Everything Everywhere All At Once – Todas as decisões importam
Qual é o impacto que as nossas decisões desempenham na vida de cada um? Esta é a questão levantada pela narrativa de Everything Everywhere All At Once. O filme, escrito e realizado por Dan Kwan e Daniel Scheinert, conta a história de Evelyn Wang (Michelle Yeoh), uma imigrante que tenta manter a sua lavandaria a funcionar, apesar dos problemas económicos levantados pela agente financeira, Deirdre Beaubeirdre (Jamie Lee Curtis). Waymond Wang (Ke Huy Quan) é o marido da protagonista, que apresenta os documentos para o divórcio como forma de captar a atenção da sua própria mulher. A filha do casal, Joy Wang (Stephanie Hsu), lida com problemas de autoestima enquanto tenta preservar a relação conturbada com os seus pais, que continuam no processo de aceitação da sua sexualidade. O drama familiar completa-se com Gong Gong (James Hong), o pai de Evelyn, responsável por questionar as opções de vida tomadas pela sua filha.
O tradicional drama familiar começa a mudar de forma quando Evelyn é apresentada ao “multiverse”, percebendo que o número de universos que existem é infinito e que, de alguma forma, todos estão interligados entre si. Através de uma tecnologia desenvolvida, Evelyn aprende a viajar entre os diferentes universos, ocupando o seu próprio corpo em diferentes realidades. Este fenómeno é conhecido como “verse-jumping” e, quando acontece, Evelyn adquire a memória, a emoção e as habilidades dos seus outros “eus”. A vida da imigrante responsável por um negócio de lavandaria ganha um novo propósito: vencer o poder de Jobu Tupaki, a identidade omnipresente na realidade infinita do espaço e do tempo, que ameaça destruir o “multiverse” e tudo à sua volta.
Larkin Seiple é o responsável pela direção de fotografia, que combina elementos aleatórios, criando ambientes caóticos e absurdos, contribuindo para reforçar a peculiaridade da narrativa. Todos os planos parecem ser pensados ao pormenor, assim como a iluminação e o jogo de cores utilizadas, que transmitem a semiótica por detrás de toda a mensagem de Everything Everywhere All At Once. Até mesmo durante as viagens entre os diferentes universos, os efeitos especiais utilizados passam despercebidos, como se estivessem normalizados no meio de toda a singularidade da cinematografia abstrata do filme.
A complexidade da narrativa está à altura do elenco principal. Michelle Yeoh é responsável por representar uma mulher com uma vida normal, que vê a sua rotina virada ao contrário quando percebe que é a única que pode enfrentar a força de Jobu Tupaki. Ao longo do filme, encontramos Yeoh a reviver as realidades alternativas de Evelyn – uma mestre de artes marciais, uma dominatrix, uma pinhata, uma cantora de ópera, uma chefe de cozinha, uma simples rocha e uma Evelyn com mãos de salsicha. Em todas estas versões, a atriz consegue transmitir as diferentes emoções sentidas, mostrando o seu lado mais dramático, mas sem nunca esquecer o humor, utilizado em timings perfeitos.
Stephanie Hsu também se destaca bastante, principalmente nos momentos partilhados com Yeoh. A atriz representa uma jovem-adulta que lida com as diferenças geracionais da sua família, enquanto tenta resolver os seus próprios problemas de autoestima. Mas há outra faceta que Hsu representa: uma jovem muito mais destemida, inconsequente, hilariante e cómica. Como se estes adjetivos não fossem suficientes para descrever a outra personalidade representada pela atriz, não se pode esquecer o guarda-roupa singular e colorido que dá vida a esta personagem inesquecível.
Everything Everywhere All At Once não é apenas um filme sobre universos infinitos e realidades paralelas. A verdade é que a principal premissa desta obra esconde verdadeiras mensagens sobre a própria vida humana. Apesar das possibilidades de existência ilimitadas, as vidas de cada pessoa são tão insignificantes quanto importantes, pelo que é imperativo valorizar a realidade em que se vive.
No fundo, fica explícito que a felicidade de cada um é aquilo que mais importa, pois a infelicidade não guia o caminho de ninguém. Da mesma forma, a família é a base de cada ser, pelo que desempenha um papel fundamental sobre a personalidade de cada qual. Para além de tudo isto, torna-se evidente que todas as decisões tomadas por cada pessoa têm um impacto na vida dos outros, influenciando a sociedade, o mundo e todo o universo à sua volta.
Fonte da capa: IMDb
Artigo revisto por Catarina Policarpo
AUTORIA
Perdidamente apaixonado pelo mundo do audiovisual. Adora procrastinar: ficar em casa, enrolado em mantas com uma caneca quentinha de chá enquanto vê um filme ou uma série é o seu passatempo preferido. Apesar de ser tímido, é através das palavras que consegue exprimir os seus pensamentos.