Música

Taking Woodstock ‘89

Passaram vinte anos desde que a fazenda de Max Yasgur foi palco do festival Woodstock e, enquanto o mundo continua dividido por um muro em Berlim, a música junta-nos, novamente no mesmo sítio, no estado de Bethel, Nova Iorque. Ora, voltemos a viajar no tempo para cantar os parabéns ao Woodstock, vinte anos depois, nos mesmos dias em que a edição original aconteceu!

Esta edição, que assinala os vinte anos do Woodstock, não foi tão promovida como as anteriores e o cartaz é quase incógnito, mas, assim que chegamos, deparamo-nos com 30.000 pessoas, o que explica o enorme tráfego. Entramos sem pagar, e, se não tivéssemos levado alguma comida e bebida — como, aliás, muita gente fez —, poucas alternativas teríamos, uma vez que apenas se avistam algumas pessoas com comida para vender. Há gente de vários pontos do estado de Nova Iorque, dos Estados Unidos e até alguns europeus, desejosos de regressar por algumas horas à longínqua década de 60.

Muito mudou desde a primeira edição. Os festivaleiros que se atrevem a repetir a experiência neste festival já não são os jovens inconscientes de 1969 e, alguns, até os filhos trazem. Estamos neste Woodstock para relembrar os anos sessenta e as indumentárias escolhidas parecem adequar-se. Há várias faixas etárias presentes e todos sentem uma enorme afinidade com os valores de há vinte anos: paz e fraternidade.

A música começa exatamente vinte anos após a hora em que Richie Havens deu início a Woodstock em ’69. A memória coletiva continua presa à edição original mas hoje, para dar música, começamos com Wavy Gravy e esperamos Al Hendrix – pai de Jimi Hendrix, que tocou na edição de ’69. O ambiente é o de reavivar memórias e o eclipse lunar total dessa noite ajuda a que sintamos uma espécie de magia por estarmos ali.

Mais tarde, por volta das duas da manhã, é Melanie quem enche Woodstock de mais nostalgia e sai de palco referindo que tudo se resume a um estado de espírito.

Quando damos por nós, é quase de manhã e a música não pára, nem com a chuva que decide abençoar o concerto de Lisa Best Band. Uns abrigam-se, outros deixam-se estar: é o Woodstock de ’69 a invadir por completo a edição de ‘89.

São 7h40. Savoy Brown e Dave Walker sobem ao palco para tocar três temas. Saem relembrando que, vinte anos antes, tocavam “pela música e não pelo dinheiro”.

Não nos admira que, vinte e cinco anos passados, o Woodstock de 89 seja conhecido como o “Forgotten Woodstock”: fomos, como todos, para nos relembrarmos do Woodstock de 69 e mal deixámos a música marcar-nos nesta edição. Estivemos ali para recordar e não para presenciar. Mas fizemos parte de mais uma edição que marcou a história do lendário Woodstock. Pode não ser muito, mas a fazenda de Max Yasgur vai trazer-nos sempre à memória a ideia de que não há nada melhor no mundo do que o poder da música para juntar pessoas.

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