As representações portuguesas na Eurovisão
O mês de maio tem um lugar especial no coração dos fãs de música: neste mês, acontecem as duas semifinais e a final do Festival Eurovisão da Canção. Como se sabe, cada país tem de selecionar uma música para o representar, e é aqui que surge o Festival da Canção. Alguns não lhe dão muita importância, mas é com o Festival da Canção que temos a chance de mostrar à Europa o que somos.
Foi em 1950 que o conceito da Eurovisão foi criado pelos “grandes cinco” – França, Reino Unido, Espanha, Itália e Alemanha -, mas Portugal demorou 14 anos a entrar e, por conseguinte, a aparecer o Festival da Canção. No dia 2 de fevereiro de 1964, nos estúdios do Lumiar, em Lisboa, e televisionado pela RTP, aconteceu a primeira edição do Festival da Canção.
A primeira música a representar Portugal na Eurovisão foi “Oração”, de António Calvário (que obteve zero pontos). De 1964 a 1975, o Festival tinha um nome diferente. Era conhecido como Grande Prémio TV da Canção Portuguesa e, nessa época, foram várias as músicas que, ainda que não tenham obtido um bom resultado na Eurovisão, nos marcaram: tivemos Simone de Oliveira com a Desfolhada Portuguesa e Paulo de Carvalho com o E Depois do Adeus (que foi uma das senhas utilizadas na madrugada de 25 de Abril).
Após a Revolução, decidiu mudar-se o nome do Festival: chamámos-lhe “Uma Canção para a Europa”, as “Sete Canções” e “Uma Canção Portuguesa”. Foi apenas em 1979 que estabelecemos o seu nome enquanto Festival RTP da Canção, o qual durou até 2001 (salvo em 1986, quando foi nomeado “Uma Canção Para A Noruega”). Durante esta época, foram vários os artistas que trouxeram músicas que se tornaram icónicas em Portugal, ainda que sem sucesso na Europa. José Cid e Um Grande, Grande Amor conseguiram ficar em sétimo na grande final; Carlos Paião cantou Playback (e não em playback), mas não encantou o público europeu; as Doce bem tentaram, mas também não obtiveram tal sucesso; os Da Vinci tentaram conquistar a Europa, sem sucesso; Sara Tavares “chamou a música”, e obteve o oitavo lugar na final.
Com o virar do século, os portugueses desejaram um maior sucesso na Eurovisão. Hoje sabemos que esse sonho se concretizou, mas os primeiros anos foram pouco promissores: entre 2004 e 2007, não conseguimos qualificar nenhuma música à final, e Portugal ficou a ver navios nas semifinais. Regressámos à grande final em 2008, repetindo o feito em 2009 e 2010, e a esperança de uma vitória foi restaurada. No entanto, logo depois seguiu-se uma seca entre 2011 e 2015, anos em que Portugal não passou das semifinais. Em 2016, Portugal não participou na Eurovisão e o sonho de levantar o microfone de cristal parecia demasiado distante – até ao ano seguinte. No Festival da Canção de 2017, Salvador Sobral encantou os portugueses e foi selecionado para levar o tema Amar pelos Dois à Europa. Desde a sua vitória em Portugal, as casas de apostas antecipavam que iria brilhar, colocando-o em oitavo lugar na final. No memorável dia 17 de Maio, Salvador Sobral fez história e tornou-se o primeiro português a ganhar o Festival Eurovisão da Canção.
As expectativas para o futuro eram boas, mas, quando hospedámos a Eurovisão (e apesar do lugar garantido na final), ficámos em último na classificação. No ano seguinte, mais uma vez, o sonho de ir à final ficou pelo caminho. Desde 2021, Portugal tem conseguido boas colocações na final. Ainda no ano passado, o Grito, de Iolanda, alcançou o décimo lugar numa edição muito renhida. São muitos os estrangeiros que têm apreciado cada vez mais as músicas que apresentamos. Muitos valorizam o facto de, quase sempre, enviarmos músicas na nossa língua tão bela – exceto em 2021, quando os The Black Mamba levaram uma música em inglês para representar Portugal. Este ano, os NAPA tornaram-se um fenómeno: conseguiram ganhar o Festival da Canção e seguiram para a Basileia. Chegaram à final, mas apenas obtiveram o vigésimo-primeiro lugar. Ainda assim, a sua música tem encantado o mundo.
É de referir que, ao longo destes anos de Festival da Canção, houve cinco edições que não se realizaram. Em 1970, Portugal boicotou a Eurovisão, uma vez que, na edição anterior, quatro países ficaram empatados no primeiro lugar. A frustração que isso gerou levou Portugal e outros países a não participarem nesse ano. Em 2000, fomos desclassificados da Eurovisão porque, na altura, os últimos lugares eram castigados com uma pausa no ano seguinte. Devido a cortes orçamentais, as edições de 2002 e 2013 não se realizaram. A última vez que Portugal não participou na Eurovisão foi em 2016, pois a RTP queria substituir e criar novos conteúdos. Desde então, Portugal participou em todas as edições – exceto a de 2020, que foi cancelada devido à Covid-19 – e, este ano, confirmou a quinta presença consecutiva na final. Quem sabe se, no futuro, alguém irá trazer o microfone de cristal de volta a Portugal.
Fonte da capa: Observador
Artigo revisto por Inês Gomes
AUTORIA
A Patrícia começou agora o segundo ano em Jornalismo, mas desde pequena sabia que queria escrever e informar. Sempre curiosa e atenta ao que a rodeia, encontrou na Magazine o espaço ideal para explorar temas variados e desafiar-se a contar histórias de forma criativa. Aceitou o desafio de assumir a editoria de Informação e está pronta para descobrir novas histórias e conhecer mais sobre o mundo.



