A história de vida dos candidatos à presidência da república portuguesa
Este artigo faz parte da edição digital de janeiro de 2021- Sufrágio Contemporâneo
As eleições presidenciais portuguesas realizaram-se no dia 24 de janeiro de 2021. Foi uma oportunidade de os portugueses expressarem os seus próprios pensamentos sobre a política e selecionarem, através de votos, quem desejavam que representasse o país. Não importa aquilo em que acreditamos ou quem apoiamos – o importante é exercer o nosso direito de forma consciente.
Apesar de já sabermos o desfecho destas eleições, achamos pertinente dar a conhecer a história de vida daqueles que foram os candidatos à presidência portuguesa, com algumas curiosidades inesperadas! Quem são e como foram os seus percursos de vida e política?
Ana Gomes
Ana Maria Rosa Martins Gomes nasceu a 9 de fevereiro de 1954, em Lisboa. Viveu 20 anos em ditadura e, por este mesmo motivo, passou grande parte da sua vida a lutar pela democracia e pelos direitos humanos.
O seu pai era oficial da marinha mercante e esta profissão possibilitava que a sua família tivesse acesso a livros que eram proibidos em Portugal durante o salazarismo. Com apenas um mês de idade, foi viver para o arquipélago dos Açores, regressando ao continente com 6 anos. Pouco tempo depois, o pai inscreveu-a na ginástica e na patinagem no Sport Lisboa e Benfica. Nas férias do 7º ano de escolaridade, viajou até à Alemanha para praticar a língua alemã, sendo que chegou a trabalhar como carteira durante 2 meses.
Em 1972, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Esta candidata assistiu a inúmeros episódios de violência por parte de seguranças (denominados os “gorilas”) que reprimiam os estudantes e os professores. Desde jovem mostrou o seu interesse pela política e pela democratização, porém, foi a partir deste momento que as suas opiniões ganharam força. O seu ativismo político levou-a a ser presa em dezembro de 1973.
Enquanto estudava, trabalhou no restaurante da atriz Maria José Curado Ribeiro.
Ana Gomes militou no MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado), onde admite ter passado tempos difíceis para terminar com a ditadura e com a guerra colonial. Entre 1974 e 1975, foi casada com o escritor António Monteiro Cardoso, que, curiosamente, era o líder do MRPP.
Em 1980, ingressou na carreira diplomática (abandonando-a em 2003) e foi consultora do ex-Presidente da República Ramalho Eanes para a diplomacia, entre 1982 e 1986. Esta jurista foi chefe da missão diplomática portuguesa na Indonésia, durante o processo de independência de Timor-Leste, e deputada no Parlamento Europeu, entre 2004 e 2019. Já recebeu inúmeros prémios. Gosta de jardinagem e considera o restaurante “Ribeirinha de Colares” a sua cantina, um local onde construiu grandes memórias.
É uma mulher que aprecia muito música, sendo que uma das suas músicas favoritas é a “Imagine”, do John Lennon. Gosta de aprender e falar outras línguas.
Em 1994, casou-se com o embaixador António Franco e há 6 meses ficou viúva. Foi após o falecimento do seu marido que tomou a decisão de avançar com a candidatura. No dia 8 de setembro de 2020, anunciou a sua candidatura às eleições presidenciais de 2021, recebendo o apoio do LIVRE, do PAN e de algumas personalidades do Partido Socialista.
André Ventura
André Claro Amaral Ventura nasceu a 15 de janeiro de 1983, em Sintra. É um deputado, professor universitário, ex-comentador de televisão (político e desportivo) e o atual Presidente do Partido Chega.
O seu pai era um pequeno empresário que comprava e vendia peças de bicicletas e a sua mãe era administrativa numa empresa em Lisboa. Este candidato admite que foi na sua infância que começou a sentir a questão da desigualdade e das minorias, reconhecendo que os subúrbios são muitas vezes esquecidos.
Na infância, a sua paixão era o ciclismo e o seu grande ídolo foi Lance Armstrong. O dia em que este ex-ciclista admitiu que se dopou foi uma das últimas situações em que André Ventura chorou. Este deputado foi também futebolista e ocupou a posição de defesa-direito. O gosto pelo futebol levou-o a ser comentador desportivo na CMTV, de 2014 a 2020. Não foi batizado em criança, uma vez que os seus pais acreditavam que o filho deveria ter liberdade de escolha religiosa. Nunca foi próximo de Deus até aos seus 14 anos, porém, a partir desta idade, tornou-se muito religioso. Mais tarde, batizou-se, efetuou o Crisma e acabou por ir para o Seminário, pois queria ser padre. Decidiu abandonar esta instituição educacional religiosa quando se apaixonou. Mas a verdade é que o deputado continua a ser muito próximo de Deus e admite que este tem uma grande importância na sua vida.
