Opinião

Um livro julga-se pela capa

Sabem quando vão a uma livraria e há uma ou duas estantes repletas de obras com um design de capa absolutamente excêntrico, estrambólico e excruciante? Aqueles livros cor-de-rosa com um estilo de letra comic sans, quase a virar para a tipografia usada nas promoções nas bancas de fruta do Continente, e com uma imagem apaixonada de um beijo ou de outra qualquer demonstração de afecto absolutamente esterilizada? Ou até aqueles pretos, estilo gótico, com um macho misterioso encapuçado ou com uma fêmea voluptuosa seminua ornamentada com uma armadura medieval? Ou mesmo os livros brancos, mais leves, com um estilo de letra mais caseirinho, mais suave, mais angelical, sempre com um padrão florido, ou com um belo degradé violeta?

Se forem leitores, ou até só “passeadores” de livrarias, minimamente atentos sabem num estalar de dedos a que género literário pertence cada uma das “obras” que listei. Os rosas são a clássica comédia romântica, com uma ponta de dramatismo e outra ponta de cliché estupidificante, estilo Nicholas Sparks ou Margarida Rebelo Pinto. Os góticos são livros fantásticos, geralmente vampirescos, vítimas da actual popularidade “twilighteriana” propulsionada pelas frustrações sexuais de milhões de raparigas adolescentes. Os terceiros são os pseudo-espirituais, vendedores de banha de cobra, recheados de promessas vãs de auto-ajuda e de curas milagrosas.

Geralmente, e sendo racista livreiro, as obras que caem fora desta armadilha do design simplista e apela-tolos são as que merecem ser lidas.

Por amor de Deus, já não basta as editoras terem o hábito nojento de modificar a capa de um livro quando este é adaptado a filme, estilo Hobbit ou Senhor dos Anéis. Ai de quem ponha um beijo apaixonado ou uma dama desnuda na capa do Drácula do Bram Stoker, ou do Orgulho e Preconceito da Jane Austen. Sofrerão toda a fúria de mim e da meia dúzia de snobes que se preocupam minimamente com isto!

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