Media

“Causa Própria”: amor ou justiça?

A RTP arrancou o ano com o lançamento de uma nova série portuguesa: Causa Própria foi a aposta semanal da estação pública durante os dois primeiros meses de 2022. Apresentada como um retrato “dos bastidores dos tribunais portugueses”, a narrativa acompanha a investigação de um crime violento que abala uma pequena cidade portuguesa.

A série, realizada por João Nuno Pinto, foi escrita por Edgar Medina e Rui Cardoso Martins e ganhou vida através das interpretações de Margarida Vila-Nova, Nuno Lopes, Ivo Canelas, Maria Rueff, Catarina Wallenstein, Adriano Carvalho, António Fonseca, Afonso Laginha e Sílvia Chiola.

Fonte: IMDb

A juíza Ana Martins (brilhantemente interpretada por Margarida Vila-Nova), a personagem principal desta história, é colocada numa encruzilhada quando o seu filho David, que ganha vida através do jovem promissor Afonso Laginha, é acusado de um crime de homicídio. Todas as suspeitas apontam para o rapaz, mas estará uma mãe disposta a aceitar a verdade? O principal conflito da trama parece ser entre as crenças ideológicas defendidas pela juíza, que é, ao mesmo tempo, mãe de um possível assassino.

Um dos pontos fortes deste projeto é, sem dúvida, o nível elevado de todas as interpretações realizadas à frente das câmeras. As silenciosas expressões faciais de Margarida Vila-Nova são mais do que suficientes para perceber o que a sua personagem sente nos diversos momentos de tensão. Por outro lado, Afonso Laginha revelou-se um mestre em construir uma personagem que nunca transmite confiança ou segurança. Nunca sabemos, realmente, o que ele sente ou, sequer, se o que ele diz é, de facto, verdade ou se é mentira. Há que mencionar também a fantástica interpretação de Maria Rueff. A senhora da comédia mostra, assim, que é uma atriz completa, capaz de encarnar o papel de uma advogada com problemas pessoais por resolver. É uma personagem complexa, desconstruída lindamente pela prestigiada atriz. A inspetora Maria, vivida por Catarina Wallenstein, também merece o seu devido destaque. Afinal, representa todas as pessoas que não se encaixam dentro dos padrões incutidos pela sociedade, mas, mesmo assim, lutam todos os dias para merecerem o seu respeito.

Fonte: IMDb

O elemento mais surpreendente e marcante de Causa Própria é provavelmente a sua belíssima e enigmática fotografia. O responsável pelo trabalho é Kamil Plocki, que aproveitou as paisagens das Caldas da Rainha para construir um autêntico universo de mistério através da utilização do nevoeiro e da floresta, não esquecendo os grandes planos que transmitem uma sensação de solidão e vazio.

Fonte: IMDb

Desta forma, a mais recente série da RTP destaca-se do catálogo nacional, que continua em constante crescimento. As produções portuguesas mostram, uma vez mais, que estão aptas para concorrer com projetos internacionais.

Fonte da capa: Espalha-factos

Artigo revisto por Bruna Meireles

AUTORIA

+ artigos

Perdidamente apaixonado pelo mundo do audiovisual. Adora procrastinar: ficar em casa, enrolado em mantas com uma caneca quentinha de chá enquanto vê um filme ou uma série é o seu passatempo preferido. Apesar de ser tímido, é através das palavras que consegue exprimir os seus pensamentos.