais conhecido como Tino de Rans, fundador do partido RIR – Reagir Incluir Reciclar – e agora candidato pela terceira vez. A sua proposta central mantém-se focada na proximidade com o cidadão comum e na crítica a um sistema político que considera distante da realidade da maioria dos portugueses.
“Portugal não está a ver o filme” é a expressão que escolhe para resumir o estado em que o país se encontra. Para o candidato, o maior problema nacional é a incapacidade de reter os jovens mais qualificados. Recorda o percurso da filha, que estudou em Inglaterra e trabalha na Irlanda, como símbolo de uma geração que Portugal forma, mas não consegue fixar. Afirma, nesse sentido, que o país está a desperdiçar o seu maior património: a juventude.
Um regresso motivado pela experiência e pelo contacto com a realidade
O regresso à corrida presidencial surge de um sentimento de dever e de reconhecimento face à realidade das pessoas. Vitorino afirma que conhece as dificuldades do país pela experiência direta e que muitos políticos vivem desligados do quotidiano.
Apesar da popularidade que reivindica, não esconde a frustração com o que considera uma exclusão sistemática dos grandes canais de televisão. Lembra que em eleições anteriores obteve mais votos do que outros candidatos com maior presença mediática e interroga-se sobre as razões que o afastam dos debates de maior visibilidade. Garante que, caso seja eleito, será cem por cento livre e não condicionado por interesses externos.
A proximidade com as pessoas é uma das marcas da sua campanha. Afirma que “o gabinete é a rua” e que “um Presidente da República deve estar entre o povo, com a porta aberta e sem barreiras simbólicas ou materiais”. Critica os políticos que só surgem em contexto eleitoral e defende que a política não deve ser vista como profissão, mas como serviço temporário ao país.
Ensino superior gratuito e habitação acessível
Entre as propostas estruturais que apresenta, destaca-se a defesa do ensino superior gratuito. Vitorino argumenta que as famílias estão sobrecarregadas. Na maioria dos casos, os pais têm de pagar a casa e investir na formação dos filhos simultaneamente. Afirma que tal como o ensino primário e secundário são gratuitos, o superior também deve ser, pois o estudante está a preparar-se para colocar o seu saber ao serviço do país e, por isso, não deve ser penalizado por custos que comprometem o seu acesso. Sendo assim, o financiamento das universidades deve ser assegurado pelo Estado e não pelos pais.
Relativamente ao acesso à habitação, considerado um dos maiores obstáculos para os jovens, o candidato propõe o combate à burocracia e a simplificação de processos. Vitorino considera inaceitável que a construção de uma casa demore “quatro ou cinco anos”. Como medida concreta para as cidades, sugere que as casas grandes e vazias sejam divididas em cinco ou seis casas pequenas, pois “as casas pequenas são muito mais fáceis de encher”.
Imigração, emigração e uma visão humanista do mundo
No campo da imigração e da emigração, Tino apresenta uma visão humanista. Critica o facto de o homem complicar a mobilidade, enquanto que as “andorinhas vêm de Marrocos e não têm de estar na fronteira a mostrar os documentos”. Rejeita o uso da palavra “imigrante” como instrumento de divisão e sublinha que “a nossa terra é o Mundo”, comum a todos. Critica os discursos que promovem o medo ou a exclusão e acredita que Portugal deve tratar bem quem chega, tal como deseja que os portugueses no estrangeiro também sejam respeitados.
Reconquistar os jovens através da simplicidade e das raízes familiares
A relação com a juventude é outro dos pontos fulcrais da sua candidatura. Reconhece que muitos jovens perderam a confiança na política e defende que o caminho para a recuperar passa por medidas simples e concretas. Recordou episódios do seu tempo como presidente de junta para ilustrar que a política se aprende e que as pequenas obras podem ter mais impacto do que os anúncios de milhões que ninguém compreende:
“O grande problema é que os nossos políticos nunca souberam fazer a conta certa porque eles falam daquilo que não é deles. O povo ainda vai em quem usa os números redondos”.
Nas redes sociais, onde soma milhões de visualizações, vê um espaço onde os jovens o entendem devido à sua oralidade empática, direta e acessível.
As suas raízes e a família continuam a marcar muito do que quer transmitir. No seu mais recente livro, A corda para a vida, recorda o pai, cordoeiro, e a mãe, que antes de falecer lhe deixou o conselho que intitulou o livro. É a partir dessas histórias que constrói metáforas sobre humildade e resistência, alertando que a “luz a mais também queima” e que “a comunicação social deve evitar o excesso de espetáculo”. Refere também que o livro é uma metáfora para “os portugueses acordarem para a vida”.
Quando desafiado a resumir a sua candidatura numa frase, recupera o mote:
“Portugal não está a ver o filme”.
É essa a mensagem que quer levar ao eleitorado e é com ela que diz querer recentrar a democracia, reforçar a proximidade e devolver às pessoas a voz que sente estar a ser-lhes retirada. A promessa é clara. Continuar a ser o mesmo Vitorino, no meio do povo e sem “vidros fumados”.
Fonte da Capa: E2
Artigo revisto por Mariana Ranha e Eva Guedes
AUTORIA
A Patrícia começou agora o segundo ano em Jornalismo, mas desde pequena sabia que queria escrever e informar. Sempre curiosa e atenta ao que a rodeia, encontrou na Magazine o espaço ideal para explorar temas variados e desafiar-se a contar histórias de forma criativa. Aceitou o desafio de assumir a editoria de Informação e está pronta para descobrir novas histórias e conhecer mais sobre o mundo.




