Opinião

Ambição: a Bem ou a Mal?

“Para uns, a ambição está na origem de todas as conquistas humanas; para outros, a ambição é a causa de muitos dos problemas da humanidade.”

Será que a ambição tem o seu lugar numa sociedade progressista? Hoje em dia, a ambição é censurada por estar na origem de certos defeitos humanos, tal como o materialismo e a pretensão. Acredita-se que o desejo desmedido pelo sucesso e pela fortuna conduz o Homem à teimosia. Todavia, a sua ausência impede-o de adquirir os materiais necessários para o avanço social, económico e tecnológico. 

A dúvida sobre a qualificação da ambição como qualidade ou defeito surgiu do desejo comum, numa sociedade capitalista, de ambicionar bens materiais. Se a fortuna existir na ausência de uma boa condição moral, a ambição torna-se perigosa. Uma pessoa materialista irá dar valor somente ao prazer superficial que esses bens lhe proporcionam, ignorando os benefícios potenciais de ser minimalista. 

A verdade é que o minimalismo é um desafio. O Homem é, por natureza, um ser insatisfeito e incapaz de se contentar com o mínimo. Está constantemente em busca do desconhecido e de sensações novas para alimentar o seu desejo de evoluir através das suas experiências. É graças à ambição que conseguimos expandir a nossa esfera de conhecimentos. 

Durante a Era dos Descobrimentos, do século XV ao XVII, os navegadores portugueses mostraram determinação. Para além do interesse pelo inexplorado, foram motivados pela Reconquista e pela vontade de encontrar diferentes rotas de comércio. Essa obstinação foi o ponto de partida de várias conquistas humanas – as viagens marítimas permitiram avanços significativos na ciência náutica e na cartografia. 

Por outro lado, levaram também a que se cometessem atrocidades na invasão a territórios já habitados. Este tema controverso é associado a populações escravizadas e torturadas até à morte. É um exemplo de que a ambição também tem o seu lado negativo. Para que ela seja uma qualidade, é necessário aprender a realizar os seus objetivos sem pôr em risco a vida dos outros. 

A devoção de Muhammad Ali (1942-2016) é fruto de admiração, nomeadamente pelo progresso social que causou. Inicialmente desprezado por ser de origem norte-americana, é atualmente considerado um dos melhores pugilistas da história. 

Muhammad Ali, tricampeão mundial dos pesos-pesados. Fonte: IndieWire

A sua ambição profissional levou-o a um novo patamar social, quebrando as expetativas que lhe tinham sido atribuídas. O jovem atleta ignorou os preconceitos a propósito das capacidades da população afro-americana. O seu trabalho árduo e a sua dedicação promoveram o seu reconhecimento, sendo atribuído um novo valor à sociedade que sofre de racismo. 

Assim, é correto afirmar que a ambição é uma qualidade útil para a humanidade, desde que não seja usada para fins egoístas. A título de exemplo, enquanto a tenacidade de uns foi benéfica e está na origem de diversas conquistas humanas, a de Stalin, ex-primeiro-ministro da União Soviética que pretendia alcançar o poder absoluto, conduziu ao massacre de inocentes.

O Homem deve ser ambicioso sem ultrapassar os limites. Isto é, deve manter o equilíbrio entre a concretização dos seus desejos e o bem da comunidade. Quando uma pessoa é ambiciosa demais, ela não olha a meios para atingir os seus fins, prejudicando os outros indivíduos. No fundo, a reflexão baseia-se no egoísmo e na sua falta de empatia. Se a ambição cerra o coração, a chave é a compreensão. 

Por Marília Lúcia

Artigo revisto por Ana Sofia Cunha

AUTORIA

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Aspirante a jornalista, nasceu no coração da Europa e foi laureada com o diploma do European Baccalaureate. O amor pela escrita está sempre presente na sua vida, sob a forma de diários de viagem e artigos de opinião. Sonha em ser redatora, vive da curiosidade e da criatividade. Desde nova, dedica-se a experiências que abrem os horizontes do seu mundo pessoal e profissional.