A beleza de sermos todos relativamente bonitos
O que é ser bonito? Será que sou?
Se a última pergunta for feita à vossa mãe, a resposta, provavelmente, será sim (a minha mãe acrescentará um “claro, és minha filha”). Se for feita à generalidade do público, irá variar. Se for feita a mim, é provável que torne a ser sim. Talvez isto se deva ao facto de não saber muito bem classificar beleza por si só, sem a associar a outras características da pessoa (com isto quero dizer que se vocês forem pessoas terríveis são feios, de certeza). Como tal, por vezes, também tenho dificuldade em localizá-la em mim.
Acho que ando desde o início dos meus dias a tentar perceber se sou bonita e até que ponto é que o sou. Lidamos todos com inseguranças ao longo da vida, mesmo quando somos “dentro do padrão” e, apesar de ser convencionalmente feio não se tratar de um crime, pode parecer que é. Parece que nos acrescenta uma sentença extra no que toca a lidar com o nosso próprio reflexo. Se as minhas características não são consideradas bonitas pelos outros, que beleza tenho eu?
Mas, afinal, o que é ser bonito? Os olhos claros são beleza? Os narizes direitos e pequenos são beleza? A pele “limpa” é beleza? Os traços faciais mais finos são beleza? A magreza é beleza? Sim, não só, mas também. Em criança eram quase objetivos meus, além de serem pontos de comparação desde essa altura. Lembro-me de começar com problemas de autoestima muito cedo e de já ter várias possíveis cirurgias plásticas projetadas para o futuro por volta dos 15/16 anos. Tudo isso é ultrapassável e é um progresso que se vai fazendo.
A comparação entre as belezas e a pressão que sentimos para ter certas características são, provavelmente, o que mais nos destrói a autoestima. Sabermos que somos, para os outros, o menos bonito num grupo é um verdadeiro atentado ao amor próprio. Ter alguém a dizer que não somos bonitos é ainda pior, seja em que situação for, e leva a comparações contínuas. Já estive nesse papel e acredito que algum de vocês também já tenha estado.
Vindo de alguém que ganhou amor próprio há relativamente pouco tempo, nada disto tem assim tanta importância. Há sempre algo bonito em toda a gente (cliché, eu sei), mas que só se realça quando acreditamos nessa beleza. O fake it ‘til you make it é muito mais poderoso do que achamos que é, porque ser bonito é acreditar que o somos. Além disso, a necessidade de alguém nos rebaixar e nos comparar é somente uma projeção de inseguranças próprias e não há nada que possamos fazer em relação às atitudes dos outros.
Ver beleza em nós é aceitar que nunca seremos a pessoa mais bonita do mundo porque ela não existe, por muito que as revistas nos convençam do contrário. Havemos de ser os donos da beleza aos olhos de alguém por um conjunto de razões; beleza física por si só não será o fator principal. É, para mim, impossível eleger a pessoa mais bonita porque é tudo demasiado relativo e porque, no fundo, não é uma competição. Se, aos meus olhos, toda e qualquer pessoa tem beleza, porque não haverei eu de ter? Porque não haverão vocês de ser bonitos também?
Fonte da capa: Pexels
Artigo revisto por Bruna Meireles
AUTORIA
A escrita sempre foi um dos seus guilty pleasures. Desde pequena escrevia textos sobre tudo e sobre nada que entregava a alguém que nada conseguia fazer com eles. O seu intuito, com a entrada na revista, é deixar nas mãos de alguém os seus textos e opiniões de qualidade por vezes duvidosa – mas esforçada – e que esse alguém lhes veja utilidade. Nem que estes sejam, apenas, um entretenimento irrelevante porque a irrelevância também nos acrescenta algo.