Editorias, Opinião

Quem corre por gosto não cansa

Luta a dois na Península Ibérica, campeão inédito em Inglaterra, domínio em França, Itália e na Alemanha, um europeu cheio de baixas; uma copa América sem Jonas e uma final europeia que há três anos era inédita e agora já é repetida. É assim o final da época de futebol 2015/2016. O meu nome é Pedro Mateus. Obrigado e até uma próxima.

Parece simples mas há aqui muita coisa a acontecer. Comecemos pelo mais fácil – o domínio do PSG, da Juve e do Bayern. A liga francesa sempre foi das mais competitivas, mas quatro campeões diferentes depois chegou a vez do domínio do Paris Saint-Germain. O dinheiro injetado serviu para elevar o PSG para um patamar muito acima dos outros clubes franceses. Mais dinheiro trouxe melhores jogadores e neste momento o PSG na Ligue 1 é como se o Real Madrid estivesse a jogar na liga portuguesa. Em Itália a diferença é a mesma mas não assente em dinheiro e sim em peso histórico. O maior clube é o maior clube e é o que pesa num campeonato muito disputado nos segundos lugares mas dominado no primeiro. O mesmo com o campeonato alemão. A diferença na qualidade é grande e o Dortmund, que é a única equipa que pode fazer frente ao Bayern de Munique, está constantemente a perder os melhores jogadores para esse mesmo Bayern. Passam vários anos, os campeões são os mesmos.

O oposto aconteceu em Inglaterra. Leicester foi um campeão inédito, com mérito, pontos de avanço e jogadores fantásticos. Não acredito, no entanto, que consiga manter-se no top quatro para a próxima época. O Leicester não foi apenas muito bom. A verdade é que também aproveitou a fraca época dos Liverpool, Chelsea, Manchester United e Manchester City. Algo que não acredito que aconteça de novo, até porque as mudanças vão ser muitas (para melhor) nesses mesmos clubes. O Leicester tem de se concentrar em manter-se nos dez primeiros lugares consistentemente e, eventualmente, começar a sonhar se tudo estiver bem no último terço da época.

Quanto ao Europeu, não há Benzema, Verratti, Kompany, Coentrão, Chamberlain, entre muitos outros. Já são muitas as baixas confirmadas para este campeonato da Europa para o qual eu considero a Inglaterra favorita. É apenas um instinto de quem vê uma equipa jovem, rápida, forte fisicamente e com aquela paixão do futebol inglês, que vive o jogo pelo jogo. Um ataque com Vardy e Kane tem muitas razões para sonhar. Para Portugal tudo vai depender da vontade de Fernando Santos em continuar a insistir num trio ofensivo sem uma referência ofensiva. Algo que apenas tem produzido um fraquíssimo jogo ofensivo e todas as vitórias pela margem mínima. Lá por serem bons não quer dizer que saibam atacar juntos e, principalmente, posicionar-se. Quando os médios são obrigados a perder dois segundos para ver e pensar onde pôr a bola é sinal de que a máquina não está a funcionar em pleno.

Permitam-me agora que fale um pouco de Dunga, o selecionador do Brasil. Este rapaz, que ganhou o nome Dunga por falar pouco, decidiu, mais uma vez, que Jonas não era digno de ir à seleção. Estamos a falar de um jogador que é o melhor marcador da liga e um dos melhores da europa. Com uma colocação impressionante, um sentido de baliza muito raro e um toque de bola invejável. Já que o impeachment da Dilma foi para trás eu sugiro um impeachment a Dunga, que tem um cão mas preferiu caçar com gato.

Num pulinho a Milão o Real Madrid e o Atlético repetem uma final que até há três anos era inédita. Nunca duas equipas da mesma cidade tinham jogado uma final da Champions. Em três épocas isto aconteceu duas vezes e com os mesmos protagonistas. Um Real Madrid que renasceu com Zidane, que transmitiu confiança e garra numa equipa que estava perdida e essencialmente percebeu que a defesa do Real comete muitos erros infantis e que precisa de Casemiro a tapar o meio campo. Um jogador que fez a diferença num meio campo pouco combativo defensivamente. Zidane tem aquilo que não teve Mourinho: carta branca para montar o plantel como quiser e com quem quiser. Já fazia falta esta mudança de estratégia em Madrid, onde quem mandava eram sempre os jogadores. O Atlético repete a final eliminando duas equipas que jogam o futebol oposto ao dos Colchoneros. O Barcelona e o Bayern não conseguiram fazer frente à equipa mais combativa e chata dos grandes europeus. Todos correm, todos trabalham e, no final, todos ganham.

O Atlético já saiu da luta pelo título espanhol, onde continuam Barcelona e Real Madrid. O Barcelona tem tudo para ser campeão com um Suarez em grande forma e a uma vitória do título. O Real vai ter de esperar por uma improvável escorregadela culé.

Na mesma situação estão o Benfica e o Sporting. Na entrada para a última jornada o Benfica tem tudo para ser tricampeão. Vai jogar em casa, com um estádio esgotado e com um Nacional que apenas está a cumprir calendário. O mais provável é que haja goleada na Luz e uma festa vermelha pelas ruas que saem da rotunda do Marquês. Os leões foram mais consistentes ao longo do campeonato mas qualquer um será um justo campeão. O Sporting também teve uma fase fraca em que o Benfica goleava todas as jornadas. O Benfica, aliás, tem mais nove golos marcados do que o Sporting. Veremos o que diz Jesus se perder, porque nessa fase dizia que quem ia à frente era melhor porque ia à frente. Nesta altura já virou o discurso. O normal com Jorge Jesus.

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