Literatura

Tintin: A história da revista dos jovens dos 7 aos 77 anos em Portugal

Foi a 1 de junho de 1968 que a revista Tintin chegou a Portugal, consagrando o desenho franco-belga como o género mais apreciado de banda-desenhada (BD) no nosso país, com uma influência que se sente até aos dias de hoje.

A versão belga já existia desde 1946, fundada pelo próprio autor do famoso jornalista-investigador e de Milou – Georges Rémi, mais conhecido como Hergé, mas tanto na Bélgica como em Portugal, a fórmula era a mesma: a publicação semanal de pequenas partes de várias histórias que envolviam diferentes heróis, desde o próprio Tintin, a Astérix (Goscinny e Uderzo), Blake & Mortimer (E. P. Jacobs), ou Lucky Luke (Morris e Goscinny). 

Tintin não foi a primeira revista deste género publicada em Portugal. Cavaleiro Andante, Zorro, O Falcão e Pisca-Pisca já haviam aberto caminho a esta forma de consumo de BD. Contudo, a revista Tintin trouxe uma seleção inteligente de histórias de sucesso noutros países com uma qualidade gráfica ímpar.

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Capa da primeira edição da Revista Tintin em Portugal
Fonte: Revista Tintin/Facebook

A Revista Tintin é uma seleção rigorosa dos melhores desenhadores e dos melhores «contadores de histórias» de um género que todas as camadas jovens (e aqui entenda-se jovens de idade e de espírito, dos 7 aos 77) de qualquer parte do Mundo, apreciam particularmente” – foi desta forma que se apresentou a revista na sua edição de estreia aos leitores. 

Como se pode ler no Observador, Dinis Machado e Vasco Granja foram os principais diretores da versão portuguesa de Tintin, com o primeiro a ter um esforço assinalável para o sucesso da revista: entrevistava autores, procurava elevar a BD a um estatuto de arte, reconhecido na década de 1970, e respondia a cartas dos leitores.

Numa dessas respostas, no n.º 7 da revista, delineou o seu objetivo:

A minha ideia é que ele [Tintin] seja eterno: a revista será publicada todas as semanas, repetindo alguns heróis em novas histórias e apresentando heróis novos. Nunca haverá alterações bruscas, mas sim mudanças e substituições progressivas.

Dinis Machado, n.º 7 da revista Tintin

A prevalência por heróis estrangeiros era notória e compreensível para o sucesso da revista, mas, segundo o livro Os Comics, uma edição dos Cadernos da Beteca de 1997, portugueses como Carlos Roque (que chegou a publicar na Tintin belga), José Garcês e Augusto Trigo também ilustraram várias páginas da revista em Portugal.

O foco da revista foi sempre a BD, tanto que datas relevantes como o 25 de abril de 1974, ou o “verão quente” de 1975 raramente eram mencionadas pela Tintin. Uma das raras referências a este período histórico acontece nas respostas aos leitores, na edição de 30 de agosto de 1975 (a n.º 15 do 8.º ano):

No fim de contas, vivemos num país democrático, após um longo período obscurantista que marcou a nossa vida durante tantos anos.”

Dinis Machado no N.º 15 da revista Tintin

O fim

A revista Tintin publicou o seu último número após 14 anos de existência, em outubro de 1982, sem que nada o fizesse prever – a edição foi assumida como apenas mais uma, com o objetivo de se publicar as seguintes. Assim, as histórias de Tintin, Ric Hochet ( também jornalista-investigador que conduzia um Porsche, criado por Tibet e Duchâteau) e de Alix (de Jaques Martin) ficaram por completar.

No ano seguinte, faleceu Hergé, que famosamente proclamara “Tintin c’est moi” (O Tintin sou eu). Com a morte do criador, a popularidade da BD franco-belga também desvaneceu, mas deixou uma marca indelével no público português.

Mais de 40 anos depois do fim da revista Tintin, ainda se vendem álbuns com histórias completas de Tintin, Michel Vaillant (o automobilista criado por Jean Graton), Astérix, Lucky Luke, Ric Hochet e Blake & Mortimer em várias livrarias.

Com 14 anos de duração, criada há mais de 50, a revista Tintin influenciou inúmeros jovens dos 7 aos 77 anos, mesmo depois de terminar a sua atividade. Creio que cumpriu o seu objetivo de forma inegável. 

Fonte da capa: blog da companhia

Artigo revisto por Beatriz Santos

AUTORIA

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A Música sempre fez parte da sua vida. Após uma iniciação na música clássica, passou para o rock clássico de Rolling Stones e depressa se focou em bandas de hard-rock e metal (sendo Scorpions e Iron Maiden, respetivamente, as principais referências nesses campos). Hoje, gosta de ouvir um pouco de tudo, desde Mozart a John Coltrane, e desde Guns N’ Roses a System of a Down.