BLAST & TRAPNEST: Um mergulho na trilha sonora de NANA
No dia 5 de abril de 2006, no Japão, vai ao ar pela primeira vez NANA: um anime que segue a história de Nana Osaki e Nana Komatsu, duas meninas com personalidades diferentes e um nome em comum que irão viver e partilhar inúmeras experiências e momentos com os seus amigos, sobre as suas vidas românticas, sonhos e problemas do dia-a-dia.
Nana Komatsu veio de uma pequena cidade onde cresceu com amigos e família que sempre a ajudaram, o que levou a que ela tivesse uma certa facilidade em depender de outras pessoas. A paixão surge-lhe com facilidade e guia-se várias vezes por sentimentos intensos, acabando rapidamente em relações amorosas. Inclusive, o motivo de ir para Tokyo no começo da história é o facto de o seu namorado da altura estar lá na universidade. Com 20 anos, decidiu abandonar então a pequena vila e começar a trabalhar para construir uma nova vida na grande cidade de Tokyo.
Por outro lado temos Nana Osaki, criada pela avó e proveniente de uma família disfuncional, que vê a música como a sua paixão e escapatória. Na sua terra natal estava já bastante envolvida no mundo da música como vocalista da banda Black Stones, ou BLAST, onde estava também Ren Honjo, o seu namorado na altura. A banda tinha já uma popularidade, mas Ren recebeu uma proposta para tocar baixo com os Trapnest em Tokyo. Com a sua saída dos BLAST, a banda teve o seu fim temporário até Nana decidir ir para Tokyo recomeçar a banda e avançar com a sua carreira musical.
As duas encontram-se no comboio para Tokyo, onde falam durante horas e ,mais tarde, por obra do destino, acabam por encontrar-se enquanto procuram uma casa, levando-as a concordar em viver juntas.
Ai Yazawa, a escritora e ilustradora de NANA, conseguiu mostrar-nos personagens realistas que nos fazem rir e chorar com elas. É dos poucos animes que prende o espectador tanto pela realidade dos seus personagens como pelo nosso envolvimento com eles e com uma trilha sonora fantástica. Mesmo os personagens secundários conseguem captar a nossa atenção e fazer com que desenvolvamos sentimentos fortes por eles, sejam bons ou maus. O criador conseguiu ainda mostrar como a indústria da música influenciou cada personagem de maneira diferente, transferindo acontecimentos do mundo real para personagens fictícias. Nobu, o guitarista dos BLAST, e Nana Osaki mostram como a indústria se sobrepõe à paixão genuína pela música. Ren é o clássico artista torturado que coloca a indústria da música à frente de tudo, inclusive de si mesmo e do amor. Reira, a vocalista dos Trapnest, encontra-se numa banda extremamente popular e ainda assim não é capaz de encontrar a felicidade, sentindo que, apesar de todos ouvirem as suas músicas, ninguém as ouve realmente. Além das problemáticas relacionadas com a música, as personagens parecem-nos extremamente reais por lidarem com as situações de maneira humana, e, muitas vezes, imprevisível ou frustrante para quem vê – o que no fundo acaba por ser um reflexo da realidade.
Podemos dizer que a música é a principal via de comunicação, pois mesmo as personagens que não tocam instrumentos nem cantam são influenciados pelas performances e emoções demonstradas nas várias faixas. O melhor exemplo disto pode ser visto na primeira vez que Nana Komatsu, chamada de Hachi a partir de um certo ponto para evitar confusões, ouve Nana Osaki a cantar pela primeira vez. Este momento acontece quando o instrumental de o que viria a ser rose estava pronto, mas a sua letra não. Ainda assim, Nana cantou a música com o seu colega Nobu, apenas para Hachi. Ouvimos a personagem no seu monólogo a dizer: “Ainda não consigo esquecer aquela noite: não havia letra para a música e ainda assim cantaste palavras sem sentido. Foi como se alguém metesse um feitiço em mim. Tornei-me uma prisioneira da tua voz.”
Avançando um pouco no tempo, presenciamos o primeiro concerto desta nova versão dos BLAST em Tokyo.É aqui que ouvimos pela primeira vez a letra de rose, experienciando-a ao mesmo tempo que Hachi, que descreve novamente a experiência.
“Era suficiente estar em pé. Senti que estava a ser deixada para trás. As músicas da Nana parecem consistir sempre nesta mesma mensagem. Sinto os meus olhos a encherem-se de lágrimas. É exatamente assim que me sinto. Não me deixes para trás, Nana.”
Esteticamente, Ai Yazawa inspirou-se na banda punk rock britânica Sex Pistols para criar a identidade visual dos BLAST. Isso reflete-se até mesmo no universo do anime, em que a vocalista Nana se revela uma grande fã da banda, tal como da marca Vivienne Westwood, estando esta sempre presente nos episódios em fios, colares, anéis e roupa.
A própria trilha sonora do anime e do live action segue sempre traços de punk rock, tanto no caso dos BLAST como dos Trapnest. Anna Tsuchiya veste a pele de Nana Osaki e canta-nos todas as suas músicas.
Olivia veste, por sua vez, a pele de Reira e traz-nos faixas dos Trapnest como Recorded Butterflies e Shadow Love, que ouvimos nos episódios 18 e 32 respectivamente, bem como faixas inéditas que não são incluídas no anime.
Todas estas faixas são essenciais para compreender o que vai na alma dos personagens, o que contribui para vermos a sua humanidade em ação. É através delas que compreendemos que, apesar de tudo, Nana Osaki procura amor, assim como Hachi, mas de maneiras diferentes. É através delas que compreendemos Reira além da sua superficialidade, e que todas as personagens amam música por diferentes motivos, conseguindo comunicar através dela.
Fonte da capa: Pinterest
Artigo revisto por Matilde Gil
AUTORIA
Com interesses em várias áreas, a experimentação faz parte do currículo da Joana. Atualmente estudante de Publicidade e Marketing na Escola Superior de Comunicação Social, quer desenvolver o amor que tem pela escrita utilizando a Magazine como ponto de partida. Desde a música, passando pela política, filosofia e até ficção, são várias as áreas onde pretende deixar as suas palavras escritas.