“O Clube”: a exclusiva e luxuosa vida noturna em Lisboa
NOTA: Este artigo contém spoilers!
São cada vez mais as apostas no mundo do streaming e parece que em Portugal não é diferente. Com a chegada da nova plataforma “OPTO”, da SIC, nos finais de 2020, várias produções nacionais têm feito um grande sucesso. O Clube é uma dessas excelentes apostas que, num ambiente repleto de erotismo, retrata a vida noturna em Lisboa e os segredos que todos desconhecem.
Com um elenco de luxo, esta série centra-se no bar de alterne mais famoso da capital – o Clube –, que é frequentado por figuras mediáticas, como empresários, políticos ou jogadores de futebol que procuram a companhia das mulheres mais cobiçadas (pela sua sensualidade, exclusividade e, claro, confidencialidade), acabando por não resistir, igualmente, ao famoso bife do lombo! Por detrás deste jogo de sedução, inicia-se uma grande luta por poder e negócios ilegais que são o motor da trama.
Criada por João Matos, esta série foi inspirada nas histórias do porteiro da famosa discoteca “Elefante Branco”, muito frequentada durante os anos 90; portanto, a primeira temporada é narrada por Viana (José Raposo), o porteiro d’O Clube há muitos anos que preza pelo sucesso desta casa, por ser muito amigo de Vasco(Fernando Rodrigues), o proprietário.
A história começa quando Jéssica (Filipa Areosa) convence as suas amigas – Samara (Sharam Diniz) e Rute (Vera Moura) – a ir ao Clube, na tentativa de descobrir informações sobre a sua irmã, Andreia (Sara Matos), que se encontra desaparecida. É no Clube que Jéssica consegue ir descobrindo pistas sobre o paradeiro de Andreia, nomeadamente quando Vera (Margarida Vila-Nova), a dona do bar, permite que Martina (Ana Cristina de Oliveira), uma empresária russa, leve as suas miúdas para entreter os clientes.
Martina Chernoff é, sem dúvida, a personagem mais misteriosa: é uma mulher fria, implacável, perspicaz que possui vários negócios ilegais na noite, incluindo tráfico humano, uma vez que possui dezenas de mulheres em cativeiro que vende a homens de todo o mundo. O Clube revela-se como uma grande oportunidade para experimentar as raparigas, antes de as mandar para o Médio Oriente ou para África. A verdade é que Andreia é uma dessas raparigas que a antagonista guarda em cativeiro, num armazém abandonado, juntamente com centenas de mulheres que foram apanhadas para serem vendidas, sobrevivendo em condições desumanas e perigosas.
As personagens de Luana Piovani, Vera Kolodzig e Carolina Torres – Michelle, Maria e Irina, respetivamente – tornam-se numa agradável surpresa para o espetador pelas diferentes personalidades e histórias de vida:
MICHELLE (Luana Piovani)
Michelle é uma mulher brasileira, moderna, sofisticada e sedutora, sendo, por isso, uma das acompanhantes mais requisitadas do Clube. A certo ponto da história, Michelle depara-se com uma situação que a marca para o resto da vida: a violação. Quando se encontra num hotel com um dos seus clientes, Michelle começa a sentir-se desconfortável, devido aos comportamentos agressivos do cliente que, depois de ser completamente violento, a obriga a ter relações com ele, ignorando os gritos e o desespero da acompanhante de luxo. Este acontecimento faz com que Michelle deixe de conseguir ser tocada por um homem, o que pode pôr em risco a sua posição no Clube.
Embora seja uma mulher feroz e cheia de garra, a brasileira encontra-se num momento frágil e afirma que, devido à sua profissão, não pode denunciar o agressor, porque foi paga, mas, graças à ajuda da sua amiga Maria e de um jornalista, Michelle ganha coragem e enfrenta os seus medos, denunciando a violação à polícia.
