Editorias, Opinião

A última boa piada que ouvi

Não sei como é que isto me passou ao lado durante tanto tempo, mas a verdade é que passou. Eu sei que venho atrasada, e, provavelmente, à data de publicação deste artigo os ânimos já acalmaram. Pelo menos assim o espero.

Então não é que, numa entrevista dada ao Observador, a candidata à Presidência da República Marisa Matias, questionada sobre qual a última boa piada que tinha ouvido, respondeu “que o Sporting ia ser campeão”? Como é que ela se atreve? Como? Que ultraje!

Quando comecei a ver tanto sportinguista afectado e ofendido não fui ver o que ela tinha dito. Juro que pensei que ela tinha dito a maior barbaridade deste mundo e não queria destruir a imagem que tenho dela. Deixei passar, vi uns comentários muito parvos — uns machistas, outros só parvos — e deixei-me estar. Até que alguém partilha mesmo aquilo que ela disse e rebento a rir. Ah, foi isto que motivou tanta chatice? Realmente, ó Marisa, que raio de coisa é esta? Não sabes que: a) as mulheres não podem tecer comentários sobre futebol (eu li isto, a sério: uma pessoa disse-o com todas as letras!); b) os sportinguistas este ano estão muito mais sensíveis?

De facto, tenho a certeza de que, se lhe fizessem a pergunta agora, a Marisa iria responder que essa piada tinha sido a de pessoas proferirem impropérios e outras coisas que provam que não usam muito o cérebro por ela ter dado a resposta que deu. Isso sim, tem ainda mais piada.

Vamos lá falar a sério (por um bocadinho): quantas piadas e provocações (porque foi isso que a Marisa fez) sobre futebol se fazem em Portugal? Milhares, todos os dias. Se uma piada sobre um clube faz uma pessoa mudar o sentido de voto em relação ao candidato que a expressa então desculpem mas as pessoas é que estão erradas: a mim não me importa o clube dos candidatos nem as piadas que fazem sobre os outros clubes. Importa aquilo que defendem. Ok, se forem portistas é um ponto a favor. Calma, estava a brincar!

Para uns o problema é uma mulher mandar piadas sobre futebol — como se as mulheres não tivessem esse direito. Para outros ela nem devia ser levada a sério porque é do Bloco de Esquerda — façamos uma pausa para rir. Para (ainda) outros ela não devia desviar-se de assuntos de política — então queixem-se dos jornalistas que fizeram as perguntas. Cá para mim, o problema é as pessoas terem necessidade de levar tudo demasiado a sério, de terem de arranjar sempre forma de se chatearem com uma opinião (ou uma piada ou o que for) divergente. Mas o que sei eu? Eu fartei-me de rir com a piada da Marisa.

A Sofia é mulher, escreve sobre futebol, é portista numa família sportinguista, é de esquerda e escreve segundo o Antigo Acordo Ortográfico (e hoje, por acaso, escreveu com mais ironia do que o normal).

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