Metallica: Análise a 72 Seasons – É como andar de bicicleta
O 11.º álbum de estúdio dos gigantes do metal foi lançado com toda a pompa e circunstância com vários videoclipes e com letras em várias línguas, incluindo português! Por isso, aqui vamos rever, canção a canção, o álbum 72 Seasons que equivale aos primeiros 18 anos da nossa vida – o período que define quem somos e quem não somos, como explicou James Hetfield.
Este disco tem uma alta influência do vocalista/guitarrista, que desde o disco anterior (Hardwired… to Self-Destruct), em 2016, se divorciou da mulher com quem estava casado há 25 anos, teve problemas de adição ao álcool e depois, como todos, passou pela pandemia. O resultado, em 72 Seasons, são letras vindas diretamente do coração e um álbum muito suportado nos seus riffs.
O melhor exemplo disso é mesmo a música inicial 72 Seasons – com um riff orelhudo, simples o suficiente para se aprender a tocar, mas igualmente cativante; tem uma progressão fluida e que dá para sentir “the wrath of man” – ótima abertura.
Segue-se Shadows Follow, uma canção em que Lars Ulrich prova (pela enésima vez) ser um baterista fantástico, apesar das variadas e incompreensíveis críticas a si dirigidas. “On I run, Still my shadows follow” – a letra fala do quanto o nosso passado nos molda, por mais que o tentemos esquecer. Já o videoclipe faz-nos crer que estamos a ver anime.
Screaming Suicide é bastante pessoal para muitos, abordando o suicídio como um tema que deve ser mais discutido para ajudar aqueles que o contemplam: “Throwing down a rope, a lifeline of hope, never give you up“. Com uma melodia estilo groove metal e refrão energético, é também das músicas em que Kirk Hammett mais brilha.
Robert Trujillo mostra todo o seu talento em Sleepwalk My Life Away – o baixista (que adora Portugal) tem aqui uma entrada brutal e a sua influência persiste em toda a música, que contém uma introdução lenta do riff, para depois a banda se juntar toda numa boa canção, que não deslumbra, mas que não deixa de ser agradável.
Segue-se You Must Burn!, que contém um melodia misteriosa e pausada ao estilo do doom metal. É das músicas que mais tem dividido opiniões entre os fãs, com uns a acharem-na a pior e outros a melhor canção do disco. Certo é que faz muito lembrar Sad But True, portanto quem gostar dessa, aqui sentirá o mesmo. Tem também um excelente solo de Hammett, isso é inegável.
Lux Æterna – a primeira canção divulgada do álbum. Atua como o single, sendo (de longe) a mais curta, com 3:30 minutos. Com uma entrada veloz e que nunca desacelera, parece saída da “New Wave of British Metal” da década de 1980. Tem também um dos solos que mais gosto dá ouvir do álbum.
Crown of Barbed Wire vem diretamente da era Load/Reload do final do século passado, sobretudo o refrão. Já a seguinte, Chasing Light, tenta encorajar cada um a enfrentar os seus medos, até porque todos falham, mas “Without darkness, there’s no light”. Talvez seja a música em que a voz de Hetfield mais se destaca em todo o álbum.
If Darkness Had a Son – reminiscente da era “…And Justice for All”, é uma música em crescendo lento, muito melódica e uma que certamente deverá marcar presença em muitos concertos. Já Too Far Gone? é daquelas músicas que qualquer álbum tem que rapidamente será esquecida.
Room of Mirrors é “a” canção de Kirk Hammett – parece que foi elaborada à sua volta, para trazer ao de cima todo o seu talento. Os solos são tocados com enorme facilidade e o último deles integra-se na perfeição com a melodia de Hetfield, fazendo lembrar os Metallica de outros tempos. Um dos pontos altos do álbum.
E terminamos com Inamorata a canção mais longa de 72 Seasons, com 11 minutos. Na parte central, mais calma, Lars parece um baterista de jazz que depois introduz um solo que tem uma harmonia perfeita entre as duas guitarras. Com uma letra complexa e detalhada sobre a necessidade, a miséria e a melancolia que o amor traz a cada um, faz-nos sentir diferentes coisas.
É a banda no seu melhor – é a música mais complexa, com a melhor letra e onde todos mais se destacam (os 11 minutos são aproveitados ao máximo e passam a correr). Uma maneira brutal de acabar o álbum e que só dá vontade de o ouvir de novo.
Concluindo, os Metallica não são uma banda de trash puro; são uma banda de multimilionários, quase todos com mais de 60 anos, que sabem o que precisam de fazer para criarem excitação à volta de novo material e que raramente defraudam expectativas, mesmo não lhes dando importância. 72 Seasons é o seu melhor álbum de sempre? Não. Vale a pena ser ouvido, até mais do que uma vez? Claramente que sim.
Ainda assim, os Metallica também não esquecem o seu passado, sendo estas as músicas que mostram as principais parecenças entre 72 Seasons e outras do repertório da banda:
- Shadows Follow – Enter Sandman
- You Must Burn – Sad But True
- Too Far Gone? – No Remorse
- Room of Mirrors – Broken, Beat & Scarred
- Inamorata – The Outlaw Torn
Fonte da capa: Metallica
Artigo revisto por Adriana Vicente
AUTORIA
A Música sempre fez parte da sua vida. Após uma iniciação na música clássica, passou para o rock clássico de Rolling Stones e depressa se focou em bandas de hard-rock e metal (sendo Scorpions e Iron Maiden, respetivamente, as principais referências nesses campos). Hoje, gosta de ouvir um pouco de tudo, desde Mozart a John Coltrane, e desde Guns N’ Roses a System of a Down.