“De Onde Venho, Para Onde Vou”: a nova programação do Doclisboa é uma reflexão sobre a vida e o futuro
O atual contexto pandémico que vivemos obrigou a organização do festival de cinema Doclisboa, que celebra 17 anos de existência, a adaptar-se às novas limitações. Do grande ecrã para os mais pequenos e acessíveis em qualquer lado, a 18ª edição do festival acolhe agora mais uma programação exclusivamente online.
Desde março de 2020 que o setor da cultura foi obrigado a reinventar-se completamente para poder continuar a funcionar – ainda que com várias restrições e um inegável impacto negativo – e o Doclisboa não foi exceção: a 18ª edição do festival, que teve início em outubro de 2020 e que decorrerá em seis momentos ao longo de seis meses, migrou para o online e tornou a experiência de um festival de cinema acessível a partir de casa.
“De Onde Venho, Para Onde Vou” é o nome da nova programação online, disponível a partir da meia noite de 11 de março, quinta-feira, e até dia 17 do mesmo mês. No mês que marca um ano desde o início da pandemia de Covid-19, o mote deste novo conjunto de sessões não podia ser mais simbólico: “De Onde Venho, Para Onde Vou” junta vários filmes que refletem sobre os momentos-chave da vida, as origens de cada um de nós, o encontro com a nossa identidade e a consciência de que o futuro reserva sempre algo de novo e um momento de viragem.
A programação é composta por 11 filmes, entre curtas e longas-metragens, e todas as sessões serão sucedidas por conversas com os realizadores.
Juste un Mouvement, realizado por Vicent Meessen |2020 | 1h51min
Interpretação livre de Vincent Meessen de La Chinoise, o filme de 1967 de Jean-Luc Godard é um “filme no processo de se fabricar” em Dacar.
É concebido como uma operação de remontagem do filme de Godard, redistribuindo os papéis e as personagens e atualizando o enredo – apesar de já não estar vivo, Omar Blondin Diop, o único verdadeiro estudante maoista no original, torna-se agora no protagonista.
Sessão de Q&A no dia 11, às 21h, com participação de Vincent Meessen e moderação de Miguel Ribeiro (Diretor do Doclisboa) e Victor Barros (Instituto de História Contemporânea da NOVA FCSH).
Le Temps Perdu, realizado por María Alvarez |2020 | 1h42min
Ao longo dos últimos 18 anos, um grupo de pessoas tem vindo a reunir-se num bar em Buenos Aires, para ler o mesmo livro uma e outra vez: Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Analisando as suas memórias e sentimentos com grande sentido de humor, o grupo confere ao romance um sentido novo e inesperado.
Me and The Cult Leader, realizado por Atsushi Sakahara | 2020 | 1h54min
Gravemente ferido durante o ataque terrorista no metro de Tóquio com gás sarin em 1995, perpetrado pelo culto apocalíptico Aum, o realizador embarca numa viagem íntima e exigente com um executivo do culto, Hiroshi Araki, para registar os caminhos de vida paralelos de uma vítima e de um agressor.
Sessão de Q&A no dia 13, às 22h, com participação de Atsushi Sakahara e moderação de Joana Sousa (Diretora do Doclisboa).
Picnic Free, realizado por Kevin Jerome Everson | 2020 | 12min
Um filme feito com material encontrado sobre um casal a desfrutar de um belo dia, longos passeios, uma arma de fogo, um cobertor, sexo e arte. Faz referência a The Picnic, filme do realizador de 2007.
Sessão de Q&A no dia 14, às 21h, com participação de Kevin Jerome Everson e Jim Finn e com moderação de Justin Jaeckle (Programador do Doclisboa).
Inventory, realizado por Kevin Jerome Everson | 2020 | 5min
Inventory baseia-se no clássico Inventory, de Želimir Žilnik. Uma rápida sucessão de soldados contam como chegaram à vida militar na 14ª Unidade de Comando da Base da Força Aérea de Colombo, no Mississipi.
Sessão de Q&A no dia 14, às 21h, com participação de Kevin Jerome Everson e Jim Finn e com moderação de Justin Jaeckle (Programador do Doclisboa).
Mockingbird, realizado por Kevin Jerome Everson | 2020 | 4min
Um filme sobre um observador de pássaros à procura do pássaro do estado do Mississipi.
Sessão de Q&A no dia 14, às 21h, com participação de Kevin Jerome Everson e Jim Finn e com moderação de Justin Jaeckle (Programador do Doclisboa).
