“Ferdinando” e as lições que nos ensina
O filme Ferdinando conta-nos a história de um doce touro cuja maior paixão são as flores e que abomina a ideia de algum dia entrar numa arena (eu sei, paradoxal). Aparentemente, é apenas mais um filme de animação para vermos com os nossos irmãos e primos mais novos, eu própria o achava, mas Ferdinando ensina-nos algo mais e passa uma mensagem muito bonita.
O filme conta com muita cor e animação, paisagens desenhadas ao pormenor e personagens do mais hilariante, começando na cabra Lupe e terminando nos três ouriços: Una, Dos e Cuatro.
Aviso: A partir daqui pode haver spoilers!
Todo o enredo se passa na Espanha. Quando Ferdinando percebe que o seu pai foi abatido numa tourada, este foge da quinta onde morava e encontra uma família que o adota, tornando-se num touro doméstico. É lá que Ferdinando cresce sempre repleto de amor e carinho. É um touro muito dócil e sensível e a sua predileção são flores, tal como já tinha referido, e neste ambiente familiar nunca foi julgado por isto.
Certo dia, devido a um equívoco, o gentil touro é tomado como perigoso, é capturado e posteriormente levado para a quinta onde nasceu, reencontrando todos os seus amigos de infância. Nesta quinta, os touros que lá viviam eram treinados para, um dia, serem mandados para uma arena, onde terminariam as suas vidas. No entanto, no seu entender, ser escolhido por um toureiro era sinal de bravura e de força e todos o queriam menos Ferdinando, que fazia de tudo para não ser notado. Por infortúnio, o único touro que não queria ter nada a ver com o assunto é o escolhido para participar no “espetáculo” de entretenimento e, sendo enorme tal como o seu pai, que era o melhor touro de Espanha, mesmo tendo oportunidade para magoar o toureiro que tanto mal já havia feito a outros animais, não o fez.
E é aqui que entram as lições dadas por este filme: Ferdinando, sendo um touro grande e robusto e ainda para mais filho do melhor touro de Espanha, sentia que todos esperavam que ele também fosse a grande estrela das arenas. Mas este era um touro dócil e amável, simpático para todos e amante da natureza. Isto mostra-nos que ninguém tem de ser aquilo que a nossa família e amigos esperam que sejamos, mas aquilo que nós queremos ser e é muito importante passar esta mensagem às nossas crianças desde cedo, para que nunca se sintam pressionadas e infelizes na sua própria pele. Infelizmente, ainda vivemos num mundo cheio de estereótipos e de preconceito e é algo que nós temos de combater todos os dias, sempre que consigamos, e ensinar os mais novos a fazê-lo também.
O filme também nos ensina que, por maior que seja o mal que nos façam, devemos sempre praticar o bem e nunca pagar na mesma moeda – e foi isso que Ferdinando fez quando teve oportunidade de magoar o toureiro e escolheu não o fazer. Como diz o ditado, devemos “fazer o bem sem olhar a quem”. Todo o bem que fazemos a nós retorna e, por mais injustiçados que nos sintamos, é essa filosofia que deve permanecer a fim de mantermos a paz na nossa mente e no nosso coração.
É ainda abordado o tema das touradas e da crueldade nelas praticada. É importante mostrar aos mais novos que todos os seres existentes no nosso planeta são relevantes e que não são menos importantes pelo facto de serem animais. Não é por não termos um touro como animal de estimação que este merece sofrer ou morrer aos olhos de todos por pura diversão. Magoar animais não é bonito nem divertido, tourada não é cultura: é um ato desumano. São estas pequenas mensagens que, pelo facto de nos serem transmitidas de uma forma tão bonita e descontraída, nos ficam na memória.
Por fim, recomendo muito a visualização do filme Ferdinando, especialmente em família, não só com os mais pequenos, mas também com os adultos que muitas vezes precisam de uma “chapada” da realidade. É o filme perfeito para um serão de sábado à tarde e garanto que não se vão arrepender de tirar um pouco do vosso tempo para o ver!
Classificação: 4 estrelas.
Artigo redigido por Filipa Amaro
Artigo revisto por Ana Rita Sebastião
Fonte da imagem de destaque: WallpaperAbyss
AUTORIA
Quase ingressou no curso de cinema aquando do início da sua jornada no ensino superior, porém, à última hora, decidiu que afinal queria enveredar pelo mundo do jornalismo. Veio da área dos números, mas após a sua entrada na ESCS Magazine - que tomou como um desafio - descobriu um gosto imenso pela escrita. Agora, enquanto editora da Secção de 7ª Arte, ambiciona proporcionar o conforto que sentiu quando entrou na Magazine a todos aqueles que, tal como ela, são apaixonados por cinema.