Será que o confinamento é opcional?
Apesar de sentirmos que a nossa vida estagnou desde março de 2020, a verdade é que ela continua a acontecer, mesmo debaixo do nosso nariz, ainda que não a possamos viver da forma como gostaríamos. Quer dizer, obviamente que não estou a contar com aqueles que continuam a achar que o confinamento é algo opcional.
Sinto que o primeiro grande confinamento, entre os meses de março e maio de 2020, foi uma espécie de apocalipse zumbi bastante positivo. Depois do pânico inicial e do medo que se apoderou das nossas vidas, as ruas ficaram desertas e parecia que todos estávamos no mesmo barco a remar na mesma direção.
No entanto, apesar de já termos respirado um bocadinho de alívio, o bicho não desapareceu e a “rédea demasiado solta” fez com que voltássemos quase à estaca 0. E aqui estou eu, novamente em confinamento, a desesperar para que tudo isto acabe e seja relembrado como um pesadelo nas nossas vidas.
Gostava de dizer que, apesar de tudo, continuamos todos no mesmo barco e a remar na mesma direção, mas, se o fizesse, não estaria a ser sincera. A verdade é que sinto que se cansaram todos de remar e só um terço da população é que tem tentado manter-se no barco. O resto saltou para o mar e fez a festa que desejavam há muito.
Não vou dizer que não gostava também de “saltar fora” e de festejar ou que não sinto falta de estar com os meus amigos e familiares. No entanto, acredito que não seja o momento ideal para o fazermos e qualquer pessoa com “dois dedos de testa” pensaria o mesmo que eu. Infelizmente, alguns têm a testa bem pequena e não cabe lá sequer a ideia de que estamos em confinamento, o que leva a que, muitas das vezes, sejam estas as pessoas que organizam as boas das festas ilegais.
Começa a ser um pouco cansativo, e até desmotivador, ouvir nas notícias a quantidade de festas que foram interrompidas pelas autoridades nos últimos dias. Torna-se ainda mais triste saber que foi necessário o reforço do patrulhamento no dia de Carnaval para evitar situações infelizes como as que temos assistido.
Percebo que este não é o início ideal do ano de 2021. Percebo também que estar em casa possa ser bastante desgastante e até stressante. Como sou boa rapariga, consigo ser compreensiva a esse ponto. A única coisa que me escapa é a declaração que inclui nas exceções ao confinamento a realização de uma festa e o ajuntamento de pessoas sem qualquer medida de segurança sanitária. A Covid-19 foi oficialmente extinta e eu não dei por isso? Bem sei que estou quase a viver debaixo de uma pedra, mas um acontecimento histórico como esse certamente não me passaria ao lado.
Para onde será que foi a empatia e a compaixão que todos diziam ter ganho com a pandemia? De que serviram as palmas à janela, se agora, quando mais precisamos, não conseguimos estar em casa e ajudar todos os profissionais que estão na linha da frente? Como é deitar a cabeça na almofada e não sentir o peso na consciência de que podemos ter posto a vida dos que mais amamos em risco? Gostava de sentir essa liberdade utópica que muitos sentem neste momento. Gostava de sair à rua, ir ter com os meus amigos e sentir-me bem com isso, mas não sinto e ninguém o devia sentir neste momento.
As minhas palavras vão agora para todos aqueles que não respeitam o confinamento: não interessa onde vais se não for importante. Não interessa se “são só cinco minutos” ou se “só lá vão estar cinco pessoas”. Não interessa se é a festa do ano, o Dia dos Namorados, da Mãe ou do Pai. Não interessa se estás farto de estar em casa ou se já esgotaste todas as opções que acabam com o teu tédio. Nada disso interessa quando há pessoas a lutar pela vida e outras tantas a ajudá-las nessa luta. Não queiras fazer parte da bolha egoísta e não esperes que te aconteça a ti para perceberes que não o devias ter feito.
O bicho ainda não morreu. Não deixes que ele te ganhe. Fica em casa.
Artigo revisto por Inês Pinto
AUTORIA
Com quase duas décadas de vida, aqui vos apresento a rapariga mais extrovertida que possam vir a conhecer. Nascida e criada na margem sul, sítio onde são feitos os sonhos, garante que tem uma mão cheia deles. Foi na área da comunicação que encontrou o melhor que a vida lhe podia oferecer – a oportunidade de conhecer histórias e de contá-las a quem mais as deseja ouvir. Prazer, chamo-me Margarida.