Cinema e Televisão

Volition: Visão e Imprevisão

“Eles dizem que, quando você morre, toda a sua vida passa diante dos seus olhos. Eu gostaria de que fosse tão simples”, afirma James, protagonista clarividente, ao som da tempestade, no início da narração da sua história.

Volition (2019) é um drama de ficção científica que envolve o protagonista visionário numa luta contra o tempo. Afligido pela visão do seu assassinato, deseja controlar o rumo natural dos acontecimentos futuros.

As inúmeras críticas negativas que o roteirista Tony Dean Smith recebeu inicialmente baseiam-se na caracterização da trama como sendo ávida, pobre em suspense ou até pouco original. Todavia, o filme cujo título significa vontade – de ser dono do seu próprio destino – revelou-se um quebra-cabeças engenhosamente construído que poucos conseguem resolver.

Volition pode ser considerado um thriller psicológico, sendo o exemplo perfeito de um filme que nos faz duvidar das nossas habilidades cognitivas, caso não o consigamos entender. Porém, a clarividência de James conduz a personagem a uma ideia já muito explorada nas obras mais intelectuais da sétima arte.

De entre muitos filmes que abordam o tema da viagem no tempo, Volition sobrepõe-se pela fluidez da intriga, pela estética cinematográfica sombria e pelo desenlace interessante e imprevisível. Assim, a mensagem de que as nossas decisões no presente moldam o nosso futuro é evidente.

O filme mereceu o prémio de Melhor Longa-Metragem no Philip K. Dick Film Festival, pelo facto de estudar um assunto filosófico e famoso de forma criativa e complexa. Trata-se de uma obra cinematográfica que aborda o conceito do livre-arbítrio.

Após o falecimento da sua mãe, a vivência de James resume-se a apostas em jogos, para os quais conhece os resultados, e a encontros com Ray, membro de um grupo de criminosos. Uma missão leva o protagonista a conhecer a sua parceira no crime, Angela, cuja presença será importante na tentativa de prevenir a sua morte.

Quando os seus caminhos se cruzam, uma química palpável e alimentada por um romance distópico emerge, alterando subitamente a perspetiva da vida de James. As personagens começam uma relação que proporciona a Volition uma base essencial para o desenrolar da trama.

James Odin e a sua parceira Angela em Volition. Fonte: Rotten Tomatoes

James tem visões do futuro e Ray decide aproveitar-se do seu dom, a fim de esconder diamantes roubados das autoridades policiais. Face a um generoso honorário, o nosso herói leva as jóias para o seu apartamento. Nas paredes, diversos pensamentos, imortalizados em papel, apelam à curiosidade de Angela.

Elliot, pai adotivo de James, surge no momento em que a situação se complica. Habilidades psíquicas, paranóias, uma reviravolta no tempo. Os diamantes desaparecem. Tudo se constrói de forma a permitir o surgimento de uma realidade paralela. A repetição de cenas através de diferentes perspetivas rege a atenção máxima do espetador, de forma a conseguir decifrar o puzzle que constitui Volition

Deste modo, o cineasta, com a ajuda do seu irmão Ryan W. Smith, construiu, apesar das limitações em termos de orçamento, um filme que segue de perto a consciência humana sobre a existência do destino.

Embora a história de fundo das personagens não tenha sido muito desenvolvida, a complexidade do enredo compensa. O seu impacto será maior no observador que tem fé no debate sobre um futuro predeterminado e que entende o motivo dos problemas de plausibilidade de que sofre Volition.

Não é um filme que todos apreciam, mas é um filme que todos devem procurar entender. Volition vai para além de uma viagem no tempo ficcional. Através do estímulo psicológico, transporta o próprio espetador e origina uma viagem espiritual.

Artigo redigido por Marília Lúcia

Artigo revisto por Lurdes Pereira

Fonte da imagem de destaque: Rotten Tomatoes

AUTORIA

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Aspirante a jornalista, nasceu no coração da Europa e foi laureada com o diploma do European Baccalaureate. O amor pela escrita está sempre presente na sua vida, sob a forma de diários de viagem e artigos de opinião. Sonha em ser redatora, vive da curiosidade e da criatividade. Desde nova, dedica-se a experiências que abrem os horizontes do seu mundo pessoal e profissional.