40 Anos Sem Variações…
A 13 de junho de 1984, dia de Santo António, o mundo recebe a triste notícia da partida de António Variações.
António Ribeiro, as origens…
António Joaquim Rodrigues Ribeiro, mais conhecido por António Variações, nasceu a 3 de dezembro de 1944, filho de Deolinda de Jesus e Jaime Ribeiro, em Fiscal, uma pequena freguesia no concelho de Amares, em Braga.
Teve uma infância feliz, porém dura. Não era de famílias muito afortunadas e teve desde muito cedo de ajudar nas mais diversas tarefas, como tomar conta dos seus irmãos.
O gosto pela música parte da sua família, que pertencia a um rancho folclórico.
A sua juventude…
Como a maioria das crianças daquele tempo, largou a escola, tendo apenas o diploma da quarta classe, e foi trabalhar para Lisboa para não só ajudar a família, como também para começar a ter as suas poupanças. Aos doze anos, começou a trabalhar como marçano, ou seja, aprendiz de empregado de balcão e comércio.
Em 1966, dez anos depois da sua chegada a Lisboa, vai cumprir serviço militar em Angola na Guerra Colonial, também conhecida por Guerra do Ultramar. O serviço durou três anos e pouco se sabe acerca da vida de Variações durante este tempo.
Pelo mundo…
Entre 1970, quando acabou a tropa, e 1976, quando começou a trabalhar no primeiro salão de cabeleireiro unissexo em Lisboa, António esteve sempre em mudança: mudança de país, de cidade, de casa e de profissão. Não tinha medo do desconhecido e aventurava-se a descobrir a vida e o mundo.
Londres
Aos 27 anos parte para Londres, onde fica cerca de um ano, e, entre o chegar e o partir, apaixona-se por Fernando Ataíde (conhecido cabeleireiro no panorama Lisboeta), o seu grande amor. Esta relação durou seis anos, sendo reatada noutros moldes em 1981.
Em Londres, enquanto trabalhava num colégio privado a servir chá às professoras e a fazer limpezas, nasce a sua paixão pela profissão de barbeiro. A sua irmã Amélia e o seu irmão José tinham um salão de cabeleireiro, o José’s Hairdresser, em Beaconsfield.
Amsterdão
Parte para Amsterdão em 1974, onde viveu cerca de seis meses e depois, por gostar tanto, passou a ir lá com alguma frequência.
Tirou na capital holandesa um precioso curso de barbeiro e viu pela primeira vez um concerto da sua ídola, Amália Rodrigues – para quem mais tarde, em 1983, faz a abertura de um concerto. Regressou em 1976, quando recebeu um telefonema da sua mãe a contar a triste notícia de que o seu pai tinha falecido.
Variações, Ataíde e Rosa Maria
Rosa Maria era esteticista no Ayer e mais tarde tornou-se sócia do Trumps.
Esta conheceu Fernando num dos cabeleireiros no qual ambos trabalhavam e acabaram por se apaixonar e ter uma relação.
Variações e Rosa Maria conheceram-se num acaso da vida e tornaram-se grandes amigos e, passado um tempo, este reencontra Fernando. A partir desse momento, começaram a fazer tudo juntos: a ir jantar juntos, ir à discoteca juntos… Mas Rosa Maria, apesar de gostar imenso de Fernando e de António, sentiu-se a mais e decidiu terminar a sua relação com Fernando.
Tempos depois, António e Fernando reatam a sua relação.
“Cabeleireiro não! Barbeiro.”
Variações trabalhou em dois salões de cabeleireiro muito conhecidos em Lisboa: o salão Isabel Queiroz do Vale e o salão Baeta. Em 1979, decide abrir a sua própria barbearia, à qual deu o nome Pró Menino e Prá Menina por ser uma barbearia unissexo. Este afirmava ser barbeiro e não cabeleireiro porque o que lhe interessava era o corte e não o penteado.
O Reconhecimento
Os primeiros anos com um contrato discográfico, com a EMI – Valentim de Carvalho, foram lentos e longos, sem que nada acontecesse para tornar a sua obra em mais do que umas maquetes caseiras.
Após os seus lançamentos, a breve obra que Variações gravou entre 1982 e 1984 (o ano da sua morte) foi suficiente para as tornar numas das maiores e mais unânimes obras entre as grandes referências na história da música popular portuguesa.
Anjo da Guarda (1982)
Um álbum intemporal, que assenta numa forte crítica social e que pode ser entendido como uma conversa de António para com os ouvintes.
Dar e Receber (1984)
Foi gravado em pouco mais de duas semanas e é dedicado a Fernando Pessoa. Dar e Receber saiu meses antes da sua partida.
Última aparição televisiva, cancelamento de espetáculos e hospitalização
Em janeiro de 1984 participou num programa de Júlio Isidro onde afirmou não estar bem da voz e, por isso, não cantou músicas novas.
Devido a uma tosse intensa que não passava, viu-se obrigado a cancelar vários espetáculos.
Numa viagem de regresso a Lisboa, António vinha com bastante febre e ficou ao cuidado de Fernando, mas a doença piorou e foi levado para o Hospital Pulido Valente, a 18 de maio de 1984. Aí foi-lhe diagnosticada uma broncopneumonia bilateral grave e passou o resto dos seus dias num quarto de hospital, segundo muitos, sempre a cantar.
A morte na flor da idade
Acaba por falecer no dia 13 de junho, dia de Santo António e dia de nascimento de Fernando Pessoa (em 1888), meses antes de comemorar os seus 40 anos.
1984 ficou marcado por uma consagração pública que, infelizmente, o seu corpo não conseguiu acompanhar.
A causa da sua morte nunca foi confirmada, mas muito se especulou que pudesse ter sido por SIDA; e, se assim foi, António teria sido um dos primeiros casos de SIDA em Portugal, porém nada se sabe acerca disso. A autópsia foi entregue à família, que decidiu não revelar detalhes.
Não é (d)o tempo, nem é o tempo que o faz…
Era por muitos considerado um “extraterrestre”. Era pecado ser diferente e António, mesmo quando ainda não era Variações, tinha uma forma de vestir, de estar e de ser diferente dos restantes.
A sua música quebrou barreiras entre o rock e a música popular portuguesa, destacando-se pela fusão de estilos e influências. Esta inovação teve um grande impacto na música nacional, influenciando-a nas décadas posteriores à sua morte.
Variações foi um artista que, por toda a sua idiossincrasia, se tornou incompreendido. A obra e o pensamento do artista continuam presentes no nosso quotidiano, sendo este uma grande inspiração para muitos, não só no meio musical.
Não é (d)o tempo, nem é o tempo que o faz… António Variações não estava à frente do seu tempo, Portugal é que estava atrasado.
Fonte da capa: Observador
Artigo revisto por Sofia Santos
AUTORIA
Beatriz não vive sem música e tem uma playlist para todas as ocasiões. Entrou na Magazine para escrever sobre quem mais gosta de ouvir e, após um ano como redatora de Música, aceitou o desafio de ser editora no mesmo ramo. Está no 2.° ano de Publicidade e Marketing e no futuro espera vir a unir o gosto pela escrita e pela música a estas duas grandes áreas.