MARIA (Vera Kolodzig)
Maria é das primeiras mulheres do Clube, uma vez que entrou para esta profissão quando tinha 18 anos, sendo, portanto, das mulheres mais exclusivas e caras e, por isso, das mais requisitadas. Maria tenta conciliar a sua vida pessoal com o seu trabalho, uma vez que tem uma filha e tenta gerir o seu tempo, de modo a conseguir estar presente nos momentos mais importantes da vida dela e a conseguir levá-la ao colégio todos os dias.
O inesperado acontece quando acompanha um cliente a um jantar de negócios e se cruza com a mãe de uma das colegas da sua filha, que a reconhece e descobre, assim, a sua verdadeira profissão, fazendo-lhe um ultimato, para que Maria tenha de explicar à filha qual é a sua verdadeira profissão. A maneira como este assunto é argumentado torna a história bastante interessante, porque vemos que Maria despe-se de preconceitos e assume a sua verdadeira profissão, recebendo o apoio de quem menos esperava.
IRINA (Carolina Torres)
Irina é uma das raparigas mais jovens do Clube. Rebelde e ambiciosa, esta personagem encontra-se em Portugal há pouco tempo e veio através de Vera, a dona da discoteca. Esta jovem gosta de se sentir desejada pelos clientes e, ainda mais, se pagarem bem pela sua companhia. A verdade é que Irina fica deslumbrada com o que consegue ganhar ao trabalhar na noite: o dinheiro que ganha paga-lhe os vícios, uma vez que consome cocaína.
Apesar de ter sido recrutada por Vera, é com a patroa que tem vários atritos, tanto por desobedecer às regras do Clube, como por consumir drogas dentro do estabelecimento, o que dá uma má imagem do espaço aos clientes e pode arruinar o negócio. Irina também se sente atraída por mulheres e, quando Martina aparece, as duas acabam por se envolver sexualmente e a vilã torna-a numa das suas raparigas. O que Irina não sabe é que esta relação pode ter um desfecho fatal…
Com a segunda temporada estreada pouco tempo depois do final da primeira, a atriz Matilde Reymão junta-se ao elenco para interpretar Cátia, uma rapariga que começa a frequentar o “Clube”. Esta personagem, além de trazer uma reviravolta na trama, é uma lufada de ar fresco no meio de momentos mais tensos, devido à sua personalidade livre e rebelde.
Esta produção portuguesa acaba por ser surpreendente, devido a vários fatores: desde a história à realização, “O Clube” é um produto inovador no mercado televisivo português. A verdade é que algumas das cenas são bastante cuidadas, arrojadas e existem pormenores que fazem toda a diferença, levando a que a série tenha bastante qualidade a nível de cenários e imagem.
Em relação às personagens, existe uma evolução e um desenvolvimento à medida que a história se desenrola e conseguimos perceber os seus motivos e as suas escolhas. A amplitude de temas abordados ao longo da série permite-nos, também, perceber como funciona, em parte, a vida noturna e todos os vícios e perigos associados. Normalmente, mulheres que têm esta profissão são marginalizadas da sociedade e são vistas como pessoas sem carácter ou dignidade, mas o que é certo é que O Clube permite ter uma perspetiva diferente: há toda uma vida pessoal, com problemas quotidianos que tornam estas personagens muito mais realistas.
Com episódios lançados semanalmente, O Clube encontra-se em exibição na OPTO e a segunda temporada, estreada a 26 de fevereiro, traz mais drama, mistério e muita ousadia à história que tem colado os portugueses ao ecrã.
Artigo revisto por Miguel Bravo Morais
Fonte da foto de capa: Fantastic Tv
AUTORIA
Atualmente a estudar Publicidade e Marketing, o João é apaixonado pelo mundo da comunicação: gosta de ler, escrever, desenhar, fotografar e está sempre a par de tudo o que se passa nas redes sociais e no mundo da televisão.
Na ESCS Magazine, encontrou uma grande oportunidade de se reinventar e pôr em prática a sua paixão pela escrita, sempre com criatividade, uma das suas ferramentas de trabalho.