Opinião

O início da Era Biden-Harris

Virou-se uma página na História. Depois de dias de contagem de votos e de sondagens renhidas, de grande expetativa e também de especulação, Joe Biden foi eleito o 46º presidente dos Estados Unidos da América. Foi no passado dia 7 de novembro, sábado, que o mundo recebeu a notícia de que o candidato democrata atingira os 270 votos eleitorais necessários para que a sua vitória nas eleições presidenciais se confirmasse.

A Casa Branca terá, brevemente, novos habitantes e Biden tornou-se o candidato com mais votos de sempre nas eleições norte-americanas, ultrapassando o recorde anteriormente garantido por Barack Obama, de quem foi Vice-Presidente e de quem continua a ser grande amigo – o Presidente que antecedeu Donald Trump tem apoiado o recém-eleito desde o início da sua candidatura. Escolho abordar alguns dos pontos que mais se destacaram durante estas esperadas eleições.

O mau perder de Trump

Foi, claro, na sua rede social de eleição, o Twitter, que Donald Trump questionou a contagem dos votos, depois de perder vantagem para Joe Biden, em alguns dos Estados mais decisivos. A verdade é que Trump se tornou indissociável do Twitter e, quando muitos de nós pensávamos que esta rede social já tinha o funeral anunciado, habituámo-nos a que a mesma se tornasse no “diário” do Presidente norte-americano, 280 caracteres de cada vez.

Foram quatro anos de discurso de ódio, de negligência, de desinformação, de racismo, de desprezo pela ciência, de sensacionalismo, de teorias da conspiração e de bullying, proliferados, em grande parte, na Internet. Trump continua a partilhar, incessantemente, “alfinetadas” a Biden e às eleições que considera terem sido fraudulentas. No dia 15 de novembro, mais de uma semana depois da vitória anunciada do seu rival, o (ainda) Presidente dos EUA recorreu, uma vez mais, à sua conta no Twitter para utilizar, pela primeira vez, as palavras “ele ganhou”. Ganhou “porque a eleição foi manipulada” (acham que ia admitir a derrota assim tão facilmente?). Que mau perder, Mr. President.

A eleição de Harris como Vice-Presidente

Tão relevante quanto a vitória de Biden (ou até mais): Kamala Harris, de 55 anos, é a primeira mulher, primeira negra e primeira pessoa de ascendência sul-asiática a ser eleita Vice-Presidente dos EUA. A antiga procuradora-geral da Califórnia afirmou, naquele que foi o seu primeiro discurso após a sua eleição, “embora eu possa ser a primeira mulher neste cargo, não serei a última”

A eleição de Kamala Harris como Vice-Presidente dos EUA representa um marco na História.
Fonte da imagem: CNN.

A eleição de Harris representa, acima de tudo, uma vitória pela igualdade, cem anos depois de ter entrado em vigor a 19ª emenda à Constituição norte-americana, que prorrogou o direito de sufrágio às mulheres (ainda que, inicialmente, o direito ao voto se limitasse às mulheres brancas). Espera-se, agora, que a dupla Biden-Harris e a sua administração atuem de imediato para reverter algumas medidas tomadas durante o mandato de Donald Trump, quando tomarem posse no dia 20 de janeiro de 2021.

Partilhar memes não chega

Há quatro anos, muita gente que comentava, por cá, e de forma tão fervorosa, as eleições americanas e todo aquele Trump VS Clinton é a mesma que acaba por tomar a decisão de não votar nas nossas eleições porque “ah… A política não é para mim” e “não percebo nada disto”. O mesmo poderá ter acontecido desta vez.

Certo, os Estados Unidos são um país cuja influência se faz sentir por todo o mundo e a vitória de Biden é um passo marcante e decisivo, não apenas na História da América, mas também na História do mundo –  o que faz com que este seja, decididamente, a par das decisões e frases polémicas do candidato Donald Trump, um assunto a comentar. Mas partilhar memes não chega. Temos, acima de tudo, de nos informar, porque a informação é a chave – e tudo deverá começar na esfera política na qual nos encontramos inseridos. De que vale opinar sobre o que se passa lá fora se  não estamos consciencializados em relação ao que acontece no nosso país? (Spoiler alert: por cá, Rui Rio vai criando acordos com o Chega).

Joe Biden foi eleito o 48º Presidente dos Estados Unidos da América, nesta que foi a sua terceira candidatura à Presidência do país.
Fonte da imagem: CNN

E agora?

O recém-eleito Presidente promete que não vai dividir, mas antes unir os americanos, sejam eles “democratas, republicanos, independentes, progressivos, moderados, conservadores, novos, velhos, urbanos, suburbanos, rurais, homossexuais, heterossexuais, transgéneros, brancos, latinos, asiáticos, nativo-americanos”. Esperam-se, sim, grandes mudanças, como o regresso dos EUA ao Acordo Climático de Paris – que foi assinado em 2015, entre 197 países, com o objetivo de travar o aquecimento global –, depois de Donald Trump ter decidido sair do mesmo, ainda este ano.

Biden conta, agora, com grandes desafios – incluindo uma pandemia que não tende a negar, como aconteceu com o seu antecessor –, numa altura em que se provou, uma vez mais, através dos resultados destas eleições, que a sociedade norte-americana se encontra vincadamente dividida e fragilizada, tanto interna como externamente.

Não vai ser fácil. Não nos iludamos: o “Trumpismo” e a sua estratégia política vieram para ficar e vão continuar a constituir uma ameaça à democracia, por todo o mundo.

Será Joe Biden o homem que salvará a América?

Ninguém sabe. A eleição não basta. Ter-se-á de tomar como prioridade a verdade, a igualdade, o ambiente. As pessoas marginalizadas terão de continuar a ser protegidas. É necessário prestar especial atenção a grupos sociais historicamente discriminados, neste que será um período de transição para o país.

Ninguém pode garantir que Joe Biden será o homem que salvará a América. Mas poderá (muito bem) ser o precursor desta mudança. Para melhor.

Trump's Flag-Burning Tweet Brings Back 1980s-Era Controversy : NPR
Há imagens que falam por si e que não carecem de legenda.
Fonte da imagem: NPR.

Até lá, terá de levar com alguém que não quer abdicar do seu trono assim tão facilmente. 

Fonte da imagem de destaque: ABC News

Artigo revisto por Bruna Gonçalves

AUTORIA

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Uma pessoa de muitas paixões. Por isso, licenciou-se em Informação Turística, está a terminar o Mestrado em Jornalismo e quer tirar Doutoramento em História Contemporânea. A ideia de ter uma só carreira durante a vida toda aborrece-a. A Inês gosta de escrever, de concertos, dos The Beatles, de Itália, de conduzir e dos seus cães. Sonha em visitar, pelo menos uma vez, todos os países do mundo.