Opinião

Pêras e Abacates: Da paixão à ganância, surgiu um Hobbit

A trilogia “O Senhor dos Anéis” é uma obra-prima do cinema. Será para sempre uma referência. Ao universo brilhante e fantástico que J.R.R Tolkien concebeu, juntou-se um realizador com uma paixão por esse mesmo universo e daí resultou um grande filme. Para mim, o melhor de sempre. Porquê? Por tudo. História apaixonante e intensa, personagens geniais, grandes actores, efeitos especiais brutais (principalmente para a época) e, sobretudo, conseguimos ver (principalmente quem já viu os making-of’s todos, como é o meu caso) que houve, por parte de todos, um grande amor à camisola.

“O Senhor dos Anéis” conseguiu, com um orçamento de 76 milhões (!) de euros por filme, tornar-se numa lenda. Esse amor à camisola foi determinante porque permitiu que as soluções fossem pensadas ao máximo para serem as melhores possíveis. Já o “Hobbit”, a meu ver, carece disso. O empenho em torná-lo perfeito, em honra a Tolkien, não está lá. Com um orçamento muito maior, de 120 milhões de euros por filme, não conseguiu sequer aproximar-se. Claro que tudo vai ficando mais caro (equipamentos, actores, estúdios etc), mas é muito dinheiro para ter um ar tão artificial.

Eu penso que essa é das maiores diferenças. Porque vejamos: a história, escrita por Tolkien, é sempre fantástica e não dá para estragar. Os actores continuam brilhantes, os efeitos é que pecam pelo exagero. Na trilogia “O Senhor dos Anéis” tudo nos parece mais real. Os exércitos eram 100 pessoas que, no computador, passavam a mil, mas estavam lá mesmo pessoas. Aquelas criaturas, edifícios, etc, parece que estão ali com os actores. Porquê? Porque, de facto, estão! Os “orgs” são feitos de pessoas com máscaras (só uma curiosidade, a Miramax, durante as gravações, chegou mesmo a ser a maior importadora do plástico utilizado para os fatos. Mesmo contando com países!). Aquela criatura está mesmo ali. Não é um computador! Os edifícios são postos depois com “blue screens” mas, primeiro, são feitos em miniaturas gigantes (biggatures) para poderem ser filmados e apresentar o maior detalhe possível. São pormenores que fazem toda a diferença.

No filme “Hobbit” isso já não acontece. Percebe-se, perfeitamente, que é tudo feito a computador e altamente editado depois. O Gimli, de “O Senhor dos Anéis”, parece mesmo um anão real. Está ali uma pessoa a sério, maquilhada para ser real. Os anões do “Hobbit” também são pessoas a sério maquilhadas, mas parece que foram todos esfregados em Instagram. O filme, com isso, perde realismo e envolvência.

No caso do “Hobbit” os filmes continuam muito bons porque a história é genial, mas a qualidade, digamos, técnica do filme foi por água abaixo em comparação com “O Senhor dos Anéis”. Estreou ontem e eu vou ver e adorar, mas não da mesma maneira.

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