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A pressão para algo mais

As relações interpessoais são, regra geral, uma confusão pegada. Quando falamos em relações amorosas ou românticas (assumidas, semi-assumidas, escondidas, em criação ou qualquer outra variante possível), ainda mais confuso fica. As falhas ou falta de comunicação, o medo de não ser correspondido, as manias de cada um, os ritmos de envolvimento diferentes e tudo o resto tornam o processo mais difícil.

As relações exigem de nós um jogo de cintura semelhante ao de uma dançarina com um hula hoop; e a verdade é que quando nos aproximamos de alguém e se cria sentimento – seja ele qual for –, muitas vezes fechamos os olhos aos inconvenientes, fingimos não ouvir o que não nos convém e vamos aceitando o que nos é pedido ou exigido sem grande argumentação. Esta ideia de trocarmos os nossos sentidos mais importantes por uns quantos beijos na boca deixa muito a desejar.

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Faça-se aqui uma divisão entre as novas relações e aquelas que já ultrapassaram os 30 dias de free trial. Com o avançar do tempo chega o avançar das coisas – quer dos sentimentos, quer de todo o envolvimento; mas vamos deixar isto em pratos limpos: estou a falar, neste caso, de envolvimento sexual. Quando estamos com uma pessoa nova tentamos ser quase “perfeitos”. Temos a tendência de lhe querer fazer todas as vontades e de corresponder sempre com a mesma intensidade, mesmo que não estejamos para aí virados. A verdade é que os sentimentos se desenvolvem de formas e a ritmos diferentes para toda a gente e isso não significa que a relação não vá funcionar. Há quem já fale em amor ao fim de dois dates e há quem demore mais tempo a assumir uma mera paixão. Os ritmos diferentes são um problema? Não! Os ritmos diferentes entre pares são um problema gravíssimo no tango ou noutra dança qualquer; mas nas relações basta falar-se sobre isso e ter uma certa calma e paciência – para pressão já chega a universitária. 

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Quando se fala de sexo ainda menos pressão se deve sentir (leia-se “zero”). O corpo alheio não nos pertence e, como tal, nada nos deve. Se o nosso parceiro sente necessidade de forçar uma primeira vez através de falinhas mansas ou joguinhos psicológicos, meus amigos, começamos mal. A primeira vez acontece quando tem de acontecer – seja esse tempo duas horas ou dois anos – e deve ser algo natural. Há quem marque dia e hora como nas finanças, mas também não podemos fazer juízos de valor; há quem tenha OCD com horários e cada um tem o seu método. A visão do próprio corpo é algo muito pessoal. Há quem o veja como um “templo” e dê muita importância ao envolvimento sexual e há quem veja a questão com mais leveza. Todas as visões são legítimas, desde que se fale sem tabus e sem exigências sobre isso. Caso contrário, caros leitores, fujam, por favor. 

Não é só nas novas relações que se sente pressão para relações sexuais. Muitas vezes achamos, erradamente, que temos de querer sempre e que temos de satisfazer a pessoa com quem estamos constantemente, o que acaba por nos forçar a algo que se calhar nem queremos assim tanto naquela altura. Esta ideia de disponibilidade inquestionável foi-nos imposta pela sociedade em que vivemos e, se pensarmos bem nisso, torna-nos quase num objeto do outro, que negligencia as próprias vontades. Dizer que “não, porque não” é okay; dizer que “não, porque não me apetece” é okay, mesmo com a nossa namorada ou namorado de sempre; mesmo depois de já ter acontecido uma centena de vezes. E forçar alguém a ter relações sexuais connosco ou ser forçado a tal será sempre abuso e não há “mas” que justifique. Também não devemos fingir querer para deixar o outro feliz. Se temos de nos sexualizar para que gostem de nós, então não estamos com a pessoa certa. 

A diferença de timing, de vontades e de envolvimento para cada pessoa não devem nunca ser um problema numa relação e muito menos um motivo de discussão, chantagem ou pressão. Como disse, as relações exigem jogo de cintura, mas há que estabelecer limites. O “não” é sempre necessário e bem-vindo. E para as inseguranças de plantão, é importante referir que os “nãos” não significam que o sentimento morreu ou que alguém não gosta de nós. As pessoas têm quereres, quero eu dizer.

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Artigo revisto por Andreia Custódio

AUTORIA

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A escrita sempre foi um dos seus guilty pleasures. Desde pequena escrevia textos sobre tudo e sobre nada que entregava a alguém que nada conseguia fazer com eles. O seu intuito, com a entrada na revista, é deixar nas mãos de alguém os seus textos e opiniões de qualidade por vezes duvidosa – mas esforçada – e que esse alguém lhes veja utilidade. Nem que estes sejam, apenas, um entretenimento irrelevante porque a irrelevância também nos acrescenta algo.