Cinema e Televisão

“Things Heard and Seen” e o potencial desperdiçado

Um dos originais da Netflix mais esperados para este ano – Things Heard and Seen – estreou na plataforma no passado dia 29 de abril. A trama, que tem como protagonistas Amanda Seyfried e James Norton, que interpretam Catherine e George Claire, foi dirigida por Shari Springer Berman e Robert Pulcini e é baseada no livro All Things Cease to Appear, de Elizabeth Brundage.

Fun fact: Elizabeth escreveu o livro já a pensar na realização de um filme inspirado no mesmo e exatamente com Amanda Seyfried como protagonista! O facto de esta personagem ter sido pensada para uma interpretação da Amanda torna tudo mais credível, pois ela enquadra-se perfeitamente na personalidade de Catherine. A escolha de James Norton para o papel de George também foi uma escolha agradável. Os dois formam um casal muito bonito e aparentemente feliz com a mudança de vida e tudo o que se avizinha.

Fonte: Decider.com

O filme, passado nos anos 80, conta a história de um jovem casal que acaba de se mudar para Hudson Valley por causa do novo emprego de George como professor numa faculdade da região. Pouco tempo após a mudança, Catherine começa a notar acontecimentos estranhos na sua nova casa, na qual nunca se sentiu confortável, e também uma mudança de comportamento por parte do marido.

Todo o enredo gira em torno desta casa e das coisas que ali aconteceram anteriormente que influenciam toda a vida dos novos inquilinos no bom e no mau sentido, por mais estranho que possa parecer. Como é de se esperar, nada de agradável acontece quando uma família se muda para uma casa antiga no interior e a mudança da família Claire não foi exceção. Num casamento repleto de mentiras, violência e traições, Catherine vê-se encurralada pelas fatalidades que se anunciam com o passar do tempo.

Fonte: Decider.com

Num misto de presenças sobrenaturais e terror psicológico, a história ganha vários rumos que acabam por nos deixar confusos. Há também vários acontecimentos que, na minha opinião, não são necessários para agarrar a atenção do espectador – muito pelo contrário, chegam a gerar um leve desinteresse.

 O elenco secundário – Eddie Vayle e Cole Vayle, interpretados por Alex Neustaedter e Jack Gore, respetivamente –, que cumpre a sua função impecavelmente bem, tem uma participação muito reduzida, enquanto o oposto fazia mais sentido. Os misteriosos vizinhos, que, mais tarde, se revelam mais importantes na intriga, começam a trabalhar para o casal Claire. O passado destes personagens podia e devia ter sido explorado. O que faria sentido no decorrer dos acontecimentos, pois da forma como decidiram contar a história não lhes é dada a devida importância. Já Natalia Dyer, que interpreta Willis Howell, é só mais uma personagem para fazer número. Não fica explícito o seu passado, o que está ali a fazer, nem a sua relação com Eddie e Cole Vayle.

Uma história que tinha muito potencial e uma imensidão de situações, tanto do passado como do presente, para explicar e desenvolver, é contada de uma forma tão superficial que faz com que o ritmo do filme seja um pouco lento. Em contraste, há personagens que têm um fim tão inesperado que parece que o seu destino foi decidido à pressa e ‘em cima do joelho’.

Não posso deixar de destacar pela positiva os planos e paisagens da longa, sempre com um enquadramento e atmosfera perfeitos, enfatizando que, de facto, se vive um clima perigoso e sombrio durante todo o filme.

Fonte: Screenrant.com

Começar a ver este filme com a expetativa de encontrar uma história de terror repleta de sustos e de momentos de tensão é um tremendo erro. Eu classificaria-o como drama ou suspense pela envolvência da relação conjugal e com tudo o que esta acarreta. Ainda que estejam presentes elementos sobrenaturais, este não é o foco do enredo e muito menos estão lá para nos assustar.

Apesar de nos apresentar um elenco de excelência que, como era de esperar, encarna os personagens na perfeição, e também uma direção fenomenal, Things Heard and Seen peca pela narrativa convencional e já muito vista da família que se muda para a casa assombrada no meio rural.

Ainda assim, recomendo a sua visualização a todos os amantes de suspense e terror por todos os pontos positivos que referi e também para o enriquecimento da sua cultura cinematográfica.

Artigo redigido por Filipa Amaro

Artigo revisto por Miguel Tomás

Fonte da imagem de destaque: Heavenofhorror.com

AUTORIA

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Quase ingressou no curso de cinema aquando do início da sua jornada no ensino superior, porém, à última hora, decidiu que afinal queria enveredar pelo mundo do jornalismo. Veio da área dos números, mas após a sua entrada na ESCS Magazine - que tomou como um desafio - descobriu um gosto imenso pela escrita. Agora, enquanto editora da Secção de 7ª Arte, ambiciona proporcionar o conforto que sentiu quando entrou na Magazine a todos aqueles que, tal como ela, são apaixonados por cinema.