The Annotated Field Guide of Ulysses S. Grant, realizado por Jim Finn | 2020 | 1h02min
Durante quatro anos, na década de 1860, metade dos EUA ficou refém de uma república supremacista branca não reconhecida.
Rodado em 16mm em parques militares nacionais, pântanos, florestas e nas zonas de expansão suburbana que atravessam antigos campos de batalha, o filme segue o caminho do general Grant na sua libertação do sul dos EUA.
Diário de viagem, filme ensaio e documentário de paisagem, vai da fronteira entre o Texas e o Luisiana a uma ilha prisão na costa de Nova Inglaterra. O som e a música inspiram-se nos filmes policiais dos anos 1970, para celebrar a destruição da Confederação.
Sessão de Q&A no dia 14, às 21h, com participação de Kevin Jerome Everson e Jim Finn e com moderação de Justin Jaeckle (Programador do Doclisboa).
Schlingensief – A Voice Shook the Silence, realizado por Bettina Bohler | 2020 | 2h06min
Os filmes, performances, instalações e produções provocadoras de teatro, televisão e ópera de Christoph Schlingensief moldaram o discurso cultural e político na Alemanha durante duas décadas antes da sua morte, em 2010, com apenas 49 anos. O filme procura documentar de forma exaustiva o vasto espetro da obra deste artista excecional, traçando o seu percurso de realizador púbere com uma sede de sangue artística a encenador revolucionário em Berlim e Beirute a, por fim, “artista nacional” alemão, supostamente venerado por todos e convidado a criar o Pavilhão da Alemanha para a Bienal de Veneza 2011.
Sessão de Q&A no dia 15, às 21h, com participação de Frieder Schlaich (Produtor de Schlingensief – A Voice Shook the Silence) e com moderação de Joana Sousa (Diretora do Doclisboa).
Swamp, realizado por Nancy Holt | 1971 | 6 min
Holt caminha por um sapal com a sua câmara Bolex. A sua visão restringe-se ao visor e baseia-se na navegação verbal de Smithson que caminha atrás dela.
As canas batem na câmara, as botas de borracha chiam a cada passo doloroso e a voz de Smithson torna-se cada vez mais insistente e um apoio. À medida que a vegetação ocupa o campo visual, a sensibilidade humana quanto à direção e à perspetiva desvanece. Segue-se um percurso visceral e caótico com os dois artistas a enfrentarem um labirinto espesso de vida vegetal e a debaterem-se com as limitações da sua própria percepção.
Homelands, realizado por Jelena Maksimovic | 2020 | 1h04min
Uma mulher jovem descobre a aldeia de montanha da avó, da qual ela fugiu durante a guerra civil grega. Aí depara-se com ruínas e esquecimento. O Verão fá‐la regressar à aldeia, assim como um sentimento de mudança iminente.
Sessão de Q&A no dia 16, às 21h, com participação de Jelena Maksimovic e com moderação de Miguel Ribeiro (Diretor do Doclisboa).
Medium, realizado por Edgardo Cozarinsky | 2020 | 1h13min
Uma pianista de 90 anos tem uma relação especial com Brahms cuja música toca desde o seu primeiro concerto. Ao mesmo tempo, vem participando em apresentações que combinam teatro e música de vanguarda, uma experiência que lhe proporciona uma nova abordagem à música clássica. As suas memórias de infância alimentam o seu trabalho criativo. Mantém contacto com alunos jovens e por via da sua amizade estes herdam a experiência completa de uma vida dedicada à música.
Um filme sobre música e o desejo de viver uma vida mais plena, velhice e juventude promissora e o poder duradouro da passagem de testemunho.
Cada sessão tem um custo de 2,50€, enquanto que o passe geral, que dá acesso a todas as sessões do programa, custa 14€: em ambos os casos, os filmes podem ser vistos em qualquer altura, entre os dias 11 e 17 de março, estando sujeitos a um limite de 300 espetadores. A programação “De Onde Venho, Para Onde Vou” do Doclisboa não fica por aqui e o festival irá anunciar, em breve, novas datas e filmes.
Artigo redigido por Madalena Guinote
Artigo corrigido por Inês Pinto
Fonte da imagem de destaque: Doclisboa
AUTORIA
Com 20 anos, Madalena, futura jornalista, já sabe há muito tempo que o seu futuro passa pela comunicação e é na escrita que se sente em casa. Mãe de três gatos, voluntária num abrigo de animais e fervorosa cozinheira amadora, ama dias de chuva e viagens de autocarro. É profissional da procrastinação e foi nas tardes passadas a ver filmes, para adiar o estudo, que surgiu a paixão pelo cinema.