Depois do liceu, licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, terminando com 19 valores. Defendeu, em 2013, a tese de doutoramento em Direito Público pela Faculdade de Direito da Universidade de Cork, na Irlanda. Está casado desde 2016 com Dina Nunes Ventura e tem uma coelha de 8 anos (a Acácia), um animal de estimação que é uma grande companhia para o candidato.
André Ventura é considerado, por parte da comunicação social, assim como por alguns portugueses, o primeiro deputado de extrema-direita com um lugar na Assembleia da República desde a grande revolução que colocou fim à ditadura.
João Ferreira
João Manuel Peixoto Ferreira nasceu a 20 de novembro de 1978, em Lisboa. Este candidato é licenciado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Trabalha na capital de Portugal como Vereador e em Estrasburgo como eurodeputado. Desde outubro de 2013, é Vereador do PCP na Câmara Municipal de Lisboa.
João Ferreira é ainda autor do livro “A União Europeia não é a Europa” e foi diretor da revista “Portugal e a UE”, entre 2009 e 2012. Em 2013, foi vencedor do prémio “Embaixador do Desenvolvimento”, pelo seu papel na promoção de políticas europeias mais justas e coerentes.
Este candidato é, então, um biólogo e político português que atualmente desempenha as funções de deputado no Parlamento Europeu pelo Partido Comunista Português (PCP). Neste sentido, foi apoiado pelo PCP e pelo PEV nas eleições presidenciais portuguesas de 2021.
Marcelo Rebelo de Sousa
Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa nasceu a 12 de dezembro de 1948, em Lisboa, e é o atual Presidente da República Portuguesa, após reeleição. É filho de Baltasar Rebelo de Sousa, médico e político do Estado Novo, e de Maria das Neves, assistente social.
Em pequeno, Marcelo Rebelo de Sousa tinha a necessidade de ir com a mãe para o trabalho, no entanto, apesar das dificuldades, o seu pai começava já a dar-se com algumas das figuras mais influentes do regime e particularmente trabalhava, desde 1940, com o último Presidente do Conselho do Estado Novo. Marcello Caetano foi o padrinho de casamento dos seus pais, esteve para ser seu padrinho de batismo e é em sua honra que se chama Marcelo.
Com 14 anos escreveu o seu primeiro artigo de jornal, no Século. Em 1964, ganhou o prémio D. Dinis, por ser o melhor aluno do Pedro Nunes. Apesar da sua extraordinária capacidade intelectual e reconhecida inteligência, o candidato perdeu um ano e teve a necessidade de repetir a quarta classe.
Curiosamente, Marcelo Rebelo de Sousa é canhoto e na sua infância acabou por partir o pulso esquerdo a jogar futebol, sendo obrigado a treinar a escrita com a sua mão direita.
Aos 17 anos, ganha o seu primeiro ordenado a participar em novelas radiofónicas, na Emissora Nacional.
Em 1971, licenciou-se em Direito e, em 1984, doutorou-se em Ciências Jurídico-Políticas, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Até 2016 exerceu a função de Presidente deste Instituto e dedicou a sua vida profissional ao ensino, ao jornalismo e à política. Após o 25 de abril de 1974 viria a aderir ao Partido Social Democrata, tornando-se líder do PSD, em 1996. Manteve-se na liderança até ao primeiro semestre de 1999, altura em que foi substituído por José Barroso.
Em termos jornalísticos, foi comentador da atualidade política, tanto em jornais como na rádio. Entre 1980 e 1982, foi diretor do jornal Expresso, do qual foi fundador em 1972. Foi ainda co-fundador do Semanário, em 1983. Em termos políticos destaca-se a sua candidatura à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, em 1989, numa eleição que perdeu para a coligação de esquerda. A 24 de janeiro de 2016 venceu as eleições presidenciais e sucedeu a Cavaco Silva na presidência da República de Portugal. Agora, cumprirá um segundo mandato.
Marisa Matias
Marisa Isabel dos Santos Matias nasceu a 20 de fevereiro de 1976, em Coimbra. Viveu a infância e a adolescência numa aldeia muito pequena, onde não havia luz nem água canalizada. Para poder frequentar a escola no primeiro ciclo percorria 5 km a pé.
