O movimento feminista e os seus maiores momentos
Há muitas mulheres e muitos homens que se recusam a assumir como feministas. Isto acontece porque existe ainda um enorme estigma associado ao movimento e muita gente não sabe realmente aquilo que o feminismo defende. Ser feminista não é odiar homens, mas é ser defensor da igualdade de género!
Venho hoje mostrar-te algumas das maiores conquistas e alguns dos marcos mais importantes da luta das mulheres pelo movimento feminista, para, assim, poderes perceber melhor a causa e a sua história. Antes de avançar, vou explicar muito resumidamente as chamadas três ondas do feminismo: a primeira, que teve início no final do século XIX e se prolongou até meados do século XX, foi caracterizada principalmente pela reivindicação do direito ao voto e ao acesso igualitário à educação; a segunda onda, que teve início em meados do século XX e terminou na década de 1980, ficou marcada pela luta da sexualidade, do prazer feminino, dos direitos reprodutivos e da saúde da mulher, da violência contra a mulher e do trabalho doméstico não remunerado realizado pelas mulheres; a terceira onda, que começou na década de 1990 e perdura até hoje, aprofunda as questões da segunda onda, dando maior ênfase às mulheres de qualquer cor, etnia ou nacionalidade.
Agora que já resumi rapidamente as três grandes fases do feminismo, posso passar concretamente para aquilo que nos interessa: os momentos mais marcantes e as maiores conquistas do movimento!
A conquista do voto feminino
Até ao início do século XX, o voto era um direito exclusivo da população masculina. O movimento sufragista, que surgiu entre o fim do século XIX e o início do século XX, na primeira onda do movimento, veio reivindicar os direitos à vida política, nomeadamente o direito ao voto. Para além da luta pelo direito ao voto, durante a primeira onda as mulheres lutavam pelo direito à educação, à propriedade e ao divórcio.
Em 1893, a Nova Zelândia foi o primeiro país a reconhecer o voto feminino como legítimo. Este direito chegou a Portugal apenas em 1931, ainda que com elevadas restrições: só estavam elegíveis as mulheres que tivessem frequentado o ensino superior ou as chamadas “chefes de família”.
A criação da pílula anticoncecional
Hoje em dia, olhamos para a pílula como um hábito diário de engolir um comprimido que nos impede de engravidar. Mas a pílula é muito mais do que isso: a pílula foi um marco para a liberdade sexual da mulher! Liberdade esta que, por muito tempo, foi limitada – ainda hoje continua a ser, ainda que de forma diferente. Para a mulher, o sexo só deveria servia para procriar. Prazer? Era algo a que as mulheres não tinham direito. Isto não cabe na cabeça de ninguém: afinal, nós também gostamos de sexo!
Em 1961, a pílula começou a ser comercializada, o que veio dar uma nova liberdade à mulher, marcando um momento que trouxe autonomia sobre a sua própria vida. Agora, a mulher pode escolher se pode ou não engravidar.
A Queima dos Sutiãs
No dia 7 de setembro de 1968 realizou-se em Atlanta a eleição da Miss América cuja final foi transmitida pela televisão. Foi neste dia, no local onde a cerimónia se realizou, que um grupo de mulheres se juntou para protestar contra a imagem degradante que os concursos de beleza davam à mulher e então se deu o protesto da Queima dos Sutiãs.
Como sinal de protesto e de luta pela liberdade, as manifestantes tiraram a sua roupa interior e lançaram-na ao chão. Estas mulheres não queimaram literalmente os seus sutiãs (o que seria épico, vamos admitir!), mas os símbolos opressores, como pestanas postiças e revistas estereotipadas. Foram descartados numa pilha e a ideia dos sutiãs a serem queimados chamou a atenção da imprensa. O acontecimento fez os grandes títulos dos jornais e a América redescobriu o movimento feminista.
A luta pela legalização do aborto
O aborto é um tema que causa muita discórdia, mas era impossível falar do movimento feminista sem falar dele. Afinal, uma das premissas do feminismo é “My body, my choice“. Para as mulheres feministas, o direito ao aborto, a escolha de ter ou de não ter filhos e o livre exercício da sexualidade eram, e ainda são, requisitos básicos e necessários de justiça social e para a consolidação das democracias.
Esta é uma luta que continua até hoje, mas, felizmente, já são muitos os países que concedem este direito à mulher. Destaco os EUA, que em 1973 legalizou o aborto a todo o seu território nacional, e Portugal, que apenas legalizou a interrupção voluntária da gravidez em 2007.
Movimento #MeToo
O movimento Me Too surgiu em 2017 depois do escândalo que envolveu alegações de abuso sexual cometidas ao longo de anos contra mulheres pelo produtor de Hollywood Harvey Weinstein. Depois destas acusações, muitas outras mulheres ganharam coragem para falar e começaram a surgir várias acusações de assédio sexual contra pessoas poderosas em diferentes áreas e países. Assistimos a várias manifestações em diversos locais do mundo do movimento: foi, sem dúvida, um momento de união entre todas as mulheres. Afinal, infelizmente todas – ou quase todas – já passamos pela experiência traumatizante que é um assédio.
Para terminar, quero reforçar que o feminismo ainda é necessário. Continuamos a viver numa sociedade patriarcal onde o machismo tem ainda uma forte presença. Muitas de nós não se sentem seguras na rua e os comentários sobre o nosso corpo são constantes. A violência contra a mulher é um fenómeno ainda demasiado visto e corremos todas o perigo de sermos vítimas de abuso sexual. No entanto, já foram muitas as conquistas que foram atingidas. Muitas mulheres lutaram e sofreram consequências para agora podermos ter acesso à educação, ao voto, enfim, a direitos básicos a que qualquer pessoa deve ter acesso. Mas a luta ainda não acabou. A cada dia que passa, estamos mais perto de atingir a igualdade e juntas somos mais fortes.
Estamos unidas contra o machismo e a desigualdade – todo e qualquer tipo de desigualdade. Tenho orgulho em ser mulher e de olhar para trás e ver aquilo que fizeram por mim. Aquilo que fizeram por nós. Repito: ser feminista não é odiar homens nem algo que se pareça. Afinal, eu gosto de homens e sou feminista! 😉
Imagem de capa: Fala! Universidades
Artigo revisto por Adriana Alves
AUTORIA
Maluca por organização e stressada por natureza, é na escrita que a Mariana encontra o seu momento de tranquilidade. A verdade é que ela escreve e fala demasiado. Agora tem de conjugar a nova função de editora da secção de Moda da ESCS Magazine com o seu curso de Jornalismo enquanto ainda perde pelo menos uma hora do seu dia a tratar do seu cabelo – existem prioridades, por favor. Será a Mariana capaz de tal proeza? Esta futura jornalista de 19 anos está pronta para o desafio!