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D.A.M.A: Foi assim no Campo Pequeno

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Há pouco mais de um ano passei o meu aniversário com um grupo de rapazes. Fiz-lhes uma entrevista num café de Trancoso. Depois, assisti ao soundcheck e pude ver o concerto no backstage, lado a lado com o Salvador Seixas, convidado daquela noite. Pela forma como me trataram naquele dia — acabei a noite a ser fotógrafa de toda a gente, até à última pessoa, na sessão de autógrafos — e pela conversa que tive com eles — na entrevista (http://escsmagazine.escs.ipl.pt/entrevista-d-a-m-a-a-nossa-casa-e-o-palco/) e fora dela — não mais voltei a ver os D.A.M.A da mesma forma. Só tinha estado meia hora com eles e já era tratada como parte da família.

Depois desse dia, reencontrei-os em dezembro, no Dolce Vita Tejo, e em maio, no estádio universitário. Na sexta-feira, fui vê-los ao Campo Pequeno, no primeiro de dois concertos totalmente esgotados. Uma semana antes encheram o Pavilhão Multiusos de Guimarães. O segundo álbum da banda, Dá-me um Segundo, saiu no passado dia 23 de outubro e é número um no top de vendas nacional desde então. O álbum, aliás, mostra muito bem a evolução da banda. E ainda dizem que a música portuguesa não vende!

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Praça do Campo Pequeno, 18h.
As duas primeiras pessoas a chegarem ontem ao Campo Pequeno fizeram-no às oito e meia da manhã. Sim, leram bem. Oito e meia da manhã. Durante quase cinco horas eram as únicas que por ali estavam. Depois, juntaram-se a elas mais três pessoas — eu e os meus dois acompanhantes. Passava um bocadinho da uma e meia da tarde. Ainda faltavam sete horas para abrirem as portas e nós até tínhamos acesso prioritário graças aos green pass distribuídos semanas antes na sessão de autógrafos no Centro Comercial Colombo. Mas isso não nos importava muito.

Talvez por ser dia de semana, durante várias horas não havia ali mais do que quinze pessoas. Nós passámos a tarde a conversar e a fazer corridas ocasionais às traseiras. As corridas valeram a pena. Conseguimos conversar e tirar fotografias com o Francisco (o Kasha) e com o Salvador Seixas. Vêem? Valeu a pena ir tão cedo. Por isso e porque tivemos a primeira fila garantida.

Estávamos ali para ver um grupo de rapazes. Alguém, quando passa por nós, diz que são “só uns rapazes”. Mas não são. Milhões de visualizações no Youtube, convictos no top de vendas, mais de cento e oitenta concertos no último ano e músicas que não cativam só jovens. O que é que determina o sucesso deles? Pés no chão, letras simples, melodias que ficam no ouvido.

Faltavam duas horas para as portas abrirem e nós continuávamos ali. Claro que já estávamos fartos de estar sentados no chão, mas continuámos a conversar sobre as nossas experiências com a banda de Miguel Cristovinho, Francisco Pereira e Miguel Coimbra e com outras bandas. O tempo foi passando. Chegaram mais pessoas. Depressa (mas nunca o suficiente) foi a hora de abrir as portas.

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Um segundo? Nós damos mais do que isso!
Uma vez dentro do recinto, a espera já não foi muito longa. O DJ Van Breda fez as honras da casa, para aquecer o público. Mas era pelos D.A.M.A que todos esperavam e era por eles que gritavam quando, pouco depois das dez da noite, as luzes se apagaram e os primeiros acordes de “Calma” ecoaram pela sala. Seguiu-se “Já Não Quero Falar” e a música que transforma qualquer rapariga em “Luísa”, com direito a “I’m Yours” (de Jason Mraz) pelo meio.

Pelo meio, saltitaram entre músicas de ambos os álbuns e receberam vários convidados em palco: João Pequeno para cantar “Primeira Vez”; Player na ritmada “Tempo P’ra Quê”; João Só, com quem escreveram “Adeus e as Melhoras”; e Mia Rose, que protagonizou um momento de imensa cumplicidade com Miguel Cristovinho em “Secrets in Silence”. Gabriel, O Pensador, foi a grande ausência, mas nem por isso “Não Faço Questão” deixou de ser cantada bem alto.

“Na Na Na”, a versão mais rock de “Eu Sei” (tema que, apesar de estar no segundo álbum, já tinha sido gravado em 2007) e ainda “Às Vezes”, cantada tão alto pelo público, e “O Maior”, que foi escrito para uma campanha de prevenção rodoviária, fizeram as delícias dos presentes — e arruínam-lhes a garganta, claro.

O final foi feito com “Não Dá” e com Salvador Seixas em “Balada do Desajeitado” (de Sebastião Antunes). Acabaram a cantar acappella, com o público. Até podem ser desajeitados mas jeito para isto não lhes falta.

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