É uma mulher casada, todavia, feroz a defender a sua vida privada. Fez todo o seu percurso académico na área da Sociologia, na Universidade de Coimbra, desde a Licenciatura até ao Doutoramento. Atualmente, é vice-presidente do Partido da Esquerda Europeia desde 2010 e é deputada do Parlamento Europeu desde 2009. É também presidente da Delegação do Parlamento Europeu para as Relações com os Países do Maxereque (Líbano, Jordânia, Síria e Egipto).
Esta candidata encontra o seu equilíbrio pessoal nos livros, nos filmes, na música, mas acima de tudo na família e nos amigos. Tem orgulho em ser mulher.
Curiosamente, gosta do cheiro a terra molhada, adora ir ver o mar e o seu maior medo é perder as pessoas.
Já publicou diversos artigos científicos, capítulos de livros e outras publicações sobre as relações entre ambiente, saúde pública, democracia e cidadania. A verdade é que, em 2016, Marisa Matias também se candidatou às presidenciais, tendo ficado em terceiro lugar, com 10,12% dos votos, tornando-se a mulher mais votada de sempre nas eleições presidenciais em Portugal. Acabou por perder o título para Ana Gomes nestas eleições e por perder também bastantes votos.
Tiago Mayan
Tiago Pedro de Sousa Mayan Gonçalves nasceu a 5 de março de 1977, no Porto. A sua infância foi marcada pelas viagens realizadas com os seus pais.
Até ao nono ano de escolaridade tinha a ambição de ser cientista. Nasceu, cresceu, estudou e vive no Porto. Formou-se em Direito na Universidade Católica Portuguesa do Porto. É advogado, político português e é membro fundador da Iniciativa Liberal, tendo sido apoiado por este partido na sua candidatura às presidenciais de 2021.
Este candidato esteve envolvido desde o primeiro momento nas campanhas e movimento “Porto, o Nosso Partido”, que elegeu Rui Moreira para a Câmara Municipal do Porto. Em nome desse movimento, foi membro da Assembleia da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, nas eleições autárquicas de 2017. Tem um longo percurso ativo de serviço associativo e voluntário, nomeadamente faz voluntariado na Refood na Foz do Douro. Tiago Mayan domina 6 idiomas, especificamente o inglês, o castelhano, o francês, o alemão, o mandarim e o português. Gosta de correr, do mar e faz vela. Foi o candidato liberal à Presidência da República.
Vitorino Silva
Vitorino Francisco da Rocha e Silva nasceu a 19 de abril de 1971, em Penafiel, e é popularmente conhecido como Tino de Rans.
Atualmente é calceteiro na Câmara Municipal do Porto. Em 1993, Vitorino Silva foi eleito Presidente da Junta de Freguesia de Rans (município de Penafiel). Nas eleições autárquicas de 1997 foi reeleito para o cargo. Foi em 1999 que este candidato se tornou conhecido a nível nacional, dado que durante o 11º Congresso do PS fez um discurso que terminou com um abraço a António Guterres. Para além disto, em 2001, lançou o disco “Tinomania”, que contém o sucesso “Pão, Pão Fiambre, Fiambre“. Em 2005, participou no reality-show da TVI Quinta das Celebridades e, em 2013, participou no reality-show Big Brother VIP.
Nas eleições autárquicas de 2009, Vitorino Silva desfiliou-se do PS e concorreu como independente à Presidência da Câmara Municipal de Valongo. Foi também candidato à Câmara de Penafiel, com o apoio do movimento “Penafiel é Top”, não sendo eleito. Em maio de 2019 fundou o partido RIR – Reagir, Incluir, Reciclar. A verdade é que esta não foi a primeira vez que Vitorino Silva se candidatou às eleições presidenciais, uma vez que em 2016 também formalizou a sua candidatura, tendo conseguido 152 mil votos – 3,28% dos eleitores votantes.
Artigo revisto por Inês Pinto
Fonte da foto de capa: Rádio Comercial
AUTORIA
Madalena Abrantes, 18 anos e aspirante a jornalista. É comunicadora de vocação, bailarina de coração e feliz de corpo inteiro. Entre a dança, os seus interesses de culinária, a moda e a solidariedade parece que caminha num projeto de equilibrismo. Mas, a sua grande paixão? Viajar. A sua maior conquista é viver a fazer aquilo de que gosta!