Mank: Uma alusão à sedução
Mank (2020) é uma das estrelas dos Óscares. É um filme biográfico e dramático, da autoria de David Fincher, que retrata a vida de Orson Welles em torno da produção do seu filme Citizen Kane (1941), na Era de Ouro do Cinema Americano.
O cenário a preto e branco aponta para uma monocromia sedutora que retrata não só um passado comemorado, como também o potencial do minimalismo estético. Esse apresenta-se ao longo da obra cinematográfica como um dos fatores que complementam a excelente atuação das personagens principais.
A origem da história
Por ser uma homenagem à ideia original do seu pai, Jack Fincher, o cineasta afirma que o projeto foi o mais pessoal da sua carreira, sendo ela marcada pelos sucessos de obras brilhantes como Fight Club (1999) e The Girl With The Dragon Tattoo (2011). Este ano, Mank lidera as indicações aos Óscares em dez categorias, desde Melhor Filme até Melhor Direção.
Com apenas vinte e quatro anos, Orson Welles é atraído para a Cidade dos Anjos pela empresa produtora e distribuidora de filmes RKO Pictures. O contrato forma-se quando o seu talento para contar histórias se torna visível. É-lhe dada autonomia para desenvolver a sua criatividade, sem qualquer exigência e supervisão. Pode elaborar qualquer filme, sobre qualquer tema, com os colaboradores que bem entende.
Assim, Welles (Tom Burke) dá origem à história de Charles Foster Kane: um cidadão pobre que se torna num dos homens mais ricos do mundo através da sua carreira profissional de empresário e jornalista. Para isso, colabora com o roteirista Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman) cuja alcunha era Mank. No seu percurso, Welles fortalece a sua relação com outras grandes figuras americanas da época, nomeadamente William Hearst (Charles Dance): o magnata que influenciou a indústria do jornalismo nos Estados Unidos.
Em Mank, a obra-prima da história do cinema intitulada Citizen Kane ganha uma nova vida. O filme conta também com a participação das atrizes Amanda Seyfried, na pele de Marion Davies, e Lily Collins num papel secundário.
A dramatização histórica
De modo a tornar o enredo mais interessante, o roteirista tende a dramatizar os factos reais. Essa situação acontece na obra do David Fincher. Entre as curiosidades geradas pelo filme, encontramos a dúvida sobre o papel de Herman J. Mankiewicz durante a Segunda Guerra Mundial.
Rita Alexander (Lily Collins) é informada pela empregada de que o seu patrão salvou uma aldeia de pessoas da opressão da Alemanha Nazi, autorizando a sua emigração para os Estados Unidos. É verdade que Mankiewicz ajudou mais de cem judeus, legalmente e financeiramente. Contudo, é impossível negar o embelezamento dos fatos para fins dramáticos. Uma parte do conto é falsa, sendo que foi confirmado que Mank nunca conheceu uma funcionária chamada Fräulein Frieda (Monika Gossmann).
A sedução cinematográfica
Apesar das contradições, Mank é um belo filme em diferentes níveis: um clássico retratando outro clássico. Tanto é uma celebração da verdade na história do cinema, como uma carta de amor aos roteiristas do passado. Simultaneamente, reflete a força perante certos desafios sociais e a vulnerabilidade de ambos os géneros – Mank, como homem, enfrenta problemas de álcool enquanto alimenta o seu talento, e Marion, como mulher, é símbolo da sensibilidade.
David Fincher revela a história dos bastidores de Citizen Kane num filme lançado pela Netflix em Dezembro de 2020. Atualmente, encontra-se disponível na mesma plataforma de streaming. As críticas são essencialmente positivas, sendo que o design de produção e as atuações de Oldman e Seyfried são dois dos aspetos mais elogiados. Em poucas palavras, Mank é uma alusão intemporal à sedução do cinema americano.
Artigo redigido por Marília Lúcia
Artigo revisto por Miguel Tomás
Fonte da imagem de destaque: IndieWire
AUTORIA
Aspirante a jornalista, nasceu no coração da Europa e foi laureada com o diploma do European Baccalaureate. O amor pela escrita está sempre presente na sua vida, sob a forma de diários de viagem e artigos de opinião. Sonha em ser redatora, vive da curiosidade e da criatividade. Desde nova, dedica-se a experiências que abrem os horizontes do seu mundo pessoal e profissional.